Açoriano Oriental
Cortejo de Carnaval enche centro histórico com muitas fantasias (Vídeo)

O tradicional corso de Carnaval realizado em Ponta Delgada reuniu mais de 2500 participantes, que apresentaram uma grande variedade de fantasias, muita alegria e boa-disposição à mistura

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Autor: Rafael Dutra

O centro histórico de Ponta Delgada ficou repleto ontem, de manhã, com uma multidão que envolveu mais de 2500 participantes no corso de Carnaval.

Depois de vários dias de chuva, o bom tempo regressou para dar a oportunidade a miúdos e graúdos de mostrarem as suas fantasias durante o cortejo.

Pelas 10h00, o número de grupos, escolas e instituições concentradas no Campo de São Francisco já era bastante considerável.

Com muito barulho e música, a boa-disposição, animação e o entusiasmo era geral, mas verificava-se sobretudo nas caras dos mais jovens.

Na ocasião, era possível visualizar os mais variados trajes e fantasias, inspirados numa multiplicidade de animais, heróis, princesas, tradições populares, séries, filmes e até na natureza.

Sob o olhar atento de quem não estava fantasiado - muitos pais e familiares dos que estavam a participar, mas não só -, vestidos em fantasias coletivas, com o mesmo tema, ou à mercê das preferências de cada um, participaram no corso seis creches e jardins de infância, cinco escolas básicas integradas, cinco estabelecimentos de ensino privado, três escolas profissionais e sete instituições.

Neste corso de Carnaval, cujo percurso envolveu dez ruas do centro histórico de Ponta Delgada, havia quem gostasse de se mascarar utilizando figuras e personalidades como referência. No caso de Henrique, de sete anos, o gosto pelo futebol é visível.

Vestido a rigor, com o seu uniforme completo do Sport Lisboa e Benfica, Henrique confessa que gosta muito de futebol e do Benfica, afirmando que o seu jogador preferido é o... Cristiano Ronaldo.

Já Carolina, de cinco anos, gosta de ratos animados, mais concretamente da Minnie Mouse, o que motivou o uso da sua fantasia.

As fantasias de eleição no Colégio de Castanheiro foram os trajes tradicionais folclóricos, como usados pela aluna Carlota Oliveira, de nove anos.

Por seu lado, de óculos de sol e vestido à piloto-aviador, o estilo de Rodrigo, de oito anos, é inconfundível. Numa fantasia que remete para o filme Top Gun, este ‘Maverick’ açoriano até nem foi quem escolheu o traje.

“A minha mãe disse que gostava muito de ser piloto e eu também gosto de ser piloto e gosto dos mecanismos dos aviões”, afirmou Rodrigo, aluno da Escola Externato ‘A Passarada’, acrescentando ainda que gosta muito do ambiente do cortejo: “Gosto da barulheira, da bagunça e dos bombos que às vezes tocamos”.

Por falar em bombos, Rodrigo Soares, de nove anos, colega do seu homónimo, usa este instrumento musical como seu acessório.

“Estou inscrito na Escola de Música”, refere, explicando que gosta da área musical e que o desfile é a sua parte preferida do Carnaval.

Se este evento é uma boa ocasião para os mais novos se abstraírem do ensino normal e se divertirem noutro tipo de contexto, é também uma boa altura para lhes incutir alguns valores e preocupações como as questões ambientais.

Vestidos de verde, com folhas e ramos na cabeça e colados ao tronco, as pequenas árvores da Escola Linhares Furtado, que pertence à EBI Canto da Maia, passearam pelas ruas do centro de Ponta Delgada.

Questionada pelo AO, a pequena Maria, de cinco anos, muito envergonhada, inspirada na sua fantasia, usou o silêncio da natureza para se exprimir.

Por outro lado, a Joana, da mesma idade, vestida de “uma floresta”, não hesitou em dizer que gosta do Carnaval e de se mascarar.

Conforme explica, em declarações ao Açoriano Oriental,  a  professora da Escola Linhares Furtado, Susete Oliveira, este ano tiveram como slogan: “proteger as florestas”.
Para a professora o objetivo é “tentar incutir”, aos mais jovens, “hábitos e condutas”, de forma a “promover a ecologia e a sustentabilidade ambiental”.

Também com a mesma ideia, mas com uma fantasia diferente, os espantalhos da Escola Cecília Meireles, da Fajã de Cima, usaram o mote da natureza para os trajes do cortejo carnavalesco.

“Vieram de espantalhos para ver se espantam a crise toda que há por aí, e para ver se alegra as coisas”, sustenta, em tom de brincadeira, Cláudia Botelho, da Escola Cecília Meireles, acrescentando que se trata de trajes reciclados “com serapilheira e afins”, feitos pelos próprios alunos, em atividades  decorridas na escola.

Com as caras pintadas de preto e branco e boinas francesas na cabeça, um grupo de cerca de 30 a 40 mimos também participou no corso carnavalesco de Ponta Delgada.
Porém, estes não se quiseram pronunciar ao Açoriano Oriental, pelo menos, não através da oralidade.

No entanto, há quem queira, através da sua fantasia, deixar um comentário social, como é o caso dos idosos do Centro de Dia de São Sebastião, vestidos de reclusos e guardas prisionais, numa clara alusão à sobrelotação e a falta de condições do Estabelecimento Prisional de Ponta Delgada, que, na última semana, transferiu cerca de 20 reclusos para outros estabelecimentos em Portugal Continental.

“Brincando, a gente quer dar alguma ‘nicadela’. Estamos ainda à espera de um novo estabelecimento”, relembra o presidente de Junta da Freguesia de São Sebastião, irreconhecível na sua fantasia de prisioneiro.

“Como é Carnaval ninguém leva a mal, mas há que pensar nisso”, frisa José Maria Rego.

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