Açoriano Oriental
Calçado ganha vida nova na ilha do Pico

André Barreto Costa, natural das Lajes do Pico, foi estudar para a capital portuguesa. Ingressou, primeiramente, no curso de Biologia e depois mudou para Gestão Turística mas acabou por desistir por não ser aquela a área que o preenchia. Há algum tempo, decidiu recuperar o seu calçado e descobriu um gosto enorme pela atividade. Assim nasceu a A.C.Kicks.


Autor: Célia Machado/AO Online

Passados vários meses, quase não tem mãos a medir, tal é o número de solicitações para que restaure sapatos e até personalize ténis. O empreendedor de 30 anos fala das mais-valias deste serviço numa sociedade tão consumista e dos projetos futuros.


Que serviços são estes que estás a disponibilizar?

Dedico-me ao restauro de sapatos, com maior expressão para os ténis. Trata-se de um trabalho, o mais possível, artesanal, feito à mão, o que me permite melhor preservar e salvaguardar a integridade dos sapatos, a sua imagem e o seu design originais. Neste momento, fruto de alguma experiência e evolução técnica, posso também fazer intervenções ao nível da customização de sapatos, o que significa introduzir elementos decorativos e ornamentais personalizados no calçado, ao gosto do cliente. Há, igualmente, a possibilidade de fazê-lo, com a autorização do cliente, de acordo com a minha visão estética e criativa. Todo este processo é dinâmico, porque se faz em permanente evolução e aperfeiçoamento, tendo sempre o cliente como o centro de todas as atenções.

Há imensas vantagens deste serviço para o ambiente e a economia. Este é também um aspeto muito importante para o desenvolvimento do meu projeto. Numa sociedade ferozmente consumista, é preciso desenvolver, não com palavras, mas na prática, ações concretas e verdadeiramente amigas e defensoras da sustentabilidade ecológica, da racionalidade económica e da poupança. O meu trabalho responde a essas minhas preocupações. É um pequeno contributo, mas, para mim, é muito importante, porque se enquadra nas preocupações urgentes deste novo mundo.

Como surgiu a ideia de enveredar por este ofício?

Não foi repentinamente. Tenho um gosto particular e muito especial por sapatos, ao nível da funcionalidade, do conforto, do processo de construção e fabrico, do design e da imagem que os sapatos dão às pessoas. Tenho um lema relativamente a este assunto. Há duas coisas na vida, a nível material, que uma pessoa deve investir; por outras palavras, onde as pessoas não devem poupar: uma boa cama e uns bons sapatos. A qualidade de vida e de saúde das pessoas passa muito pela qualidade destas duas coisas, até porque, habitualmente, quando tiramos os sapatos vamos para a cama e quando saímos da cama calçamos os sapatos.

Este meu gosto e interesse por calçado fez-me tomar uma decisão. Lembrei-me de limpar o meu guarda-roupa. Ao fazê-lo, deparei-me com vários pares de sapatos que estavam sujos e deteriorados pela falta de uso, mas que podiam ser reabilitados e reaproveitados. Este episódio despertou em mim um interesse muito forte em aprofundar, com caráter científico e técnico, o conhecimento e as técnicas associadas ao restauro e à limpeza de sapatos. Passei horas e horas a fio a estudar, a investigar e a aprender, com recurso à internet. As competências adquiridas permitiram-me restaurar, com êxito, todos os meus sapatos e outros de familiares. Os resultados foram bons e a experiência inicial foi decisiva; deu-me prazer e felicidade. Descobri que era aquilo que gostava de fazer, percebi que tinha gosto e jeito para levar por diante um projeto destes. Desenvolvi rapidamente uma paixão por esta atividade.

É em "part-time" ou um trabalho a tempo inteiro?

Este mês, assumi este trabalho a tempo inteiro. Vamos ver como as coisas evoluem, sem precipitações e com sentido de responsabilidade.

Como tem sido a aceitação?

A aceitação tem sido, claramente, muito acima das expetativas. Tenho sentido o apoio da comunidade, da família e dos amigos. Até agora, o reconhecimento dos clientes, relativamente à qualidade e à seriedade do meu trabalho, tem sido muito positivo e favorável. Agradeço-lhes o seu apoio e o seu estímulo. Sem eles o projeto deixa de existir.

Trabalhas onde?

Trabalho em casa, numa oficina improvisada, nas Lajes do Pico.

Aceitas apenas clientes do Pico?

Nesta fase, sim. Planeio, se o projeto se consolidar, alargar este serviço a outras ilhas dos Açores.

Qual o teu percurso académico/profissional até chegares aqui?

Tenho o Ensino Secundário. Frequentei, em Lisboa, a Universidade, mas não me adaptei. No entanto, essa experiência de vida, numa grande cidade, revelou-se muito importante. Deu-me outra abertura, outros conhecimentos, uma outra visão do mundo, que acabam por ser decisivos para a minha vida e para a construção deste projeto.

Que projetos tens, quer seja nesta como noutras áreas?

Nesta área, o meu objetivo é abrir uma oficina minha, em local próprio, com as condições exigíveis. Futuramente, tenho em vista alargar a minha área de intervenção no domínio do restauro para malas e casacos, em couro, e até confecionar calçado.








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