“Temos um sistema que evoluiu muito positivamente, mas que ainda mantém alunos de famílias pobres, com ‘backgrounds’ de fragilidade económica e social, sem aprender aquilo que poderiam e deveriam”, alertou o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Domingos Fernandes, no dia em que foi divulgado o relatório "Estado da Educação 2024".
O relatório denuncia que Portugal continua a ter dificuldades em contrariar o destino de quem nasce numa família desfavorecida, sendo habitual ver alunos mais pobres com percursos escolares mais erráticos: Chumbam mais, desistem mais dos estudos e chegam em menor número ao ensino superior.
“As crianças e jovens das classes mais desfavorecidas estão, de facto, numa grande desvantagem, apesar dos esforços que têm sido desenvolvidos e que continuam a ser desenvolvidos para, por exemplo, financiar melhor a ação social escolar”, disse Domingos Fernandes em declarações à Lusa.
Para o presidente do CNE, o problema tem de ser atacado logo na infância, com um reforço de oferta de pré-escolar e com “programas nacionais fortes de apoio à aprendizagem da leitura e da escrita”.
“É fundamental cuidar da educação nos primeiros anos, porque logo aí milhares de alunos começam a ficar para trás e não concluem sem “chumbos””, alertou, defendendo que para aprender "é absolutamente fundamental" saber ler e escrever bem.
Domingos Fernandes lembrou também que os alunos são “competentes a reproduzir informação, mas bastante menos competentes quando é requerida a elaboração cognitiva”, por isso o CNE defende o fomento de competências que facilitem a aprendizagem, como o pensamento crítico e a capacidade de raciocinar e resolver problemas.
A baixa escolarização da população adulta e a pouca oferta de formação é vista por Domingos Fernandes como uma “situação muito grave” que também precisa de ser combatida.
Mais de um terço da população ativa não concluiu o ensino secundário, sublinha o Estado da Educação 2024, que mostra que esta é a realidade de 38,5% dos portugueses entre os 25 e os 64 anos. Outros 30,1% dos adultos concluíram a educação secundária ou pós-secundária e 31,4% a educação terciária.
A formação média dos adultos portugueses é muito inferior à média da União Europeia e da OCDE, refere ainda o Estado da Educação, que mostra também que há cada vez menos adultos em programas de formação e que 40% dos adultos que vivem em Portugal só conseguem compreender textos simples e fazer contas básicas.
Este último dado foi divulgado há exatamente um ano no Inquérito às Competências dos Adultos realizado pela OCDE, que colocou os portugueses em penúltimo lugar de uma tabela de 31 países, só à frente dos chilenos.
Perante este cenário, o presidente do CNE recomendou uma “estratégia nacional” para a formação de adultos e uma “política mais robusta” que acabe com as “baixas taxas de execução de formação de adultos”.
“Temos uma situação bastante grave. Temos centenas de milhares de pessoas na vida ativa que não têm o diploma do ensino secundário e muitos sem o diploma do 9.º ano, têm apenas o 6.º ano. Não têm competências para resolver problemas muito simples”, alertou Domingos Fernandes.
Para o presidente do CNE, a falta de formação da população adulta e a dificuldade em compreender textos um pouco mais elaborados levanta “problemas sérios de coesão social, de salários, de funcionamento da própria sociedade e de funcionamento da própria democracia, porque estas pessoas não estão preparadas para participar na vida pública”.
