Autor: Rui Jorge Cabral
Na cerimónia de entrega de prémios do Festival de Cannes, o que sentiu quando ouviu o seu nome pronunciado como vencedor da Palma de Ouro para a curta-metragem?
Estava um pouco apático na altura, porque o Festival de Cannes é tão intenso e estão sempre coisas a acontecer. A curta-metragem é o primeiro prémio a ser anunciado e quando se dá o seu anúncio eu nem estava à espera… Fiquei apático e demorou uns dias até perceber o que realmente tinha acontecido.
Não teve tempo de preparar um discurso…
Não... Improvisei o discurso, fazendo o politicamente correcto naquele momento.
O ter figurado no palmarés do Festival de Cannes deu-lhe, pelo menos naquela noite, a possibilidade de conhecer algumas das "estrelas" do cinema?
Está lá toda a gente. Todos se conhecem, mas no fundo ninguém se conhece…
Depois de receber o prémio, fui para os bastidores e estava lá toda a equipa do Quentin Tarantino, o Willem Dafoe, os italianos do filme "Vincere", que esteve em competição este ano e estive à conversa com o Terry Gillian, mas é tudo muito efémero e não fiquei amigo de ninguém por causa dessa noite…
Do que já conheceu dos Açores até agora, este é um ambiente que lhe é de alguma forma inspirador?
É… Embora me sinta ainda muito encantado pelos Açores, o que pode ser perigoso. É como fotografar a rapariga por quem estamos apaixonados, o que não significa que iremos fazer a melhor fotografia do mundo… Claro que os Açores são muito inspiradores mas, por exemplo, vivi um ano na Argentina e nunca tive vontade de filmar lá, porque continuo muito com a ideia de fazer um filme "na minha rua" nas zonas de Lisboa que conheço melhor. Para já, não me sinto confortável noutro terreno.
Tem algum conselho a dar a um jovem açoriano que pretenda ser realizador de cinema, face ao seu próprio percurso até agora?
Não desistir é o único conselho que posso dar… Fiz a escola de cinema no Conservatório, que foi muito importante para mim, mas não a recomendo nem deixo de recomendar. O Quentin Tarantino é muito bom e não estudou cinema... Há grandes realizadores que não estudaram cinema, bem como outros que também são grandes e que estudaram… Acho que cabe a cada um encontrar as ferramentas que precisa. Hoje há formas de fazer filmes com menos meios e, mesmo em Portugal, há exemplos de que as ideias continuam a ser mais importantes que os euros.
Leia a entrevista completa na edição impressa do Açoriano Oriental de 16 de Novembro de 2009.