Açoriano Oriental
Cabrita diz ser "inusitado" pessoa no meio da via no atropelamento mortal na A6

O antigo ministro Eduardo Cabrita considerou em tribunal que o que houve de “inusitado” no atropelamento mortal de um trabalhador na A6, perto de Évora, “foi haver uma pessoa no meio de autoestrada”

Cabrita diz ser "inusitado" pessoa no meio da via no atropelamento mortal na A6

Autor: Lusa/AO Online

“Penaliza-me tremendamente que a morte de Nuno Santos [o trabalhador que morreu] tenha marcado este acidente rodoviário, mas o que há de inusitado, de tantas viagens que fiz, foi haver uma pessoa no meio de autoestrada”, afirmou.

Eduardo Cabrita foi ouvido no Tribunal de Évora como testemunha no julgamento do seu ex-motorista Marco Pontes, que responde pelo crime de homicídio por negligência grosseira pelo atropelamento mortal de um trabalhador na Autoestrada 6 (A6), em 2021.

O antigo governante começou por relatar o que aconteceu, salientando que, durante a viagem de regresso a Lisboa após uma deslocação a Portalegre, conversava com o seu adjunto, respondia a mensagens e chamadas e não olhava para a estrada.

“Só me apercebi que havia algo de anómalo quando o motorista e o tenente-coronel Paulo Machado [o oficial de ligação da GNR no ministério], a falar alto, [disseram] ‘o que é isto’ e, muito em cima, apercebi-me de uma pessoa no meio da via”, descreveu.

Segundo o ex-ministro da Administração Interna, o carro que o transportava e que era conduzido por Marco Pontes deu “uma guinada para o lado direito” e travou, mas não conseguiu evitar o embate, “do lado esquerdo” da viatura, com o peão.

“É inusitado ver uma pessoa a meio da estrada, numa autoestrada que não estava fechada ao trânsito nem estava limitada”, reafirmou.

Questionada pela procuradora do Ministério Público (MP), esta testemunha respondeu não ter a noção da faixa em que seguia o veículo nem da velocidade a que seguia, admitindo saber agora, após consultar o processo, que o carro vinha da faixa da esquerda.

Em relação aos veículos que transportam governantes, Cabrita esclareceu que “o responsável pela condução é o motorista” e que se cumprem as regras, notando que sempre que fosse preciso cumprir um horário avisava o condutor, o que “aqui não aconteceu”.

Sobre a sinalização de trabalhos na via, o ex-ministro referiu que na zona do acidente não observou qualquer sinal e que, quando já estava a sair do local num outro carro da comitiva, é que viu “uma carrinha de obras parada umas centenas de metros adiante”.

“Em mais de 10 anos nunca tive um acidente na estrada”, afirmou, referindo-se ao período em que ocupou cargos governativos.

Cabrita revelou que conheceu Marco Pontes na altura em que foi secretário de Estado da Administração Local, cargo que ocupou entre 2005 e 2009, reconhecendo que foi o motorista que mais vezes o conduziu, enquanto foi ministro da Administração Interna.

“Nunca houve sequer um toque de chapa ao longo de seis anos até este trágico acidente”, frisou, apontando-lhe “absoluta segurança na forma como conduz” e também qualidades pessoais.

À saída do tribunal, o antigo governante limitou-se a dizer aos jornalistas que, com este depoimento, fez “aquilo que cabe às testemunhas fazer num processo, que é contribuir para o apuramento da verdade”.

O caso remonta a 18 de junho de 2021, quando a viatura oficial em que seguia Eduardo Cabrita, conduzida por Marco Pontes, atropelou mortalmente Nuno Santos, de 43 anos, trabalhador de uma empresa que fazia a manutenção da A6, ao quilómetro 77,6 da via, no sentido Estremoz-Évora.

O Ministério Público acusou, no dia 03 de dezembro de 2021, Marco Pontes de homicídio por negligência, tendo, nesse mesmo dia, o então ministro da Administração Interna apresentado a sua demissão do cargo.


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