Açoriano Oriental
PSP deteve mais de 50 pessoas por tráfico de sintéticas em ano e meio

Desde a criminalização das novas substâncias psicoativas, em maio de 2021, a divisão policial da PSP de Ponta Delgada deteve mais de 50 indivíduos suspeitos de tráfico de drogas sintéticas

PSP deteve mais de 50 pessoas por tráfico de sintéticas em ano e meio

Autor: Nuno Martins Neves

Mais de 50 pessoas suspeitas de tráfico de droga, diretamente ligadas às chamadas “sintéticas”, foram detidas pela PSP de Ponta Delgada, desde maio de 2021. O número foi revelado pelo comissário da PSP, Nuno Costa, e pelo comandante da Esquadra de Investigação Criminal de Ponta Delgada, João Frias, em entrevista ao Açoriano Oriental.

O número revela a importância atribuída por esta força policial ao flagelo das Novas Substâncias Psicoativas(NSP), vulgarmente conhecidas por drogas sintéticas, que têm conhecido um aumento significativo na Região Autónoma dos Açores, mas também na Região Autónoma da Madeira.

“Esta tem sido uma das grandes prioridade da PSP, ainda mais desde que em maio de 2021 um conjunto de NSP foram incluídas na definição de droga e, portanto, criminalizadas. De lá para cá, temos tido a capacidade de obter resultados mais efetivos no combate a um das maiores causas de insegurança e intranquilidade pública na ilha de São Miguel e no resto da Região”, assinala o comandante João Frias.

Além dos mais de 50 detidos, “ligados ao tráfico de drogas, com ligações diretas às sintéticas”, assinala o comissário Nuno Costa, as investigações da PSP têm permitido deduções de acusações por parte do Ministério Público (MP) e posteriormente condenações em sede de julgamento.

Um combate sem quartel mas que tem sido, também “uma luta contra o desconhecido”, como descreve o comissário Nuno Costa, referindo-se ao surgimento rápido de novas NSP no mercado de consumo. Aliás, há poucas semanas, no concelho da Ribeira Grande, foram detetadas duas substâncias novas, a nível europeu.

O flagelo das sintéticas surge espalhado pelas nove ilhas, com maior incidência nas zonas com mais população, com “uma prevalência na ilha de São Miguel, pelo número de habitantes e pela população flutuante”, diz o comandante João Frias.

E dentro da ilha, há zonas mais problemáticas e que têm sido alvo de maior atenção por parte das autoridades policiais, como São Roque, Livramento, Arrifes, Porto dosCarneiros, concelho da Ribeira Grande, entre outros.

“São diversos focos pela ilha, que são do nosso conhecimento”, assinala o comandante da esquadra de Investigação Criminal. “Mas é preciso tempo para termos indivíduos detidos  e condenados: é preciso que a investigação seja feita de forma sustentada, consolidada, para dar as ferramentas ao MP poder fazer o seu trabalho de responsabilização dos suspeitos”, acrescenta, reconhecendo que a complexidade do crime exige uma investigação “prolongada no tempo - algumas por mais de um ano - e que nem sempre consegue ter efeitos imediatos, desejados não só pela polícia como pela sociedade”.

Além disso, o perfil do consumidor de NSP está ligado ao consumo de outras substâncias:“Normalmente, quem consome sintéticas, ou já consumiu ou continua a consumir outras drogas”, acrescenta o comissário Nuno Costa.

“Muitas vezes são pessoas que já estiveram ligadas ao consumo de drogas como heroína, principalmente, mas como é um tipo de droga que não apresenta a chamada ‘ressaca’ tão evidente, acaba por ser uma droga mais apelativa, para não referir que tem um preço de mercado muito mais apetecível, comparando com as drogas duras, como a heroína e a cocaína”, refere João Frias.

O comandante da Esquadra de Investigação Criminal considera “verdadeiramente alarmante” a quantidade de vezes que as palavras “drogas” e “sintéticas” surgem nos mais diversas peças de expediente, que diariamente são feitas pelos polícias da divisão de Ponta Delgada, pelo que “será um fenómeno que vai continuar a merecer a nossa atenção”.

E apesar de não haver estudos que liguem o consumo de drogas sintéticas a um aumento de violência, a experiência das autoridades policiais e judiciárias encontra uma ligação estreita entre a criminalidade registada atualmente e o consumo das NSP.

“Dentro daqueles crimes que acabam por ter consequências mais graves para a própria vida e integridade das pessoas, estão diretamente ligadas a indivíduos consumidores de NSP, pois são indivíduos que acabam por ter um comportamento imprevisível, ter alucinações, após consumirem. Ou seja, não têm uma noção concreta do seu comportamento e acabam por resvalar para comportamentos violentos”, assinala João Frias.

Por isso, dos três pilares de atuação da PSP (prevenção, repressão e investigação criminal), o primeiro é tido pelo comissário Nuno Costa como o mais fundamental para o combate. Assinalando que todas as entidades judiciais e policiais “encontram-se alinhadas no combate conjunto a este fenómeno, sem prevenção, é impossível conseguirmos tirar algum dividendo daquilo que fazemos diariamente”.

Daí, a aposta nas comunidades escolares, com visitas que alertam os mais novos dos impactos que o consumo de drogas, em especial das NSP, têm na saúde física e mental dos seus consumidores.

“No capítulo da prevenção, o trabalho mais importante da polícia, e que cada vez mais tem de ser uma aposta por parte dos mais diversos atores sociais, assenta no policiamento de proximidade, desenvolvido quase sempre nas escolas, junto das famílias, de forma a despertar consciências e a alertar para as consequências da saúde de quem consome estas substâncias, e dar conta dos danos irreversíveis que podem vir a acontecer aos consumidores das NSP. E ainda mais grave que isso, conforme temos vindo a assistir, num passado não muito distante, a comportamentos de índole suicidária, por parte de consumidores, que acabaram por resultar em morte, de jovens cidadãos residentes em São Miguel”, diz o comandante João Frias.”

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