Açoriano Oriental
Açores com 70% da população vacinada
“Estamos ao nível dos 10 países com maiores taxas de vacinação”

Clélio Meneses, secretário regional da Saúde e Desporto destaca sucesso no processo de vacinação em curso na Região e defende manutenção de medidas de proteção

“Estamos ao nível dos 10 países com maiores taxas de vacinação”

Autor: Paulo Faustino

Já se pode falar em imunidade de grupo à Covid-19 nos Açores? O que é que os açorianos poderão esperar daqui para a frente?

Neste momento, o que podemos assegurar é que estamos a alcançar um alto nível de proteção da nossa população através do processo de vacinação. A discussão a propósito dos exatos níveis que garantem a imunidade de grupo tem interesse científico e merece a atenção das pessoas pela necessidade que têm em saber se ou quando estão livres da pandemia. De resto, nem há experiência de facto consistente a este respeito. Na verdade, apenas cerca de 6 países no mundo já chegaram aos 70% da população com vacinação completa. Por isso, o nosso propósito é vacinar o maior número de pessoas possível. Já atingimos, a 25 de agosto, 70% da população com vacinação completa, temos duas ilhas (Corvo e Santa Maria) com 80% ou mais da população completamente vacinada, temos mais 3 ilhas (São Jorge, Graciosa e Pico) muito perto de alcançar esse nível, São Miguel e Terceira atingem, nesta semana 70%. Nos Açores, cerca de 80% da população já tem pelo menos uma inoculação. No mundo inteiro, temos estado ao nível dos 10 países com maiores taxas de vacinação, o que diz muito do extraordinário trabalho desenvolvido, sobretudo pelos profissionais de saúde e dos responsáveis regionais e locais do processo nos Açores.

A partir de agora, como sempre temos afirmado, a proteção das pessoas faz-se, cada vez mais, pelo processo de vacinação e em modo inversamente proporcional através de medidas restritivas de atividades sociais, económicas, culturais, desportivas ou de outra natureza. No entanto, enquanto houver transmissão comunitária, como existe em São Miguel, e não atingirmos maiores taxas de vacinados teremos de continuar a manter algum tipo de medidas que assegurem a proteção das pessoas, na sua saúde e vida.

Qual o balanço possível de se fazer ao fim de vários meses de vacinação nos Açores, tendo presente o que correu bem e falhou durante todo este processo?

O balanço é clara e genericamente positivo. Podermos dizer que, numa Região dispersa por nove ilhas com um sistema de saúde deficitário como o nosso, estamos ao nível dos 10 países com melhores taxas de vacinação do mundo parece-me que reproduz o sucesso desta operação extraordinária de vacinação.

Obviamente que, num processo desta complexidade e exigência, com centenas de profissionais de saúde envolvidos, com transportes de vacinas de avião e até de barco de uma ilha para outra, com mais de 330 mil doses de vacinas inoculadas, há sempre imperfeições e momentos menos felizes que fizeram corrigir procedimentos e orientar práticas. Aqui chegados, podemos dizer que os erros de todas as partes envolvidas são insignificantes em face do trabalho realizado.

Depois de tudo o que já está determinado e operacionalizado, agora é necessário que as pessoas adiram à vacinação e, infelizmente, nas últimas semanas, temos tido dificuldades nesse aspeto. Por exemplo, na ilha de São Miguel, foi montada uma operação para vacinar cerca de duas mil pessoas por dia e tivemos dias em que não chegamos às 800 inoculações, ora por dificuldades ou impossibilidades de agendamentos, ora por recusa ou ainda pelo facto das pessoas não estarem a aderir à vacinação voluntária no método de casa aberta.

Olhando para trás, o que é que teria decidido de forma diferente?

É sempre mais fácil ter a razão do dia seguinte, avaliar de fora ou depois das situações acontecerem. Por isso, tentando reproduzir todos os momentos de decisão e colocando-me perante as todas as circunstâncias e informações disponíveis naquele preciso instante, sinto que teria agido com o mesmo sentido, sobretudo, porque sempre que tenho dúvidas sobre uma determinada decisão, ajo de acordo com o principal critério: a consciência. Sei bem que muitas das decisões, se não todas, foram tomadas perante interesses conflituantes e opostos, muitos deles altamente pressionantes e mesmo ruidosos, mas nunca isso foi determinante ou condicionante para o resultado. Sempre entendi a gestão da pandemia como um exercício de encontrar o ponto de equilíbrio entre a defesa da saúde pública e das vidas dos açorianos e o respeito pela liberdade das pessoas e pelas suas atividades sociais, económicas, culturais e pessoais em sentido estrito.

Hoje, passados quase nove meses de intensidade e responsabilidade deste processo, sinto que esse equilíbrio foi mais fácil e eficazmente encontrado numas situações do que noutras.

Qual a grande lição que o Serviço Regional de Saúde aprendeu com a pandemia nos Açores?

Sobretudo a consciência da enorme capacidade de resposta dos nossos profissionais de saúde. O que tem sido feito em mais de um ano de um combate tão exigente como este revela que os Açores têm profissionais de saúde de grande competência, entrega, dedicação e espírito de sacrifício e que constituem uma enorme riqueza para o que temos de fazer nos próximos tempos ao nível da reforma e melhoria dos cuidados de saúde a prestar aos açorianos.

Por outro lado, ficou evidente que quando trabalhamos em conjugação de esforços, em parceria, partilha e solidariedade incondicional tudo é mais fácil e eficaz. Constatamos que os resultados alcançados devem-se, em primeiro lugar, a todos os que têm estado na linha da frente, também, ao trabalho conjunto de dirigentes e colaboradores, regionais e de ilha, com envolvimento dos profissionais e dos seus representantes, sendo de registar o trabalho, por exemplo, da Ordem dos Enfermeiros, com a participação da Proteção Civil e das associações de bombeiros da Região, com a interação das autarquias locais, com a colaboração das forças militares e, sobretudo, com a adesão das pessoas.

Consegue quantificar o gasto global  com a pandemia?

Neste momento, este valor não está apurado. No entanto, podemos dizer que o combate à pandemia, só na área específica da Saúde, exigiu à Região um esforço financeiro acima de qualquer previsão e que, neste momento já é superior a 65 milhões de euros. Só em testes a Região gasta mensalmente cerca de 2 milhões de euros.

A decisão de abrir a economia é irreversível ou admite a possibilidade de, mesmo com a população vacinada, voltar a haver recuos neste processo?

Não há quem consiga prever o que se vai passar no futuro a este nível, como ninguém previa o que sucedeu com a atual pandemia ou com os sucessivos surtos que foram ocorrendo. O que podemos dizer é que há um caminho definido na Região no sentido de que com o avanço da proteção da população através da vacinação deixa de fazer sentido a proteção através de medidas restritivas de circulação, atividades ou contactos, sendo certo, porém, que enquanto não atingirmos maiores níveis de proteção vacinal pode sempre haver a necessidade de, cumprindo com as matrizes de risco e medidas associadas, ter de se proceder a algum tipo de medidas mais condicionadoras da vida das pessoas e das empresas.

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