Açoriano Oriental
Autarquias da Terceira reforçam informação para tranquilizar população apreensiva com crise sísmica

A população da zona oeste da ilha Terceira, nos Açores, está “apreensiva” com a crise sísmica que decorre há mais de um ano, mas as autarquias locais têm reforçado meios e promovido sessões de informação, revelaram os autarcas.

Autarquias da Terceira reforçam informação para tranquilizar população apreensiva com crise sísmica

Autor: Lusa/AO Online

“As pessoas estão apreensivas. De certa forma, vão-se habitando aos sismos, mas sempre com algum receio. Quando faz um sismo não ficam muito assustadas, porque sabem que foi de magnitude pequena, mas ficam sempre receosas de que a seguir faça um maior”, adiantou, em declarações à Lusa, Mário Cardoso, presidente da Junta de Freguesia do Raminho, uma das mais afetadas pela crise sísmica.

Desde 24 de junho de 2022 que a atividade sísmica no vulcão de Santa Bárbara, na ilha Terceira, se encontra “acima dos valores normais de referência”, segundo o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA).

Nos últimos meses, o número de sismos sentidos pela população aumentou, assim como a intensidade dos eventos.

O maior foi registado a 14 de janeiro, com magnitude 4,5 na escala de Richter, tendo provocado uma derrocada na freguesia do Raminho, bem como o derrube de muros em terrenos agrícolas e pequenas fissuras em algumas casas.

Ainda assim, o CIVISA mantém o nível de alerta científico para a caracterização do estado da atividade sismovulcânica em V2 (possível reativação do sistema — sinais de atividade moderada), numa escala de 0 a 6.

Nas últimas semanas, o presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, responsável máximo da Proteção Civil municipal, tem promovido sessões de esclarecimento em várias freguesias.

Segundo Marco Alves, presidente da Junta de Freguesia da Serreta, na mesma zona da ilha, a sessão de esclarecimento contribuiu para acalmar a população que “estava mais nervosa”.

“O esclarecimento que houve aqui em várias freguesias contribuiu muito, porque assim ficaram a perceber mais um bocadinho do que se estava a passar”, explicou.

Numa freguesia com população mais envelhecida, são muitos os que viveram o sismo de 1980, de magnitude 7,2 na escala de Richter, que provocou estragos significativos e vítimas na ilha.

É sobretudo quem tem memória desse evento que “tem mais receio”, mas Marco Alves acredita que a população está hoje em dia mais “preparada”.

“Domingo fez um sismo de magnitude 3,6. A maior parte da população estava numa coroação no pavilhão multiúsos da freguesia. […] Ficou tudo calado, mas ninguém fugiu porta fora, nem desatou aos gritos. As pessoas estão um pouco calmas”, revelou.

Para além de reforçar a informação, a junta de freguesia tem reunido com frequência com as autoridades de Proteção Civil e já fez um levantamento da população mais idosa e com maiores dificuldades de mobilidade.

No Raminho, Mário Cardoso também tem redobrado a informação sobre as medidas a tomar em caso de sismo, mas acredita que a população está hoje mais consciente.

“As pessoas hoje em dia têm alguma sensibilidade para o assunto. Não é preciso estar a explicar as coisas básicas que têm de fazer. Eu sinto que elas têm essa noção”, explicou, acrescentando que quem viveu o sismo de 1980 comporta-se “de forma mais calma, não se pondo em risco”.

A Câmara Municipal instalou um sismógrafo no Raminho e reforçou a junta de freguesia com equipamento para intervenção em caso de catástrofe, como um gerador.

Outra das preocupações das duas freguesias é o acesso de uma para a outra, condicionado desde o sismo de 14 de janeiro, que levou ao encerramento da principal estrada que as ligava devido a uma derrocada.

“É tudo passado por um caminho alternativo, que tem condições mínimas de passagem, mas não nos garante a continuidade territorial a que estávamos habituados”, apontou Mário Cardoso.

Os transportes públicos não passam no caminho alternativo e o desvio obriga a percorrer uma distância maior, o que preocupa a população, quando está em causa o acesso de meios de socorro.

“As crianças que estudam na escola dos Biscoitos têm de se levantar muito mais cedo e chegam muito mais tarde a casa”, alertou Marco Alves.

O Governo Regional dos Açores prevê lançar ainda este mês o concurso para o projeto de intervenção na encosta, mas a obra será demorada.

Estão também previstas para este mês obras de melhoria no percurso alternativo.

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