Açoriano Oriental
Independentismo foi "determinante" para consolidar autonomia dos Açores
O advogado Carlos Melo Bento, que esteve ligado à Frente de Libertação dos Açores (FLA), considerou que o independentismo foi "absolutamente determinante" para a consagração da autonomia da região, que assinala 40 anos em 2016.

Autor: Lusa/AO Online

 

“Quando desaparecerem os independentistas, a autonomia vai desaparecer também. Só existe autonomia porque existe independentismo. Se este não existir, para que serve a autonomia?”, questionou.

Em declarações à agência Lusa, Melo Bento frisou que a autonomia “só existe por causa do perigo da independência” e está convicto de que, se esta desaparecer, o movimento independentista “vai engrossar outra vez com outra geração”.

“Vai levar algum tempo, vai ser preciso algum motivo, mas irá acontecer”, referiu o independentista, que tem relações familiares com o líder histórico da FLA, José de Almeida, falecido a 01 de dezembro de 2014, com 79 anos.

Melo Bento, que também foi líder do Partido Democrático do Atlântico (PDA) - único que teve sede nos Açores, conotado com o movimento independentista e extinto em 2015 pelo Tribunal Constitucional -, considerou essencial a defesa da independência como um “objetivo pacífico”.

O advogado de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, entende que a autonomia e o separatismo “partiram do mesmo vértice” e “foram-se afastando um do outro” durante as últimas décadas.

Melo Bento, que esteve detido na sequência da manifestação de 6 de junho de 1975, em Ponta Delgada, integrando um grupo de açorianos, afirmou que no movimento independentista havia várias fações “mais ou menos radicais, mais ou menos democráticas”, havendo quem defendesse, como o próprio, que a independência dos Açores deveria ser referendada através do voto popular.

A manifestação do 6 de junho de 1975 juntou cerca de 10 mil pessoas, predominantemente lavradores que se bateram por diversas revindicações perante o Governo central e contra uma eventual tomada do poder no país pelos comunistas, acabando por ficar conotada com a independência dos Açores.

Atualmente, a FLA é dirigida por um diretório que tem como porta-voz o professor do ensino secundário Rui Medeiros.

À Lusa, o docente declarou que a autonomia está “intimamente dependente” das movimentações independentistas.

Volvidas quatro décadas da autonomia política e administrativa do arquipélago, considerou, “mais do que nunca faz sentido” falar num movimento independentista nos Açores, porque os primeiros separatistas aderiram ao projeto autonómico na convicção de que “assim estariam mais próximos de concretizar o velho sonho da livre governação dos Açores pelos açorianos”.

“Este projeto não tem ganho esta dinâmica, tem vindo gradualmente a recrudescer. Mais do nunca justifica-se que exista uma mobilização em torno das ideias independentistas, porque são estas que vão conseguir dar alguma capacidade reivindicativa aos Açores em termos políticos e aos açorianos em termos globais”, declarou o jovem professor.

O auge do movimento independentista dos Açores aconteceu no denominado Verão Quente de 1975, momento em que os norte-americanos, de acordo com os documentos secretos desclassificados por Washington, possuíam um plano de anexação do arquipélago, caso o poder no país caísse nas mãos dos comunistas.

Isso poderia desencadear a perda do controlo da base das Lajes, na ilha Terceira, onde os Estados Unidos da América têm atualmente em curso a redução da presença militar.

 

Corrigidos às 11h55 nos sétimo e oitavo parágrafos o ano da manifestação de 6 de junho, que foi 1975 e não 1976

 

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