Açoriano Oriental
Biblioteca de Angra comemora os 75 anos de Álamo de Oliveira

‘O meu coração é assim – 75 anos de Álamo de Oliveira’, em exposição até ao próximo mês de novembro, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro (BPARLSR), assinala os três quartos de século de vida do autor terceirense.




Autor: Cátia Carvalho/AO Online

O roteiro biobibliográfico que comemora os 75 anos do percurso de vida de Álamo de Oliveira, programado inicialmente para o mês de maio e adiado posteriormente para julho devido à pandemia “resgata o que de melhor os Açores produziram continuamente, sem pousio” escreveu Cláudia Cardoso, diretora da BPARLSR, no catálogo da exposição.

O autor terceirense que “agrega uma multiplicidade de talentos rara de encontrar” nasceu em 1945 na freguesia do Raminho e é autor de 34 títulos publicados, entre poesia, romance, conto, teatro e ensaio.

Considerado um “exímio executante da palavra”, a vida e obra de Álamo de Oliveira não podem ser dissociadas nem do Seminário de Angra, onde se formou, nem da Guiné-Bissau onde cumpriu o serviço militar. O autor foi também fundador do grupo de teatro “Alpendre” e coordenou dois suplementos: ‘Quarto Crescente’ no jornal A União e ‘Vento Norte’ no Insular.

Cláudio Cardoso sublinhou, no texto que escreveu a respeito da exposição, que “a biblioteca pública não poderia deixar de estar associada a esta celebração” e que “Álamo de Oliveira é uma figura ímpar da cultura açoriana, a quem todos devemos muito. Mesmo quem não o suspeite, sequer. Mesmo quem não desconfie que, nas páginas de ‘Já não gosto de chocolates’ mora a história de grande parte dos que partiram na vaga imensa de emigração açoriana. Ou mesmo quem não saiba que ‘Até hoje. Memórias de cão’ resgata as vivências da guerra colonial com que uma geração de açorianos foi obrigada a lidar”.

Numa entrevista concedida à Azores TV, Álamo de Oliveira contou que na altura em que começou a escrever “o menos que faltava era gente a escrever a favor do sistema. Portanto, o que interessava era criar alguma oposição em termos de escrita que pusesse as pessoas a refletirem um bocadinho sobre a sua real situação política e social. Se não fosse essa utilidade política e social da escrita, nesse tempo, acho que não valeria a pena escrever”, acrescentando que “tive muito gosto em pertencer a essa geração de gente que foi capaz de enfrentar um pouco a força e o poder”.

O autor revelou ainda que a emigração foi um dos temas que mais o traumatizou, “a minha família foi toda para fora, numa casa de 7 pessoas de repente éramos 3, o resto foi-se tudo embora e mesmo assim as que ficaram, ficaram por pouco tempo” assumindo que “a emigração foi sempre de facto um problema, foi sempre uma luta muita grande, aliás, toda a minha escrita, no princípio reflete isso, reflete mais isso do que outra coisa qualquer. As minhas peças de teatro a mesma coisa. A emigração foi sempre essa espécie de pesadelo que me perturbou”.

Para Álamo de Oliveira “foi muito importante ver depois como é que eles se foram realizando nessas terras estranhas, como é que gente que mal sabia ler e escrever e não dizia uma palavra em inglês chega aquelas terra e dali a menos de um ano está a desenrascar-se perfeitamente. Lá pelo menos conseguem uma coisa fantástica que é chegar a casa, abrir o frigorífico e terem tudo quanto precisam para se alimentarem, uma coisa que aqui às vezes não havia e digo isto a começar pela minha casa”.

Na mesma entrevista, Cláudia Cardoso destacou o facto da exposição ter o próprio autor como curador, “normalmente as exposições que se fazem não são sobre pessoas que estão entre nós e isto limita, de certa forma passa a ser a interpretação de quem estuda e de quem recolhe o material. Neste caso, nós tivemos a grande ajuda do próprio escritor e, portanto, ele foi ao mesmo tempo o homenageado e o curador da sua exposição e assim foi possível ter acesso a inéditos não publicados do autor e a outras curiosidades que de outra forma não teríamos se apenas tivéssemos acesso ao espólio”.

A exposição, inaugurada em formato vídeo, encontra-se disponível fisicamente até ao próximo dia 5 de novembro e online nos suportes de comunicação da BPARLSR.

A acompanhar as comemorações dos 75 anos do autor terceirense está um programa de atividades que engloba um recital de poesia e vários painéis de debate que versam a produção literária de Álamo de Oliveira e que contam com a presença de diversos convidados.


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