Mais de um terço das vagas de internato ficaram desertas

Das 50 vagas disponibilizadas para os hospitais e centros de saúde, apenas 31 foram preenchidas. Medicina Geral e Familiar tinha 22 lugares, mas só irá receber 12 internos. Sindicato diz que especialidade não é atrativa pela carga de trabalho



Já foi tornado público a lista provisória de colocados na formação médica especializada: das 50 vagas de internato disponibilizadas para a Região Autónoma dos Açores, 31 foram preenchidas, deixando mais de um terço (38%) sem candidatos.

De acordo com as informações disponibilizadas pela ACSS - Administração Central do Sistema de Saúde, IP, entidade responsável pelo acesso à área de especialidade, e pela Ordem dos Médicos, a Região apresentou 68% de vagas ocupadas, um número abaixo à média nacional, em que a ocupação foi de 79%, tendo ficado desertas perto de 500 das 2317 vagas disponíveis.

Lá, como cá, duas especialidades tiveram um grande peso: Medicina Geral e Familiar (MGF) e Medicina Interna. Se esta última só atraiu um candidato para as cinco vagas (três no Hospital do Divino Espírito Santo, uma no Hospital de Santo Espírito e outra no Centro de Saúde de Angra do Heroísmo, sendo que as duas últimas ficaram desertas), já na MGF, das 22 vagas, 10 ficaram por preencher (45,5%).

Os centros de saúde de Ponta Delgada (5), Lagoa (2), Ribeira Grande (2), Praia da Vitória (2) e Vila Franca do Campo (1) conseguiram os internos de MGF que precisavam, o mesmo não aconteceu em Angra (2), Horta, Lajes do Pico, Madalena, São Roque, Calheta, Velas, Nordeste e Povoação, todas com uma vaga cada.

Para Anabela Lopes, representante nos Açores do Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SZMS) e também assistente de Medicina Geral e Familiar, os números apresentados pela MGF espelham a falta de atratividade da especialidade, muito pelo carga de trabalho que acarreta.

Mas como se pode dar a volta a isto? “Ou diminuindo a lista de utentes ou aplicando uma contabilização dos utentes por unidades ponderadas, isso é pela real carga de trabalho que cada utente representa”, aponta a sindicalista. 

Na região, neste momento, a média de utentes por médico de família ronda os 1750, um valor que está ainda abaixo do máximo contratualizado (1900). Mas Anabela Lopes alerta que nem todos os utentes são iguais. 

“Não é a mesma coisa ter uma lista de pessoas de meia idade e sem problemas de saúde ou  uma lista com muitas crianças (por exemplo, até aos 11 meses uma criança tem seis consultas se correr tudo bem, mais se tiver algum problema de saúde) ou com diabéticos (pelo menos duas consultas por ano, se correr tudo bem)”, diz Anabela Lopes.

Além disso, a representante do SMZS apela a um trabalho mais em equipa: “A lista de utentes não ser do médico, mas sim do médico, do enfermeiro e do administrativo, trabalhando em prol do utente e dividindo responsabilidades e tarefas que podem ser divididas”.

Anabela Lopes assinala a abertura a negociação que a tutela tem demonstrado, sublinhando que é importante haver médicos de família “que tenham acessibilidade”.

Mais quatro especialidades com vagas por ocupar

Quanto a outras especialidades que ficaram sem candidatos, registam-se Medicina Intensiva (2), Hematologia Clínica (1) e Oncologia Médica (1), todas no HDES; e Saúde Pública (1), na Unidade de Saúde de Ilha de São Miguel.

Por unidade de saúde, o hospital de Ponta Delgada representou quase metade das vagas totais (23 das 50), tendo preenchido 17, nas especialidades de Anestesiologia (2), Angiologia/Cirurgia Vascular (1), Cardiologia (1), Ginecologia/Obstétricia (1), Medicina de Urgência e Emergência (1), Medicina Física e de Reabilitação (1), Neurologia (1), Ortopedia (1), Pediatria (2), Psiquiatria (2), Radiologia (1) e Reumatologia (1).


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Das 50 vagas disponibilizadas para os hospitais e centros de saúde, apenas 31 foram preenchidas. Medicina Geral e Familiar tinha 22 lugares, mas só irá receber 12 internos. Sindicato diz que especialidade não é atrativa pela carga de trabalho