Açoriano Oriental
"Eu não sou nada sozinho"
Primitivo Marques é a alma do Grupo que criou, mas em discurso directo elogia os mais de mil colaboradores e fala de “uma aventura de uma pessoa que se transformou num projecto colectivo” (Com vídeo)
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Autor: Olímpia Granada
O ano de 2007 - pleno de investimentos que se prolongaram por este ano - teve um significado especial?
O nosso mercado é pequeno e nós atingimos uma dimensão tal que temos que procurar sobreviver para fazer face à responsabilidade social, não só nossa, mas também dos nossos trabalhadores, das muitas pessoas que trabalham e acreditam em nós e no nosso projecto e que estão aqui, muitas vezes, de corpo e alma, acreditando que este é o projecto da sua vida! É-nos muito importante não quebrar a esperança das pessoas: muitas delas a única coisa que têm é o seu salário, vendem a sua força de trabalho por um salário e penso que é um desgosto para qualquer empresário não garantir, no mínimo, o posto de trabalho às pessoas que com ele trabalham. Isso para mim é de uma preocupação que não tem limites! E daí, portanto, a nossa vontade de crescer, de, enfim, estarmos a criar âncoras que possam garantir a sobrevivência.

Daí a diversificação da área de negócios?
Absolutamente. A razão principal foi a sobrevivência e a vontade de acreditar que nos Açores também é possível termos empresas com dimensão crítica. É também um desafio para os jovens fundarem as suas empresas, porque não se nasce empresário, vai-se aprendendo! Penso que seremos uma referência para aqueles que querem arriscar e que acreditam em si, porque a pessoa tem que acreditar em si para ter um projecto, tem que ter muita criatividade, tem que arriscar muito... e é preciso ter credibilidade junto da banca, uma situação que fomos conquistando a pouco e pouco e que nos permite continuar a investir. Não somos uma empresa capitalizada, mas também não somos uma descapitalizada, porque, senão, não fazíamos frente às nossas responsabilidades e, até hoje, temos honrado os nossos compromissos, apesar do endividamento alto, já que temos um volume de negócios muito interessante.

De quanto?
O nosso volume de negócios, neste momento, andará perto dos 30 milhões de euros anuais. Estamos a falar na ordem dos 16 milhões de euros na (área da) distribuição e 14 milhões de euros na construção, portanto de resultados consolidados. Acabámos por “enxugar” um pouco o organigrama no sentido de criar duas áreas distintas: uma, a da construção e a sua indústria, e outra, a da distribuição (que será a dos hipers, dos investimentos que se vão fazendo, novas lojas e, eventualmente, a compra de mais uma ou outra empresa de pequena dimensão...) para criar “músculo”. É um pouco loucura, numa altura destas, continuarmos a investir, mas penso que não há saída possível; para sobrevivermos temos que continuar a crescer com credibilidade, sustentação, muita seriedade e com muito trabalho. Repito muito esta frase aos nossos colaboradores: vivemos da nossa força de trabalho.

Quando decidiu arriscar estava a contar com o que aconteceu nos mercados financeiros?

Não. Penso que o prejuízo maior será ao nível da construção; é o risco de estarmos a construir, nomeadamente na parte imobiliária, com a possibilidade de não vendermos. Isso é complicado, muito complicado (...) e a nossa intenção é desacelerar. Mas eu estranho muito esta crise sob o ponto de vista financeiro, porque onde estavam os revisores oficiais de contas? As grandes empresas que fazem estudos, que avalizam as contas onde estavam? Houve, penso eu, ao nível dos quadros mais altos, uma desresponsabilização das funções.

E a economia real paga agora a factura?

De facto, e precisamos da confiança da banca. Não pedimos misericórdia, pedimos para não nos exigirem pagamentos antecipados: tanto o tecido empresarial português, como o açoriano vivem do endividamento razoável.
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