Açoriano Oriental
2020
Centro-direita “em construção” nas sondagens, mas de volta ao poder nos Açores

O centro-direita continuou em 2020 sem descolar nas sondagens nacionais, mas PSD e CDS-PP voltaram ao poder na Região Autónoma dos Açores, sem vencer eleições e graças ao apoio dos novos partidos Chega e Iniciativa Liberal.

Centro-direita “em construção” nas sondagens, mas de volta ao poder nos Açores

Autor: AO Online/ Lusa

Na semana passada, o Presidente da República e recandidato ao cargo, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou em entrevista à SIC que não vetará a participação de nenhum partido em futuras soluções de Governo (nem exigirá acordos escritos), numa alusão ao Chega, mas considerou que a alternativa de direita ao Governo socialista continua "em construção" e salientou que este espaço político precisa de 45% para chegar ao poder.

Apesar de todas as sondagens apontarem subidas à Iniciativa Liberal e, sobretudo, ao Chega (atualmente com apenas um deputado cada na sua estreia em legislativas em 2019), todo o centro-direita em conjunto continua a somar tantos ou menos votos do que o PS sozinho.

No PSD e no CDS-PP, o ano de 2020 começou com disputas internas: nos sociais-democratas, a luta interna que marcou os primeiros dois anos da liderança de Rui Rio teve o seu auge numas diretas muito disputadas e que acabaram numa inédita segunda volta, com o atual presidente a derrotar Luís Montenegro em 18 de janeiro e já a caminho de completar três anos à frente dos sociais-democratas, apesar de derrotas nas europeias e legislativas em 2019.

Arrumada a disputa interna, os críticos mantiveram-se em silêncio quase total durante longos meses e Rio, depois de uma assumida colaboração com o Governo na primeira fase de combate à pandemia, endureceu o discurso após o verão e votou contra o Orçamento do Estado para 2021, não só pelo conteúdo, mas também pela forma como o primeiro-ministro, António Costa, afastou o PSD destas negociações, ao dizer que quando tivesse de negociar um Orçamento com os sociais-democratas, o seu Governo acabaria.

Nos democratas-cristãos, e depois da demissão da anterior líder Assunção Cristas, em função dos maus resultados nas legislativas (pouco mais de 4%), Francisco Rodrigues dos Santos foi eleito presidente em Congresso no final de janeiro, derrotando João Almeida e Filipe Lobo d’Ávila (que acabou seu vice-presidente).

Menos de um ano depois, a nova liderança centrista tem sido alvo de críticas internas, e houve também alguns momentos de tensão com o grupo parlamentar, como quando Rodrigues dos Santos criticou o apoio do primeiro-ministro à recandidatura do presidente do Benfica, que o líder parlamentar também apoiou, ou mais recentemente quando o CDS se absteve na votação da declaração do estado de emergência, por indicação da direção, decisão que foi criticada por dois deputados, incluindo Telmo Correia.

João Gonçalves Pereira, deputado e líder da distrital de Lisboa, defendeu que a deputada Cecília Meireles seria uma boa opção para nova líder do partido, mas a parlamentar também já chegou a ser desafiada por alguns dirigentes a ceder o lugar no parlamento a Francisco Rodrigues dos Santos (uma vez que ele foi segundo na lista do círculo do Porto, pelo qual ela foi eleita).

O presidente do CDS, que algumas vezes marcou declarações aos jornalistas no parlamento, tem vindo a público reiterar a confiança no grupo parlamentar e culpa a pandemia pelo facto de não ter podido “fazer da rua o seu escritório”, como prometeu no congresso de janeiro, desvalorizando as sondagens e realçando o resultado nos Açores, o primeiro desafio eleitoral da sua direção.

Os resultados nos Açores em outubro - em que o PS venceu, mas sem maioria absoluta - abriram a possibilidade de o centro-direita regressar ao poder mais cedo do que previa: com uma coligação formal entre PSD, CDS-PP e PPM, os três partidos ficavam a três deputados da maioria absoluta e foi preciso garantir o apoio parlamentar dos que faltavam, o que passou por acordos com IL e, mais polémico, com o Chega.

As críticas ao acordo com o partido liderado por André Ventura chegaram violentas do lado da esquerda, com António Costa a acusar o PSD de passar “uma linha vermelha” ao fazer um acordo com um partido “da extrema-direita xenófoba”, mas no PSD e CDS-PP as vozes contra foram sobretudo de ‘desalinhados’, como os sociais-democratas Jorge Moreira da Silva, José Eduardo Martins ou, num primeiro momento, o democrata-cristão Adolfo Mesquita Nunes.

Mais recentemente, este foi também um dos temas em discussão no Conselho Nacional do CDS, tendo sido pedida uma “estratégia clara” para lidar com o Chega.

Antes do verão, Rui Rio já tinha admitido a possibilidade de “conversar” com o Chega se o partido se “moderasse” e, no caso dos Açores, considerou que a formação política de Ventura se conteve nas exigências que fez, deixando claro que um cenário idêntico se poderá repetir a nível nacional.

Em entrevista à TVI, o líder do PSD assegurou que “nunca na vida” um Governo seu “se colocará nas mãos do Chega” ou integrará um partido “dos extremos”, mas não rejeitou o apoio parlamentar deste ou de outro partido, se tal depender de propostas coincidentes com as suas.

André Ventura - que tinha afirmado na convenção do Chega, em setembro, que com ele na liderança “coligações nem vê-las” - escreveu em dezembro aos militantes indicando quatros pastas que exigiria (Justiça, Administração Interna, Segurança Social e Agricultura) para integrar um executivo de centro-direita.

Se nas presidenciais de janeiro PSD e CDS-PP convergem no apoio ao provável vencedor Marcelo Rebelo de Sousa, para as autárquicas do outono do próximo ano as conversas formais sobre coligações só arrancarão em janeiro, calendário definido por Rio e que alguns democratas-cristãos já contestaram.

A nível nacional, Francisco Rodrigues dos Santos já defendeu a reedição da antiga Aliança Democrática, mas, por enquanto, não está no horizonte qualquer coligação pré-eleitoral com o PSD de Rui Rio, e os dois líderes apenas tiveram uma reunião pública, em fevereiro.


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