Autor: Lusa/AO online
Na próxima semana, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), com sede em Roma, acolhe a reunião do Comité de Segurança Alimentar (CFS) constituído por outras agências da ONU, especialistas e representantes da sociedade civil.
De acordo com as últimas previsões da FAO, 870 milhões de pessoas não conseguem matar a fome, apesar deste número estar a recuar (1.000 milhões entre 1990-1992) mas é "muito alto", afirmou o diretor-geral desta organização, José Graziano da Silva.
A crise alimentar temida este verão com a seca que atingiu os Estados Unidos, um grande produtor mundial de cereais, não chegou a acontecer, mas a tensão continua e os preços nos mercados internacionais estão elevadíssimos, depois da descida das previsões noutros grandes produtores, caso da Rússia, União Europeia e da região do Mar Negro.
"Os preços dos alimentos são muito voláteis e perigosamente altos", disse o relator especial da ONU sobre o Direito à Alimentação, Olivier De Schutter, que pediu “uma resposta imediata" para estabilizar os preços.
Neste contexto, os ministros e delegados de alto nível que são esperados na terça-feira, em Roma, bem como o ministro da Agricultura francês, Stéphane Le Foll, deverão refletir sobre os meios para controlar o jogo dos mercados.
"Pelo menos 36 ministros", disse uma fonte francesa, incluindo da Rússia, Coreia do Sul, Japão, Brasil, Bangladesh, Filipinas, Camarões, mas também da Alemanha, Itália e do Reino Unido confirmaram a participação.
Os Estados Unidos estarão representados a "alto nível", disse a mesma fonte, adiantando que três temas fundamentais vão ser abordados: "a transparência do mercado, os meios para limitar a volatilidade dos preços e a possibilidade da criação e gestão de 'stocks' pré-posicionados nos países mais vulneráveis".
França pretendia realizar um "G20 para a agricultura", com os ministros da tutela das 20 mais poderosas economias do mundo, e defendeu uma reunião do Fórum de Resposta Rápida (FIR) para refletir sobre os 'stocks' de reservas.
A FRR foi criada em 2011 na cimeira do G20, em Cannes (sul de França), após a crise de 2007-2008, devido à subida dos preços mundiais dos cereias, tendo como missão ajudar a coordenar a resposta internacional à ameaça da crise alimentar.
Mas a ONU recebeu a sugestão com prudência: "Não se deve criar o pânico enviando sinais errados", destacou a FAO.
"Estas políticas devem ser concebidas com antecedência e não podem ser ditadas por circunstâncias de curto prazo", respondeu também Olivier De Schutter.
"Crise, de facto, não há. Mas os 'stocks' de reservas estão em níveis historicamente baixos para o milho e são apenas necessários para o trigo", de acordo com o departamento de Agricultura norte-americano.
Em termos de seca, a Austrália é um dos países afetados e a "incerteza vai durar" no hemisfério sul, de acordo com um especialista francês.
Nos países desenvolvidos (Estados Unidos e União Europeia), as culturas estão a cair quase 10 por cento.
Por isso, a FAO apoia a existência de verbas que possam ser destinadas aos países mais pobres e que estão em risco.