Açoriano Oriental
Açores com 70% da população vacinada
Universidade vai avançar com um plano de formação complementar

João Luís Gaspar. Reitor afirma que, apesar do esforço de todos na minimização dos efeitos da pandemia, a Universidade dos Açores vai avançar com um plano de formação complementar “para que todos os estudantes que desejem melhorar as suas competências em determinadas disciplinas o possam fazer sem custos adicionais”

Universidade vai avançar com um plano de formação complementar

Autor: Rui Jorge Cabral

Que impacto teve a pandemia de Covid-19 na Universidade dos Açores e como conseguiu a academia reagir às limitações impostas ao ensino para defesa da saúde pública?

A Universidade dos Açores foi uma das primeiras, se não a primeira, instituição de ensino a preparar, aprovar e ativar um plano de contingência específico para responder à situação, tendo a primeira versão desse plano sido publicada no final do mês de fevereiro de 2020, mesmo antes de ter sido decretada a pandemia pela OMS ou de ter sido confirmado qualquer caso em Portugal. Tal ficou a dever-se ao excelente trabalho realizado pelo Instituto de Vulcanologia e Avaliação de Riscos que, no quadro da sua missão, acompanha em tempo real todas as situações potencialmente perigosas suscetíveis de colocar em risco pessoas e bens, independentemente do local onde tenham origem.
Nesse contexto, no final de fevereiro já estávamos a fazer exercícios de preparação, com vários serviços gerais a funcionar em regime teletrabalho, ao mesmo tempo que adquiríamos equipamento de desinfeção e de proteção individual, e procedíamos à inventariação das existências e das necessidades tecnológicas para, se a situação assim o obrigasse, passarmos para um regime de ensino à distância. Foi o que aconteceu em meados de março. Nessa altura procedemos a um processo de formação intensiva de professores, melhorámos as condições de acesso à rede informática nas residências universitárias, demos tempo aos estudantes de outras ilhas e regiões para regressarem a casa e retomámos o ensino por via remota, com as limitações daí decorrentes, mas com uma dedicação e força de vontade por parte de toda a comunidade académica que todos reconhecerão. Assim se conseguiu concluir o ano letivo de 2019-2020, tendo os anos letivos seguintes sido preparados de raiz com uma nova filosofia de horários para permitir contemplar aulas presenciais, à distância e em regime híbrido em função do evoluir da situação pandémica, e das especificidades de cada curso e de cada unidade curricular.

Hoje podemos dizer que, dadas as circunstâncias, o esforço de todos valeu a pena e o balanço final foi positivo, mas mesmo assim a Universidade vai avançar com um plano de formação complementar para que todos os estudantes que desejem melhorar as suas competências em determinadas disciplinas o possam fazer sem custos adicionais.  Esta é uma matéria que vai ser trabalhada no regresso às atividades académicas, em estreita colaboração com as unidades orgânicas e as associações de estudantes.

A um nível geral, quais considera serem os efeitos mais importantes da pandemia na sociedade açoriana e que consequências futuras esses efeitos terão?

Não fosse a inadequada legislação existente no nosso país e a falta de visão política e económica do Estado, as regiões insulares poderiam ter sido melhor protegidas desta calamidade e os efeitos económicos e sociais da pandemia poderiam ter sido francamente minimizados. Nas circunstâncias vigentes e no que respeita às grandes opções, acho que os Açores, no quadro da autonomia que possuem, têm, mesmo assim, respondido de forma adequada, muito embora, em minha opinião, pudessem ter sido mais eficazes se tivessem criado uma estrutura de comando própria, independente e de caráter transversal, para responder aos múltiplos desafios que uma situação como aquela que vivemos comporta.

A pandemia apanhou a Região Autónoma dos Açores numa fase de crescimento económico potenciada pelo investimento no turismo, interrompendo um processo que, apesar de estar numa fase ainda inicial, já mostrava resultados positivos. Com o regresso possível à normalidade é necessário recuperar tal via, mas essa não deverá ser a maior preocupação do poder político, uma vez que, salvo qualquer retrocesso decorrente do aparecimento de novas e mais graves estirpes, a retoma vai ser uma realidade e o tempo correrá a favor de tal objetivo. A grande questão, a meu ver, situa-se no plano das desigualdades sociais, que já eram gritantes e se acentuaram com a pandemia, só podendo ser atenuadas com uma forte aposta na educação e na formação. Nenhuma atividade, nem a do turismo, vingará de forma sólida e consistente se o poder político não perceber que tem de apostar no ensino para qualificar os açorianos, proporcionando-lhes competências adequadas às profissões do futuro. Também nada resultará se não houver uma aposta forte e real na mitigação dos riscos disruptivos a que estamos permanentemente sujeitos, sejam naturais ou tecnológicos, como a história dos Açores nos ensinou e a pandemia nos recordou.

Que papel pode a Universidade dos Açores desempenhar no estudo dos efeitos da pandemia e no auxílio à tomada de decisão por parte dos poderes públicos, no regresso gradual à normalidade?

Desde a primeira hora que a Universidade se disponibilizou ao Governo Regional para, entre outros aspetos, acompanhar a situação pandémica, estudar a sua evolução temporal e espacial, avaliar o impacto das medidas de saúde pública, económicas e sociais implementadas, e colaborar na definição de políticas públicas que permitam responder aos muitos problemas criados. Recentemente reiterámos ao novo Governo tal disponibilidade e esperamos que as nossas propostas venham a merecer a devida atenção. Para já estamos a trabalhar na preparação de novos cursos técnicos superiores profissionais e pós-graduações, respondendo a necessidades há muito identificadas para a (re)qualificação de recursos humanos e, por conseguinte, para o relançamento da economia.

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