Açoriano Oriental
Bel dá destino alternativo a 390 mil litros
A indústria de lacticínios Bel, na Ribeira Grande, não processou em Setembro passado, devido a uma falha técnica, 390 mil litros de leite, que acabaram como resíduos para biofermentação e produção de energia verde nas instalações da Agraçor.
Bel dá destino alternativo a 390 mil litros

Autor: Paulo Faustino

A grande quantidade de leite que não foi transformada corresponde a bem mais de metade da recolha que poderia ser feita durante um dia produtivo na fábrica. A ocorrência, pela proporção que tomou, é insólita. O controlo de qualidade da Bel detectou uma insuficiência nos equipamentos que têm vindo a ser testados na sua nova unidade fabril em São Miguel. Insuficiência essa que impediu o atempado processamento de uma parte do leite armazenado nos silos da fábrica da Ribeira Grande, tornando a matéria-prima imprópria para laboração e consumo humano, mas com possibilidade de reciclagem na Agraçor. Fonte ligada à Bel fala em “atrasos” no ensaio de equipamentos que levaram à inutilização do leite, ao mesmo tempo que recusa a interpretação de que 390 mil litros foram parar ao lixo. “A Bel tem um acordo de prestação de serviços com a Agraçor para ocorrências desta natureza”, frisou ao Açoriano Oriental. E para enfatizar a ideia de que “a Agraçor é a empresa que trata os resíduos provenientes da ETAR da Bel, bem como o leite proveniente da recolha em que é detectada a presença de antibióticos, cuja transformação é proibida por lei”. Face ao episódio, a multinacional francesa garante terem sido accionados todos os procedimentos ambientais e assegurados os padrões de qualidade, sobretudo como forma de salvaguarda do famoso queijo flamengo “Terra Nostra”.

A Bel assume o incidente, mas minimiza-o e diz que o seu impacto foi “limitado”.

Ao que conseguimos apurar, a Bel contratou já um outro fornecedor, igualmente estrangeiro, para substituir o equipamento com falhas. E só anunciará a data de inauguração da nova fábrica em São Miguel, orçada em 28 milhões de euros - o maior investimento de sempre do sector nas ilhas - quando estiverem terminados todos os ensaios necessários ao seu pleno funcionamento. Na verdade, a empresa admite estar a proceder a optimizações e a alterações dos equipamentos na sua unidade fabril, tendo em vista potenciar a capacidade produtiva. “A companhia tem duas fábricas em funcionamento de modo a poder maximizar a sua produção”, revela a nossa fonte.

A obra da nova unidade de queijo da Bel Portugal na Ribeira Grande foi iniciada em 2004, tendo sido comparticipada em cerca de 50% pelo Governo Regional. O complexo, a ser provavelmente inaugurado até ao final deste ano, inclui ETAR, nave fabril equipada para a recepção, tratamento e fabrico de queijo - com área de 5 mil metros quadrados - e uma nova torre de secagem englobando armazém, cais de carga e estacionamento. O investimento aumenta a área da fábrica dos actuais 12 para 17 mil metros quadrados e transforma a totalidade do leite recolhido em queijo. A nova fábrica da Bel, que pretende ser a maior do grupo no país, poderá produzir até 13 mil toneladas de queijo por ano. Presentemente, dá emprego a 240 pessoas e transforma anualmente 120 milhões de litros de leite, fornecidos por cerca de mil produtores (mais de 50% da ilha). A maior parte da produção, em valor, tem o Continente como destino (96%), seguindo-se a Madeira (2,5%) e os Açores (1,5%).  

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