Autor: Lusa/AO online
Há dez anos, muitos consideravam que o 'online' seria o responsável pelo fim do papel. Hoje há quem acredite que essa função caberá aos 'tablets' e aos 'smartphones', mas também há quem admita que o papel existirá sempre, apesar de a crise económica estar a acelerar a crise do jornalismo tradicional.
"O papel existirá sempre, caso contrário seria como se comêssemos uma fruta, sem ter olfato, tendo apenas o sabor", resume o presidente do OmnicomMediaGroup, Luís Mergulhão.
Isto, porque "mantém um elemento fundamental, pois é por natureza o meio mais associado à informação, mais que a televisão e a radio, também muito ligados ao entretenimento", disse.
Com "uma visão positiva", o responsável frisou que o papel terá de dar resposta aos desafios colocados pelo 'online' e às novas plataformas, tal como teve de fazer quando apareceu a radio e a televisão.
"Antes da imprensa inventada por Gutenberg, havia os manuscritos e estes não perderam valor quando apareceram os livros, pelo contrário, tornaram-se ainda mais importantes para a transferência de conhecimento e as pessoas continuaram a escrever conteúdos", comparou Luís Mergulhão.
Já o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (API), João Palmeiro, considera que "o papel não está em crise", está em evolução no meio de uma crise para modelos híbridos papel/'online', procurando dar uma oferta na internet.
"O futuro está em que os editores sejam capazes de montar um 'mix' entre o papel e o não papel, entre conteúdos gratuitos e fechados, e de negociar primeiro com os fornecedores de sistemas operativos e depois com os ISP (Internet Service provider) e as operadoras de telecomunicações a partilha de conteúdos a partir de um jornal ou revista", sublinha João Palmeiro.
Pedro Santos Guerreiro, diretor do Jornal de Negócios, a publicação que nasceu no 'online' e só depois foi para o papel, acredita que vai ser possível combinar as duas plataformas, se bem que as grandes audiências estarão no 'online' e o consumo no papel será mais lento.
Pedro Santos Guerreiro considera que o futuro passa pela combinação de conteúdos pagos e gratuitos quer no papel quer no 'online'.
Já o diretor do Dinheiro Vivo, André Macedo, admite o desaparecimento do papel a longo prazo.
"É um erro e um disparate pensar que estamos presos ao papel. Aquilo que define os jornais não é o papel, é serem escritos. Dentro de cinco a dez anos, será nas aplicações para os 'tablets' e 'smartphones' e num modelo 100% pago que o jornalismo vai subsistir e desenvolver-se de forma fantástica", disse André Macedo.
O diretor do Dinheiro Vivo prevê por isso que os grandes grupos de media "vão progressivamente fechar a internet à informação gratuita" e que a revolução tecnológica nos 'tablet' vai servir para que as redações tenham capacidade para se reformar.
Já o ex-jornalista e um dos fundadores do Público e do Publico.pt, José Vítor Malheiros, sublinhou que o importante no jornalismo não é o facto de se apostar em determinadas plataformas, mas sim a qualidade, devendo o jornalismo produzir democracia, alimentar o debate público e destinar-se a um espaço público.
Segundo José Vítor Malheiros, "existe uma crise profundíssima do jornalismo, do modelo de negócio e sobretudo de credibilidade", em que "os jornalistas permitiram que a sua atividade se tornasse industrial, com ritmos industriais e modelos de negócios industriais".
"Quanto mais condomínios fechados houver na imprensa, mais fragmentado for esse espaço público maior é a ameaça para a democracia", disse, acrescentando que "não há um truque que salve o jornalismo, há milhares de soluções" e que cada meio terá de encontrar o seu próprio modelo de negócio.
Mas o essencial, remata, é que cada um tem de conhecer os seus leitores, falar com eles e negociar com eles, enfim, tratá-los como cidadãos.