Açoriano Oriental
10 anos depois da Expo'98
Arquitectos e urbanistas apontam dedo à falta de ligação com zona envolvente
A falta de ligação com a zona envolvente do Parque das Nações é a principal crítica dos especialistas em arquitectura e urbanismo 10 anos depois da Expo'98, que continuam a classificar como "uma ilha".

Autor: Lusa/AO online
A falta de uma continuidade territorial é um dos aspectos mais negativos apontados pela Associação Profissional dos Urbanistas Portugueses (APROURB), que considera que a área da Expo'98 "falhou na integração com a envolvente".

    "Não foram aproveitadas todas as potencialidades que o espaço permitia. A limitação original da intervenção esqueceu o espaço envolvente", reconhece.

    A APROURB considera que com esta integração do espaço com a malha urbana envolvente, "evitava-se a completa confusão gerada na área envolvente com uma mistura pouco saudável, com um conjunto que agora desponta de intervenções casuísticas".

    A vontade de na altura da realização da Expo'98 aplicar àquela região um carácter especial permitiu elaborar um plano de desenho "livre do peso cadastral ou dos interesses económicos", que os urbanistas defendem não ter resultado da melhor forma.

    "Poderia ter resultado num plano de excelência, mas infelizmente, pelo seu carácter de excepção - revelador da insipiência urbanística do país - não pode ser entendido passados 10 anos como um Plano Urbanístico coerente e integrador", consideram.

    Apesar de reconhecer que a política de gestão da construção foi "louvável" e que "dificilmente uma área industrial degradada se torna num espaço de atracção como o que se verificou com a Expo'98", a APROURB defende que o projecto urbano da Expo'98 "falhou como peça urbanística integrada na envolvente".

    A Associação Profissional de Urbanistas Portugueses critica ainda o plano de urbanização da Expo, dizendo que "houve clara falta de entendimento do espaço como parte de um todo" e que o "plano foi confundido com um projecto de loteamento, que resolve problemas do local, mas ignora a existência de envolventes que necessitam também elas de intervenção".

    Houve uma "falha completa" nessa integração, criando "uma ilha" dentro de outro território, acrescenta, aproveitando para fazer referência aos projectos Polis (também liderados pela Parque Expo), que a Associação diz não serem consentâneos com a prática do urbanismo "integrador e plural".

    Defende ainda que alguns edifícios ali instalados "contribuíram para a negação do convite ao passeio".

    Apesar de reconhecer que se tratam de "peças de arquitectura contemporânea com alguma qualidade", defende que estes edifícios "falham na vivência urbana".

    Dá como exemplo o da "Vodafone", que não tem janelas ou portas para o lado principal, o que classifica como "um erro urbanístico que ajuda a marcar a ideia de projectos isolados e pouco integrados" que aquela área apresenta.

    Também a Ordem dos Arquitectos (OA) aponta o dedo ao "nível heterogéneo de qualidade arquitectónica" de alguns edifícios "de qualidade discutível e bastante inferiores ao espaço urbano em que se inserem".

    A falta de articulação urbana da área de intervenção é igualmente apontada pela OA, assim como a "vertigem imobiliária".

    Os arquitectos chamam igualmente a atenção para a falta de concretização da "quase totalidade" dos equipamentos colectivos previstos.

    De positivo a Ordem aponta a capacidade de encontrar consensos governamentais e camarários sobre a estratégia de candidatura, o "consenso urbanístico sobre o traçado enquanto elemento orientador do espaço" e o exemplo para o resto do país, fixando um novo padrão de exigência ao nível do planeamento urbano.
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