Autor: Tatiana Ourique
O repto partiu de Roberto Borges, ator e autor do famoso Ramiro em Fala Quem Sabe. “Estávamos a gravar um vídeo para a Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo. Sempre fui fã do projeto Fala Quem Sabe e estávamos a conversar sobre a origem do projeto. Precisamente o Carnaval da Ilha Terceira. O Roberto desafiou-me a participar com eles no Carnaval seguinte e cá estou eu”, refere Francisco Câmara, encapuçado à porta da Sociedade do Porto Martins, entre atuações, a proteger-se do frio da madrugada de segunda-feira de Carnaval.
“Só tinha assistido a uns ensaios em 2014 / 2015 no Queijo Vaquinha mas nunca tinha sequer visto uma atuação num salão. Estou completamente enamorado. Os bailinhos deviam fazer uma digressão por todas as ilhas. O que acontece aqui é difícil de mostrar pela televisão. Este ano temos 57 grupos. São 57 textos, 57 encenações, 57 direções de atores, 57 vezes 5 ou 6 músicas. São de 5 a 7 atuações por dia. Uma verdadeira maratona. É muita cultura a ser produzida ao mesmo tempo. É uma coisa incrível!”, refere o ator micaelense.
Questionado sobre o que leva para São Miguel desta experiência, Francisco Câmara garante que o mais marcante é “o sentido de camaradagem que se vai criando durante toda a criação, ensaios e depois na própria prova de esforço que são os dias das atuações. Criam-se laços fortes. Cria-se uma equipa que rema toda para o mesmo lado e é incrível. Levo um sentido de partilha muito grande porque depois também há essa relação entre o bailinho e as várias audiências. Levo esse sentido de partilha, o conhecer gente, o estar perto de pessoas e dos diferentes públicos”, refere.
“Numa sociedade que está cada vez mais consumista e individualista continuamos a ver uma forte partilha de cultura e de vida”, acrescenta.
Francisco Câmara garante regressar sempre que surgir convite e pondera, inclusive, experimentar vestir outras personagens. “Eu não sou o Balada Brassado. Ele é um personagem que criei e que os açorianos gostaram muito, mas sinto que posso experimentar outras coisas”.
Balada Brassado entra no assunto do Bailinho do Porto Judeu que este ano teve como tema “O Resgate”. O assunto foi escrito por Roberto Borges, as cantigas escritas por José João Silva e a música pelo maestro Francisco Rocha. Francisco Câmara é um dos 26 elementos que integram este grupo.
Roberto Borges, autor e responsável pelo bailinho, diz que o regresso do grupo depois da pandemia está a ser muito bom e que o grupo está a ter o bom acolhimento do público como sempre teve. “A diferença que noto é que talvez os salões estejam a fechar mais cedo. Possivelmente fruto das transmissões online que fazem as pessoas ir para casa mais cedo em noites em que era tradições estarem abertos até mais tarde. É um entrave ao Carnaval porque as atuações fazem-se nos salões e para o público. Aliás, o único “pagamento” ao nosso trabalho que recebemos é o calor e os aplausos do público. É uma dificuldade. Como já tivemos muitas e o Carnaval superou sempre. É uma tradição que se molda e que sobrevive a tudo”, diz o ator terceirense.