Autor: Ao/Lusa
“Em 2014 temos 23 pessoas intervencionadas. Não só a vítima, mas também os restantes familiares, disse a psicóloga Joana Barros, em declarações à Lusa, acrescentando que o projeto, iniciado em 2012, acompanha crianças e jovens entre os oito e os 16 anos.
Este projeto arrancou em março de 2012 nas comarcas da ilha de São Miguel, nos Açores, no âmbito da Estratégia Regional de Prevenção e Combate ao Abuso Sexual de Crianças e Jovens em Risco, abrangendo quatro vertentes, entre elas este apoio integrado às vítimas e famílias, para “garantir um suporte reabilitador”.
Joana Barros, que é também terapeuta familiar do Centro de Terapia Familiar e Intervenção Sistémica, uma das entidades parceiras da iniciativa, explicou que a intervenção traduz-se em “sessões semanais, individuais e/ou familiares”.
"Alguma da sintomatologia frequentemente trabalhada em contexto de sessão passa por trabalhar questões de ansiedade, medo e culpa", explicou.
Mas, antes da intervenção psicoterapêutica, a criança ou o jovem já passou por “um processo de investigação”, através da deslocação à Polícia Judiciária e ao tribunal, com “interrogatórios para declarações de memória futura e ainda, em algumas situações, deslocação à medicina legal” onde realiza o exame físico, além de “uma avaliação, caso se justifique, da pedopsiquiatria”, explicou.
“Temos casos de sucesso em que o próprio jovem consegue reabilitar-se, integrar-se bem na comunidade e criar relações de confiança com o grupo de pares”, sublinhou a psicóloga, que habitualmente acompanha as vítimas e suas famílias a lidarem com o impacto do abuso.
Entre os casos acompanhados há apenas o registo de uma situação de violação, pois as restantes “são de abuso sexual intrafamiliar”.
O projeto, de reabilitação ao nível das vitimas e das famílias, está “em fase de validação”, mas o objetivo é alargar esta ação interventiva a todo o arquipélago dos Açores.
“O projeto arrancou em São Miguel, mas o Centro de Terapia Familiar iniciou recentemente a orientação de casos na ilha do Faial, em que nós discutimos e refletimos junto de colegas que trabalham na área sobre casos de crianças e jovens vítimas de abuso sexual e acompanhamos a intervenção efetuada nestes casos”, adiantou a psicóloga.
Questionada sobre o aumento das detenções por abuso sexual nos Açores, a psicóloga relaciona-as com uma maior sensibilização em relação a estas situações, originando assim “um acréscimo de denúncias” da comunidade e dos técnicos.
No início de 2012, a Procuradoria da República no Círculo Judicial de Ponta Delgada, a Direção Regional da Solidariedade Social, a PJ, o Instituto da Segurança Social dos Açores, a Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e o Centro de Terapia Familiar e Intervenção Sistémica iniciaram esta estratégia de prevenção e combate ao abuso sexual.
Além da reabilitação das crianças e jovens e famílias, o projeto visa desenvolver “um dispositivo de apoio integrado para as vítimas de abuso sexual e realidade familiar” e o “acompanhamento/reabilitação de agressores sexuais através de uma interação entre o sistema de saúde e a justiça.
Pretende também "reforçar a capacidade interventiva das organizações envolvidas” e desenvolver “dispositivos de comunicação visando uma disseminação pública de fatores de proteção e de risco relativamente à temática de abuso sexual de crianças e jovens”.