Açoriano Oriental
Cabo-verdianos são a maior comunidade imigrante
Dos cerca de 5500 imigrantes a residir nos Açores, a comunidade cabo-verdiana é a mais numerosa, com 961 pessoas integradas na sociedade, que se debatem, principalmente, com dificuldades na aquisição de habitação, revela um estudo divulgado.
Cabo-verdianos são a maior comunidade imigrante

Autor: Lusa / AO online
Da autoria do sociólogo Paulo Mendes, o estudo "Ponte Insular - A Comunidade Cabo-Verdiana nos Açores", a que a agência Lusa teve acesso, revela que 37,3 por cento trabalha na construção civil, 23,7 por cento na pesca, 11,9 por cento na restauração, 6,8 no sector administrativo.

A comunidade cabo-verdiana está distribuída, maioritariamente, pelas ilhas do Pico, Faial, Terceira e São Miguel.

Os dados apurados a partir de um inquérito realizado em algumas ilhas açorianas demonstram que a oportunidade de emprego e o reagrupamento familiar constituem as razões que determinaram a ida dos cabo-verdianos para os Açores, "a mais antiga e numerosa" comunidade no arquipélago.

Registou-se um momento a partir de 1974 e até 1990, com o recrutamento de trabalhadores para ingressarem na actividade piscatória na região, uma comunidade proveniente da ilha de São Nicolau, na sua maioria homens com baixas qualificações escolares.

Mas, a partir de 2000, o movimento é muito maior, relacionado com o desenvolvimento económico da região e reconstrução nas ilhas do Grupo Central, na sequência do sismo de 1998, com recrutamento de grupos de trabalhadores cabo-verdianos para a construção civil", salientou Paulo Mendes.

Apesar de a questão laboral ser o principal motivo, Paulo Mendes, que preside à Associação dos Imigrantes nos Açores (AIPA), disse à Lusa que uma parte dos inquiridos admite ter vindo para os Açores para prosseguir estudos, sobretudo jovens que pretendem completar a sua formação na Universidade dos Açores ou em Escolas de Formação Profissional, "realidade que começou a partir de 1997".

Praticamente metade dos cabo-verdianos residentes na região é portadora do título de autorização de residência (47,3 por cento) e cerca de 27 por cento detentora da dupla nacionalidade (portuguesa e cabo-verdiana).

Segundo o estudo, elaborado a partir da dissertação apresentada da licenciatura de Sociologia, 82,4 por cento da população exerce uma actividade profissional e 5,9 por cento encontra-se no desemprego, com as mulheres cabo-verdianas a apresentarem um índice de actividade mais baixo do que os homens.

No que se refere às condições de exercício da actividade profissional, 88,8 por cento da população inquirida afirmou que desconta para a Segurança Social, contra 10 por cento que não o fazem.

Já em relação ao seguro de saúde associado à sua actividade profissional, a maioria dos inquiridos revelou não o ter (76,3 por cento), contra 23,7 que responderam positivamente, precisou o autor do estudo.

"A inexistência quase generalizada de vínculos contratuais formais, no exercício da actividade profissional ou a sua concretização apenas a título temporário, constituem outro elemento caracterizador dos imigrantes cabo-verdianos nos Açores, situação que pensamos ser generalizadora para as restantes comunidades", frisou o sociólogo.

Sessenta e cinco por cento dos inquiridos afirmaram que não sentem actualmente dificuldades na integração, mas 12 por cento apontam a habitação como a principal dificuldade, seguindo-se a regularização e a discriminação, ambas com 4,5 por cento.

"A maior parte desta comunidade exerce actividades em profissões com baixas remunerações, o que tem implicação na aquisição de uma casa", constatou Paulo Mendes, acrescentando que o estudo permitiu, ainda, aferir uma baixa participação dos cabo-verdianos em organizações e associações sociais, principalmente em organizações políticas.

O autor do estudo avançou, também, que 37,3 por cento dos inquiridos pensam regressar definitivamente a Cabo Verde, 40,6 por cento evidenciaram que querem ficar por mais algum tempo nos Açores, enquanto que cerca de 11 por cento admitem que pretendem ficar definitivamente nas ilhas.

"Trata-se de uma comunidade que tem fortes relações com os locais e está integrada", realçou o sociólogo, acrescentando que os cabo-verdianos, em comparação com outras comunidades de migrantes presentes na região, "beneficia do tempo de permanência no arquipélago e das ligações e afinidades" existentes entre os Açores e Cabo Verde.

A obra "Ponte Insular - A Comunidade Cabo-Verdiana nos Açores" é apresentada quinta-feira em Angra do Heroísmo, ilha Terceira, no âmbito do Congresso Internacional sobre a Igualdade de Oportunidades, organizado pela secretaria regional dos Assuntos Sociais, inserido no ano Europeu de Igualdade de Oportunidades.

Publicado pelas edições Macaronésia, com o apoio das direcções regionais das Comunidades, Solidariedade e Segurança Social, e do Trabalho e Qualificação Profissional, é lançada também dia 21 de Novembro, em Ponta Delgada, ilha de São Miguel.
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