Açoriano Oriental
Comerciantes dizem que encerramento de ruas afastou clientes da baixa de Ponta Delgada

Na manhã desta quinta-feira, várias pessoas circulavam pelo centro de Ponta Delgada, mas longe das enchentes de outros anos por altura Natal, levando os comerciantes a criticar o encerramento de ruas que, dizem, afastou os clientes da baixa.

Comerciantes dizem que encerramento de ruas afastou clientes da baixa de Ponta Delgada

Autor: Lusa/AO Online

Quando a manhã já caminhava para o fim, a praça principal de Ponta Delgada reuniu centenas de crianças que entoaram cânticos de Natal com as Portas da Cidade como pano de fundo.

A coordenadora da atividade, Manuela Ponte, explicou à Lusa que a Escola Básica da Matriz decidiu juntar as 214 crianças da instituição, mais as famílias, para realizar uma atividade de Natal “num espaço aberto”.

“Natal sem festa e sem crianças não é Natal. Nós só estamos aqui porque tomamos a iniciativa de fazer a cantata e vir à cidade. Não foi ninguém que nos convidou. Nós é que nos oferecemos”, assinalou.

As crianças encheram a praça central de Ponta Delgada, mas nas, restantes ruas, o movimento era menor. Apesar de não existirem ruas desertas, a afluência de pessoas era inferior à registada em anos anteriores à pandemia da Covid-19.

“As vendas até a 08 de dezembro estavam muito bem. A partir de dia 09, quando fecharam o centro histórico ao trânsito, isto caiu a pique. Senti essa diferença. Posso provar essa diferença. Neste momento, estamos a vender menos do que o ano passado, que foi um ano de pandemia”, afirmou à Lusa Sónia Sousa, gerente da sapataria Elegantastral.

A 03 de dezembro, foi anunciado que, de 09 de dezembro até 02 de janeiro de 2022, a circulação automóvel estaria interditada em várias ruas do centro histórico de Ponta Delgada, tendo sido disponibilizados três autocarros gratuitos para fazer a ligação, aos sábados, entre os parques de estacionamento e o centro da maior cidade açoriana.

Na sequência dessa decisão, um grupo de 50 comerciantes do centro de Ponta Delgada entregou à Câmara Municipal um abaixo-assinado a pedir a “reabertura imediata” das ruas encerradas ao trânsito no período festivo.

“Este ano, que a pandemia estava mais ou menos controlada, a Câmara Municipal é que nos está a complicar a vida. Já deviam ter voltado atrás. Isso não é altura para fazer experiências. Esta experiência quem a vai pagar são os comerciantes”, acrescentou Sónia Sousa.

Em frente à sapataria, um dos responsáveis da loja de roupa masculina Londrina, Tiago Sá, registou que as “vendas estão a correr bem”, mas disse ter a perceção de que o negócio estaria “ainda melhor” caso as ruas estivessem abertas à circulação automóvel.

“Com as ruas fechadas, supostamente era para trazer mais gente e mais pessoas, mas não é isso que se reflete. Nós aqui temos muitas horas mortas e menos agitação do que antes. Vê-se menos gente”, apontou Tiago Sá.

A passear pela ‘baixa’ da cidade com vários sacos, Flávia Ferreira disse ser uma “tradição” fazer as compras no comércio tradicional e defendeu a medida implementada pelo município.

“Acho muito bem fecharem ao trânsito porque assim as pessoas podem circular à vontade e têm mais espaço. As pessoas ficam mais à vontade para passear e ver as montras”, apontou.

Também Natália Farias, que decidiu fazer compras no centro da cidade porque é “mais seguro” e “ao ar livre” devido à Covid-19, concordou com o encerramento das ruas ao trânsito, “desde de que seja apenas nesta altura do Natal”.

A empresária Fernanda Ferreira, da Loja Imprevisível, dedicada ao vestuário feminino, afirmou que o fecho ao trânsito provocou uma diminuição das vendas e mostrou-se com “esperança” de que a Câmara Municipal “volte atrás na decisão”.

“As vendas desde o dia 08 de dezembro diminuíram. Sinto mesmo essa diferença: as ruas vazias e as vendas caíram. A medida de fechar as ruas foi negativa. Isso vai ter um fecho muito triste”, apontou.

Também Ana Medeiros, da Mondo Bambino, que comercializa brinquedos, considerou necessário arranjar “mais atrativos e mais animação” porque a “cidade está mais vazia”.

“Não estamos mal em termos de negócio, não. Mas nesta altura tínhamos a loja cheia, mal respirávamos. Notamos a cidade mais vazia e houve uma diferença após o fecho do trânsito. Sentimos essa diferença, mas podia ser pior”, declarou.

Renato Moniz, da Loja Rosa Nicole Decorações, disse que o “negócio está muito melhor do que no ano passado, mas muito inferior do que há dois anos” e considerou “urgente” resolver o “problema de estacionamento” do centro da cidade.

“Notam-se menos pessoas a circular. É o eterno problema de Ponta Delgada: o comércio do centro histórico tem de ter uma outra atenção das entidades governamentais quanto ao estacionamento. Fecharam-se ruas, mas não se criaram novos estacionamentos”, assinalou.

Ainda assim, o empresário definiu como “maior problema” os “transportes” de mercadorias, revelando que tem “40 caixas de Natal em trânsito” para chegar à ilha.

O gerente da Taberna Açor, Pedro Raposo, mostrou-se confiante para esta quadra festiva, uma vez que tem “muitas reservas” e “jantares de empresas”. O empresário defendeu também o encerramento das ruas, que vai permitir aumentar a esplanada do restaurante.

“Acho que vou ao contrário da maioria. Tenho pensado muito sobre isso. Acho que vale a pena porque não existe o perigo do carro e as pessoas circulam mais à vontade. As pessoas estão é à larga e sem carros, o que parece ter menos gente”, afirmou.

As alterações ao trânsito também condicionaram a vida dos taxistas, localizados na praça central da cidade. Tiago Gaudêncio, taxista há seis anos, considerou a medida prejudicial para “toda a gente”.

“Isso está muito complicado para nós taxistas porque junta-se tudo na Avenida [Marginal]. Vamos fazer um serviço e leva-se mais tempo para chegar porque o trânsito não circula. Essas ruas que foram fechadas aliviavam o trânsito da Avenida. O trânsito aumentou e há menos gente na cidade”, atirou.


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