Açoriano Oriental
Analistas dizem que PIB do 2.º trimestre dificulta metas do Governo
O fraco crescimento económico do segundo trimestre faz com que a meta do Governo para o conjunto do ano seja "inalcançável" e coloca desafios ao objetivo de redução do défice em 2016, admitem analistas contactados pela agência Lusa.
Analistas dizem que PIB do 2.º trimestre dificulta metas do Governo

Autor: Lusa/AO online

 

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou hoje que o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,2% no segundo trimestre face ao primeiro, taxa idêntica à dos dois trimestres anteriores, e cresceu 0,8% em termos homólogos, o que representa uma desaceleração face ao crescimento de 0,9% no trimestre anterior.

“Este crescimento baixo coloca desafios ao desempenho orçamental e poderá levar à implementação de medidas fiscalmente restritivas no segundo semestre e em 2017”, afirma Filipe Garcia, presidente da IMF – Informação dos Mercados Financeiros.

Para o analista, os números divulgados hoje pelo INE demonstram que “o modelo de crescimento baseado na ideia de tentativa de promoção do consumo privado está a mostrar as suas limitações, mesmo num contexto de vendas fortes no setor automóvel no semestre, aumento na concessão de crédito, o turismo muito dinâmico e franca atividade na área da reabilitação de imobiliário”.

Filipe Garcia admite também que “os efeitos de rendimento decorrentes da queda de petróleo e das taxas de juro e da reposição de remunerações parecem já se ter dissipado. Mesmo o aumento de crédito concedido às famílias não está a provocar a aceleração da procura interna”.

Além disso, a “redução expressiva do investimento, num contexto de crescente oferta de crédito e taxas de juro muito baixas, é um sinal claro de que a confiança dos empresários portugueses continua baixa”.

Para o analista da IMF, o PIB do segundo trimestre “só não é mais desapontante” porque se deu também “uma desaceleração na zona euro”.

Também o coordenador do Núcleo de Estudos de Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP), da Universidade Católica, João Borges de Assunção, mostra-se preocupado com “a dinâmica de quase estagnação que se observa na economia portuguesa desde o segundo semestre de 2015”, principalmente quanto a uma “nova contração do investimento”.

Para o professor, “os riscos que pesam sobre a economia portuguesa continuam a ser maioritariamente descendentes e os sinais muito desfavoráveis do investimento continuam a ser o principal fator de preocupação”.

Quanto ao impacto nas contas públicas, João Borges de Assunção lembra que o Governo continua a afirmar que não tomará mais medidas orçamentais este ano, mas isso “torna difícil atingir um défice inferior a 3%, o que, por sua vez, agrava significativamente a dimensão das medidas de ajustamento orçamental necessárias em 2017 e 2018”.

Por sua vez, o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) António Ascensão da Costa tem dúvidas de que um crescimento económico fraco obrigue a mais medidas de austeridade, mas é perentório ao afirmar que “a meta do PIB do Governo é inalcançável”.

“Fui apanhado de surpresa por estes números, ficam bastante abaixo do esperado, sobretudo quanto à evolução dos números divulgados pelo INE em junho, quanto à indústria, comércio e serviços”, admitiu.

O crescimento económico do segundo trimestre obrigará o Grupo de Análise Económica do ISEG a rever a sua estimativa do crescimento do PIB para o conjunto do ano, sendo que o banco Montepio já desceu a sua previsão de 1,2% para 1%.

“A nossa previsão de crescimento para 2016 (1%) está agora em linha com os 1% previstos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), mas mais afastada dos 1,3% previstos pelo Banco de Portugal, dos 1,5% previstos pela Comissão Europeia e afasta-se ainda mais dos 1,8% do Governo”, afirma o economista-chefe do Montepio, Rui Bernardes Serra.

Hoje, o IMF antecipa um crescimento entre 0,8% e 0,9% no conjunto do ano, admitindo revisões em baixa, o NECEP mantém a sua previsão de 0,9% (que tem uma previsão do segundo trimestre ligeiramente inferior à divulgada pelo INE) e o ISEG tinha, no final de junho, uma estimativa entre 1,3 a 1,6%.

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