Autor: Lusa/AO On Line
“Ando cá desde 1955. Já passei várias crises, mas esta é a pior. O setor vive numa crise como nunca viveu”, afirmou em entrevista à Lusa Mário Pereira Gonçalves, presidente da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, que conta com 25 mil filiados e se auto intitula a “maior associação do país”.
Cingindo-se à área da restauração, aquele responsável explica que a crise sentida no setor teve início em finais de 2008 mas foi no ano seguinte que agravou: “2009 foi um ano mau, este ano piorou e 2011, se não tomarem medidas, vai piorar ainda mais”, acrescenta.
Mário Pereira Gonçalves fala no encerramento de cerca de 10 mil estabelecimentos no ano passado, um número que, embora ressalvando ser ainda cedo para conclusões definitivas, “deverá” aumentar este ano devido ao desemprego e à falta de poder de compra dos portugueses e dos turistas.
Um estudo da AHRESP revela que o setor da restauração e bebidas baixou 20 por cento as receitas entre 2000 e 2009, quando contabilizados os aumentos de inflação e de salário mínimo para o mesmo período.
“Isto quer dizer que o setor trabalha neste momento com preços esmagados e sem margem para lucro. O setor vive numa crise nunca vista”, afirmou o presidente da associação.
As diferenças fiscais entre os países da comunidade europeia, em especial o diferencial com a vizinha Espanha, com taxas de IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado) mais baixas do que Portugal, prejudicam ainda mais o setor, segundo Mário Pereira Gonçalves.
Com uma taxa de IVA em 13 por cento, resultado do aumento de um ponto percentual em julho passado, Portugal ocupa a 13ª posição, enquanto Espanha está em sétima posição, com uma taxa de oito por cento e menos cinco pontos percentuais do que a taxa aplicada em Portugal.
“Especialmente os estabelecimentos na fronteira estão em completa desvantagem”, afirmou aquele responsável, salientando que associação “propôs” ao governo um acordo para criar 80 mil postos de trabalho no próximo ano.
“Mas queremos contrapartidas: harmonização dos impostos com Espanha, redução da taxa social única de 23,65 por cento para 20 por cento, flexibilização da legislação laboral e uma redução dos feriados de 15 para 11 dias”, explicou.
Esta proposta já foi apresentada “verbalmente” ao governo mas, segundo aquele responsável, o partido no governo expressou ser “impossível” avançar com tal medida num momento de crise.
“Mas é nos tempos de crise que se deve arrumar a casa”, concluiu Mário Pereira Gonçalves.