Autor: Lusa/AO Online
“Todos devem ter a coragem de reconhecer os sucessivos erros do passado e que continuam bem patentes no presente: as cooperativas foram desvirtuadas da sua natureza original e transformadas em estruturas quase totalmente dependentes do Governo Regional”, afirmou Nuno Barata.
O deputado da IL, que falava no parlamento regional, na Horta, numa interpelação ao Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM) sobre os setores agroindustrial e cooperativo da região, alertou que as cooperativas “estão hoje num nível de dependência quase total de subsídios” e de “apoios públicos sucessivos”.
Depois de referir que “é impossível ignorar o peso financeiro que o setor cooperativo tem tido nas contas da região ao longo dos anos”, o parlamentar lembrou que algumas cooperativas “estão tecnicamente falidas há anos e apenas continuam a operar graças a uma contínua e descontrolada injeção de subsídios e apoios públicos”.
“Esta situação não só distorce a economia regional como compromete a confiança dos cidadãos nas instituições públicas. É tempo de pôr fim a esta dependência crónica e repensar o papel do setor cooperativo, promovendo autonomia, sustentabilidade e mérito e isso só se faz deixando-as trilhar os seus caminhos com liberdade e autonomia, com responsabilidade e com rigor”, defendeu.
Na opinião de Nuno Barata, “continuar a sustentar estruturas sobredimensionadas, em contexto de aumento generalizado de custos, é caminhar rumo a um beco sem saída”.
O secretário regional da Agricultura e Alimentação, António Ventura, reconheceu que algumas cooperativas “precisam ainda de ultrapassar fragilidades, desde logo, com uma melhor profissionalização da sua gestão”.
O governante adiantou que a dívida global das cooperativas de leite ronda atualmente os 63,5 milhões de euros (em 2020 era de cerca de 68 milhões de euros).
Também revelou que “muitas cooperativas, atendendo à implementação de uma gestão profissional e eficaz, têm vindo a realizar um trabalho notável, quer na redução da dívida como na valorização dos seus produtos”.
No debate, a deputada Patrícia Miranda (PS) referiu que as cooperativas agrícolas e a agroindústria “são, há décadas, pilares fundamentais da agricultura nos Açores”, mas considerou urgente a criação de planos estratégicos para a Modernização e Inovação da Agroindústria e para a Reestruturação e Modernização das Cooperativas Agrícolas.
O deputado Francisco Lima, do Chega, referiu que a intervenção de Nuno Barata foi oportuna, pois reflete a situação atual do setor cooperativo leiteiro no arquipélago.
Paulo Silveira (PSD) afirmou que as cooperativas têm um papel fundamental e são "verdadeiros pilares" para a fixação de população ativa no meio rural.
O parlamentar do BE, António Lima, apontou que as dificuldades por que passam algumas das cooperativas açorianas “são consequência de estratégias e de políticas que têm dominado o setor”.
Para João Mendonça (PPM), o setor agroindustrial “é um dos pilares fundamentais da economia dos Açores” e retirar apoio público às cooperativas “seria colocar os agricultores numa situação vulnerável face aos grandes grupos económicos”.
Já o deputado Pedro Neves (PAN) alertou que a agricultura açoriana “está a perder a sua parte extensiva e está a ser cada vez mais intensiva”.
O líder parlamentar do PSD, Bruto da Costa, afirmou que os Açores têm especificidades próprias que justificam “um apoio majorado” em relação às atividades tradicionais que são suportadas pelas cooperativas agrícolas.
Já a líder parlamentar socialista, Andreia Cardoso, concluiu, pelo resultado do debate, que é possível promover a valorização de produtos e atribuir “mais e melhores rendimentos” aos produtores.