Autor: Rafael Dutra
A Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada (CCIPD), dada as particularidades da Região Autónoma dos Açores, revela preocupação para com o “bom funcionamento” da economia insular, se a greve dos pilotos de barra e portos, que decorre, num primeiro período, até às 07h00 de amanhã, se prolongar.
“A greve dos pilotos naturalmente que condicionará a operação dos navios nos portos dos Açores, o que, em si, é um problema grave para a Região, na medida que não existe alternativa ao abastecimento da Região e à saída de mercadorias, a não ser o transporte marítimo para, diria que mais de 95% de todas as cargas que nós precisamos movimentar”, explicou ontem o presidente da CCIPD, em declarações ao Açoriano Oriental.
Para Mário Fortuna, esta é uma greve que tem “um efeito muito mais paralisante” nos Açores, do que “propriamente numa região continental onde a mercadoria pode chegar pela ferrovia ou pode chegar pela rodovia”, realça. E acrescenta: “No caso das regiões insulares não há esta opção, é o caso dos Açores, é o caso da Madeira. Portanto, esta greve, para nós, a concretizar-se de forma prolongada será muito penosa e arrecadará custos adicionais a um sistema de transporte marítimo que já é excessivamente caro em termos comparativos”.
Questionado sobre o impacto que a greve terá na Região, o presidente da CCIPD diz que a mesma afetará “inúmeras áreas do comércio”, não só no abastecimento corrente para bens de consumo das pessoas, mas também para o “abastecimento corrente do aprovisionamento das indústrias” e para a própria “exportação”.
Relativamente aos serviços mínimos, que decorrerão hoje nos Açores, Mário Fortuna indica que não sabe os alcances dos serviços mínimos decretados para a greve, mas espera que sejam “razoáveis”, para o “normal funcionamento” da economia açoriana.
“A nossa expectativa é que as obrigações de
serviço mínimo sejam razoáveis e que não vão ao ponto de bloquear o
funcionamento do abastecimento normal da Região”, afirma, sublinhando
que estas greves são “muito sensíveis” para o “bom funcionamento” da
“economia insular”.
Greve dos pilotos de barra e portos com adesão a 100% nos Açores
Nos Açores, segundo um dirigente sindical de uma das entidades que convocou a greve, o impacto desta manifestação será “ligeiramente reduzido”, tendo em consideração os serviços mínimos decretados, havendo a possibilidade de serem feitas duas manobras a navios de abastecimento.
Nesse sentido, durante os períodos de greve, irá haver uma paralisação que terá impacto em termos das exportações e importações por via marítima em Portugal.
Trata-se de uma greve que tem por base a “reforma antecipada”, neste caso com pré-reforma a partir dos 60 anos e reforma a partir dos 65 anos.
“O que motivou [a greve] é a pretensão que foi identificada pelos pilotos da necessidade da reforma antecipada, em virtude das suas funções e da perigosidade da nossa profissão. Foi identificado um conjunto de condições relacionadas com a segurança e com os aspetos físicos e cognitivos que o piloto necessita ter, que não são compatíveis com o prolongar da idade da reforma, que sucessivamente tem vindo a acontecer”, explicou Jorge Monteiro, dirigente do Sindicato dos Capitães, Oficiais Pilotos, Comissários e Engenheiros da Marinha Mercante (Oficiaismar), em declarações ao Açoriano Oriental.
Segundo o dirigente sindical são problemas que começaram a ser identificados em 2018, surgindo depois as respetivas reivindicações, neste período.
No
entanto, “tem havido uma série de percalços que têm conduzido a que
este situação se tenha alongado no tempo e que urge resolver de uma vez
por todas”, adiantou Jorge Monteiro, dando o exemplo de acordos que não
foram concretizados, que estavam “quase fechados” com a com a ministra
Ana Paula Vitorino, ou com o ministro João Galamba.
“Anteriormente já
tivemos o caso do ministro João Galamba. Tivemos um acordo quase
fechado e dois dias antes de fechar o acordo ele demitiu-se do Governo”,
recorda.
Durante a greve, só se poderão fazer manobras ao abrigo dos
serviços mínimos “que estão acordados através do Tribunal Arbitral”,
afirma o dirigente do sindicato Oficiaismar.
Jorge Monteiro realça
ainda que irá haver “um grande impacto a nível nacional”, uma vez que “a
maior parte das exportações e importações faz-se por via marítima”. “A
greve é nacional, tem impacto em todos os portos e, neste momento, é de
100%. O país está parado por este motivo de greve”, frisa.
Não obstante, ressalva que os Açores “estão um pouco protegidos” por causa dos serviços mínimos, em que é possível realizar “duas manobras no segundo dia de greve”.
“[Nos Açores] será ligeiramente reduzido o impacto em relação ao todo nacional”, finaliza o dirigente sindical.
A partir das 7h00 de 23 de setembro até à mesma hora do dia 25, os pilotos de barra e portos voltam a parar.
Está também agendado um terceiro período de greve, que vai decorrer entre 30 de setembro e 2 de outubro, sendo a hora de início e de fim igual à dos restantes períodos.
A greve foi convocada pelo sindicatos dos
Oficiaismar/Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações
(Fectrans) e Sindicato de Capitães e Oficiais da Marinha Mercante
(Sincomar).