Açoriano Oriental
Começam a faltar desculpas para a fraca prestação portuguesa
Uma das maiores comitivas de sempre de Portugal a uns Jogos Olímpicos e a que maior expectativa criou junto dos portugueses ameaça tornar-se numa das piores prestações e com algumas das desculpas a roçar... o indesculpável.
Começam a faltar desculpas para a fraca prestação portuguesa

Autor: Lusa / AO Online
    "De manhã só é bom é na caminha", foi a frase, infeliz, escolhida pelo lançador do peso Marco Fortes para justificar a eliminação e, sobretudo, a má prestação na sua prova, já que ficou bastante longe do seu próprio recorde nacional (20,13) da disciplina, ao lançar a 18,05 metros.

    A frase de Fortes foi apenas mais uma e talvez a que mais tenha destoado no rol de desculpas que alguns dos atletas eliminados precocemente utilizaram para justificar as suas prestações menos positivas.

    Após ter conseguido um feito que milhares de atletas perseguem ao longo de penosos quatro anos, Vânia Silva desculpou o seu 46º lugar no martelo com o facto de... não se dar com grandes competições.

    "Estava bem, fiz o aquecimento bem. A única explicação é que, infelizmente, não sou muito dada a este tipo de competições. Em campeonatos da Europa, campeonatos do Mundo e Jogos Olímpicos, o melhor que fiz foi 63 metros nos últimos Jogos", lamentou no final a atleta.

    "Tareiazinha" e "banhozinho" foram algumas das expressões escolhidas por Arnaldo Abrantes para dizer que aprendeu com estes Jogos e que já partirá para as próximas competições com a lição aprendida, depois de ter "bloqueado" com a imagem do Estádio Nacional de Pequim cheio.

    Também curiosa foi a desculpa do cavaleiro Miguel Ralão Duarte, que, montando Oxallys da Meia Lua, disse que desistiu da prova de "dressage" no hipismo devido ao medo que a égua mostrou do ecrã instalado no recinto.

    "Fizemos um aquecimento muito bom, estávamos os dois muito descontraídos, mas, quando entrei no recinto, percebi logo que a égua estava com medo", disse Ralão Duarte, justificando ainda que a "dressage" é uma disciplina que não depende só dos cavaleiros, mas também de animais com vontade própria.

    Uma das modalidades que chegou a Pequim com expectativas elevadas e acabou por desiludir foi o judo, mas, apesar dos resultados terem ficado aquém das ambições, o que ressaltou foram algumas críticas às arbitragens.

    "Não tivemos uma competição justa. Lutei um pouco contra os árbitros. Saí com vontade de rir. Pensei que estava a lutar contra quatro pessoas. Mas nem quero dar isso como desculpa. Quando estamos num dia para ganhar, entramos e projectamos a outra pessoa por ippon se for preciso, mesmo que os árbitros não estejam a ajudar", disse Telma Monteiro, a maior esperança de medalha no judo, mas que acabou por ter de se contentar com o nono posto.

    Outros atletas preferiram justificar os maus resultados com a falta de apoios ou de condições de treino.

    Esse foi o caso de Gustavo Lima, que se queixou da falta de condições de treino e de que se encontraria em Pequim sem treinador, embora a comitiva da vela tenha integrado Gonçalo Carvalho, treinador da classe Laser.

    Depois de ter elogiado o comportamento dos seus companheiros no triatlo, Vanessa Fernandes, que conquistou a medalha de prata, e única para Portugal, nos presentes Jogos, classificou de "patética" a desculpabilização de alguns atletas portugueses.

    "Acho que falta (atitude). Falta mesmo. Terem um pouco a consciência do que é um evento como estes. Isto tem de vir mesmo do coração e não sinto muita gente a vir (para os Jogos) com isso cá dentro. Vêm cá e... pronto. Olha está feito. Aqui tens de competir a fundo, mas isso é que é difícil", atirou.

    A vice-campeã olímpica criticou a atitude dos atletas que tentam justificar as suas prestações com factores exteriores.

    "Como não assumem a responsabilidade deles, começam a julgar coisas exteriores. A desculpar-se ou a criticar alguém ou alguma coisa. É patético. É a pior coisa que um atleta pode fazer", sublinhou.

    Quem não se refugiou em desculpas foi o velocista Francis Obikwelu, medalha de prata em Atenas2004 nos 100 metros e que apostava forte na mesma distância em Pequim.

    "Agradeço a todos, porque estiveram a ver-me na televisão, e peço desculpa. Eu estou a ganhar dinheiro porque o povo português está a pagar para eu estar aqui e não consegui chegar à final. Este é o meu trabalho e queria pelo menos dar uma final aos portugueses", afirmou Obikwelu, pouco depois de ter falhado o apuramento para a final da prova.

    A prestação menos conseguida dos atletas portugueses já provocou alguns danos, tendo o presidente do Comité Olímpico de Portugal, Vicente Moura, já anunciado que não pretende se recandidatar devido a ter falhado o objectivo que delineou para os jogos: três a quatro medalhas e 60 pontos.
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