Açoriano Oriental
Escola de Negócios vai incentivar criação de pequenas empresas

Objetivo da medida, apresentada ontem, é promover a criação de autoemprego, através de novas micro e pequenas empresas, em especial em concelhos com economias menos dinâmicas

Escola de Negócios vai incentivar criação de pequenas empresas

Autor: Paula Gouveia

Dar a desempregados a oportunidade de criar o seu próprio negócio é o objetivo da nova medida de emprego “Escola de Negócios”, apresentada ontem, em Ponta Delgada, pela secretária regional da Juventude, Qualificação Profissional e Emprego, Maria João Carreiro.

A medida tem como objetivo “promover a criação de postos de trabalho em zonas deficitárias de ofertas de emprego, incentivando o desenvolvimento do tecido empresarial local e a fixação da população em zonas mais rurais e com perda de população”, explicou a secretária regional.

A Escola de Negócios vai arrancar ainda este ano como projeto-piloto, nos concelhos do Nordeste, na ilha de São Miguel, e Praia da Vitória, na ilha Terceira.

Poderão frequentá-la desempregados com escolaridade obrigatória ou, no mínimo, o 9.º ano de escolaridade, recém-diplomados (com curso de nível IV ou superior), e quem tenha concluído o seu estágio há menos de seis meses, ficando a seleção dos participantes à responsabilidade das entidades formadoras, em articulação com o Centro de Qualificação e Emprego.

Quem for selecionado para a Escola de Negócios passará por três fases: a fase da Ideia de Negócio e a fase do Projeto de Negócio que terão uma duração de três meses e durante as quais será atribuída uma bolsa mensal (no valor do Indexante dos Apoios Sociais), e, depois, por último, a fase de Abertura do Negócio.

Na primeira fase, o “objetivo é capacitar os participantes em áreas essenciais ao empreendedorismo e à abertura de um negócio”, explicou Maria João Carreiro. E, como tal, inclui “formação específica, à medida e motivacional, bem como sessões de brainstorming com empresas estabelecidas no mercado, elaboração de diagnóstico de necessidades locais e elaboração de uma ideia de negócio a apresentar a um júri que vai integrar, entre outros, um membro da comunidade”.

Na segunda fase, o objetivo é elaborar um plano de negócio que “apresente viabilidade económica e financeira, e que seja suscetível de criar o próprio emprego do participante”, sendo assegurado o apoio técnico da entidade formadora.

Na última fase, é atribuído um apoio financeiro às micro e pequenas empresas que iniciaram atividade e criaram emprego para o próprio participante, correspondente a 18 vezes a Retribuição Mínima Mensal Garantida na Região, sendo acumulável com outras medidas de apoio ao investimento como o “Jovem Investidor” e “Pequenos Negócios”, integradas no novo sistema de incentivos Construir 2030.

“Existem oportunidades por explorar nos diferentes setores e áreas de atividade” e “a “Escola de Negócios vai contribuir para a construção de respostas a estas oportunidades através da criação do próprio emprego”, sustentou a governante.

Para a secretária regional, esta é uma medida que “pode contribuir para a fixação de população nos diferentes concelhos da Região, com economias menos dinâmicas, integrando numa mesma fórmula empreendedorismo, autoemprego e desenvolvimento do tecido empresarial local, com os benefícios que daí decorrem também para a coesão social e territorial e para a redução das assimetrias sociais e económicas”.

Empreendedores dão o seu exemplo a jovens formandos

Na apresentação da medida Escola de Negócios, um grupo de formandos da Escola de Formação Turística e Hoteleira e do Centro de Qualificação dos Açores pôde assistir ao testemunho de dois jovens empreendedores de sucesso - Paula Rego, fundadora da Queijaria Furnense, e João Rocha, fundador da “The Barbershop by João Rocha”. “Histórias reais e incríveis de vida, em que os percursos profissionais estão marcados por ambição, trabalho persistente e por sucesso, mostrando que todos nós, mais do que sonhar podemos concretizar e com luta podemos dar corpo aos nossos sonhos e sermos felizes”, salientou na ocasião o diretor regional de Qualificação Profissional e Emprego, Nuno Gomes.

Paula Rego, de 24 anos, contou como desde os 8 anos conciliou os estudos com o trabalho na lavoura dos pais nas Furnas, e o sonho de ser veterinária se tornou distante quando concluiu, no 11.º ano, que as notas não o permitiriam concretizar; e como o curso de Mesa-Bar na Escola Profissional de Vila Franca do Campo acabaria por ser crucial na abertura do seu próprio negócio com apenas 17 anos.

Paula confessa que o arranque da produção do queijo aproveitando o recurso natural da sua freguesia - a ‘água azeda’ - “não foi fácil”: “tivemos um ano e meio de experiência, um bocadinho de burocracia que é uma das principais dificuldades a enfrentar pelos jovens”, e “cheguei a ouvir vários ‘nãos’ na cara”. Mas, perante cada ‘não’ procurou a solução para o problema. Explica ter-se tornado empreendedora tão cedo numa única frase: “eu sou o espelho do que tenho em casa: o meu pai e a minha mãe sempre trabalharam pelo que têm hoje”. E hoje Paula tem uma queijaria com capacidade para transformar 2500-3000 litros por dia, produzindo 900 queijos diariamente, e 12 funcionários.

João Rocha, por sua vez, natural da Terceira, premiado “Barber of the year”, e conhecido como o “barbeiro das estrelas”, começou a sua vida profissional numa funerária, onde começou a trabalhar numas férias e acabou por ficar durante sete anos, para depois abrir um stand de motas que acabaria por fechar em 2009 quando a crise económica lhe trocou as voltas, e como acabou por se tornar barbeiro fruto de um acaso.

“Nunca foi o meu sonho cortar cabelo ou ser barbeiro”, contou João Rocha. Explicando que a funerária foi “uma escapatória” num momento em que não sabia o que fazer, João Rocha revelou que “a primeira vez que sentiu algo de empreendedor foi quando percebeu que havia uma lacuna entre os amantes de motocrosse na ilha e decidiu abrir um negócio de venda de motas. Depois do negócio entrar em crise, pensou que nunca mais iria querer ter uma empresa própria. E, quando estava desempregado, fez animação de rua e passou pelas obras, mas numa viagem a Lisboa, para acompanhar a mulher que estava a fazer uma formação na área da estética, seria interpelado por um formador na área de barbearia que lhe perguntou se não queria fazer o curso e lhe disse não conhecer nenhum barbeiro desempregado. Aquele seria um ponto de viragem na sua vida, e a paixão pela profissão surgiu quando cortou o cabelo a um sem-abrigo e o viu a chorar perante o resultado. Hoje tem barbearias, uma academia de formação e é embaixador de marcas mundiais, nomeadamente em Portugal e Espanha.

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