Açoriano Oriental
Micaelense ensina na Índia e integra obra da Madre Teresa
Paulo Raposo está a fazer um curso de quatro anos na DNS, uma escola alternativa de professores dinamarquesa, que prepara pessoas para ensinar em países onde falta quase tudo. A primeira experiência de Paulo foi na Índia. Um país de contrastes onde tem vivido momentos marcantes
Micaelense ensina na Índia e integra obra da Madre Teresa

Autor: Rui Jorge Cabral

No dia 1 de Julho deste ano, o Açoriano Oriental deu a conhecer a aventura de Paulo Raposo, um jovem micaelense de 24 anos, que iria ser o primeiro açoriano a frequentar a escola alternativa de professores DNS, na Dinamarca.
Pela frente, quatro anos de estágios nas piores condições e de preparação intensiva para formar professores capazes de educar em países onde quase nada funciona e onde as crianças não têm acesso aos meios mais básicos para se desenvolverem. Paulo propunha-se ser também um divulgador desta instituição dinamarquesa - na qual se paga e bem (6  mil euros) para entrar sendo, portanto, uma opção de vocação - e servir depois de “ponte” entre a DNS e outros açorianos que queiram conhecer o mundo que não vem nos roteiros turísticos ou sequer nos telejornais.
Ao Açoriano Oriental, Paulo Raposo prometeu ir revelando os aspectos mais interessantes da sua aventura de quatro anos, que começou logo com uma grande viagem pela Índia, Tailândia, Laos, Vietname e China, que ainda decorre. Foi precisamente na Índia que Paulo acedeu a fazer um roteiro da viagem iniciada a  2 de Novembro, juntamente com os 23 colegas da equipa DNS 2008, mais dois professores. Tudo começou em Nova Deli.
“O que há de especial na Asia Travel DNS”, começa por questionar a si próprio Paulo Raposo, no roteiro que escreveu para o Açoriano Oriental. “Esta viagem não é qualquer coisa que se possa reservar numa agência de viagens”, afirma desde logo. “Lógico que todos os países que visitamos podem ser visitados por qualquer um, mas nós não viajamos para conhecer sítios. Viajamos para conhecer pessoas, culturas, tradições e aprender com elas”, explica Paulo Raposo.
Portanto, foi para a Índia rural que Paulo se dirigiu juntamente com os seus colegas. Dois dos lemas da DNS é “aprender fazendo” ou “o mundo é a melhor sala de aula”. “Sou um dos que nunca pensaram pisar território indiano”, admite Paulo Raposo, passados quase dois meses desde o início da viagem. “Não há livro que se compare a viver uma experiência como esta”, afirma. Mas  como Paulo não está na Índia para passear, foi logo integrado num dos mini-grupos de 2 a 3 pessoas e teve de escolher um tema de estudo, sendo depois mandado para sítios “que não fazemos ideia sequer como chegar lá”, revela Paulo, “mas onde sempre chegamos e sempre conseguimos o que queremos”. Isto entre os 1,2 biliões de habitantes de um país onde se falam pelo menos 200 idiomas diferentes, onde hindus convivem com muçulmanos e budistas, onde existe muita pobreza e onde muitos casamentos ainda são “arranjados”.
Entre investigações e deslocações de dois a três dias de comboio de um lado para o outro, há sempre tempo para ensinar. “Sempre que possível, entramos em escolas e passamos um dia com as crianças. Levamos material didáctico e, acima de tudo, muito boa disposição. Destaco o último Dia da Criança, onde visitámos uma escola com cerca de 2 mil crianças. Foi um dia fantástico, onde fomos para ensinar, mas acabamos aprendendo canções, danças e até algumas palavras. É fantástico o respeito que eles nutrem pelos europeus, por vezes até de mais, fazendo lembrar um pouco a velha maneira serviçal”, descreve Paulo Raposo.  Foi no meio do nada, numa vila pequeníssima chamada Trivandrum, que Paulo soube dos ataques terroristas em Mumbai (Bombaim). “Só demos conta disso três dias depois do sucedido. É o bom de não estar em grandes cidades”, revela.
Em Calcutá, Paulo admite ter atingido “o ponto mais alto até agora nesta viagem”. E explica porquê: “tínhamos mais uma investigação para fazer, mas eu decidi empregar o meu tempo com caridade e voluntariar-me na instituição da Madre Teresa. Calcutá é uma das maiores cidades da Índia e é um sítio de contrastes. Podes encontrar McDonalds ou KFC, entre outros, mas enquanto te delicias com uma refeição ao estilo americano, olhas pela janela e vês centenas de pessoas a dormir na rua ou a abordar todo e qualquer estrangeiro para obter dinheiro”. Mas dar dinheiro não é, no entanto, sinónimo de ajudar em Calcutá, como explica Paulo Raposo: “os pedintes estão organizados em ‘máfias’. E o chocante é perceber que o que nos dizem na casa da Madre Teresa quando nos inscrevemos é mesmo verdade, ao alertarem-nos para todos os truques usados pelos pedintes”. As mulheres, no início do dia, recebem bebés que nem são seus, “como um condutor recebe um autocarro para fazer a sua carreira diária”, compara Paulo.
“Depois, esses bebés são treinados desde tenra idade para fazerem caras comoventes para nos convencerem a dar-lhes o que pedem. Mas quando as mães pedem leite ou arroz,  geralmente levam-nos a lojas onde têm uma espécie de contrato com os donos. Damos o dinheiro, elas fingem-se contentes e levam o material que comprámos. Mais tarde, voltam lá para recuperar parte do dinheiro e o resto fica para o dono da loja. É um negócio”, lamenta Paulo. ||

Conferência na Universidade a 2 de Março para falar da DNS

A 2 de Março de 2009, Paulo Raposo vai dar uma conferência na Universidade dos Açores, em Ponta Delgada, onde pretende falar sobre a sua experiência na DNS e sobre a viagem que ainda está a empreender. Na conferência, Paulo fará uma apresentação da viagem  - um requisito para a sua avaliação na DNS -  e irá esclarecer os presentes sobre o que é esta escola alternativa dinamarquesa de formação de professores e sobre como podem outros jovens açorianos integrá-la.
Um dos aspectos que seguramente será abordado na conferência é a experiência marcante que Paulo Raposo viveu na instituição da Madre Teresa, em Calcutá. “Não há palavras para descrevê-la”, admite Paulo. “Ali, vê-se de tudo. As casas estão separadas por áreas: deficientes mentais; crianças órfãs ou abandonadas, leprosos ou doentes em fase terminal”, explica. Paulo escolheu trabalhar com as crianças e com os doentes em fase terminal. “Não é um conto de fadas aquilo que eu vi e vivi”, revela. “As condições não são as melhores e, apesar de bem organizadas, as irmãs não são suficientes. Vivem do apoio de centenas de voluntários, que lá trabalham diariamente durante todo o ano. Visitar a casa das crianças chocou-me mas, infelizmente, a casa com doentes em fase terminal foi uma experiência marcante e inesquecível. Principalmente pela lição de vida que eles nos dão. Ali estão pessoas com tuberculose, cancro, febre amarela, poliomielite, lepra, membros amputados, feridas abertas, magríssimos... Mas, no entanto, eternamente agradecidos pela nossa ajuda e nunca se queixando do que quer que seja. Isto é parte do hinduísmo: há que aceitar o que Deus lhes dá. Foi sem dúvida o momento em que me senti melhor na viagem, por estar a fazer algo por alguém, como mudar as roupas, dar de comer ou massajar o dolorido corpo”, descreve.
Paulo Raposo está agora em Mclaud Ganj, onde passará o Natal com os seus colegas da DNS. É desta forma que ele descreve o local: “estamos nos Himalaias, a dois mil metros de altitude, perto de Darmalsal, onde reside o Dalai Lama”. Dali, Paulo e os colegas voarão para a Tailândia a 29 de Dezembro, onde passarão o Ano Novo. Depois virá o Laos, o Vietname e a China.

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