Desde 1995 que a campanha SOS Cagarro promovida pelo Governo Regional dos Açores, em colaboração com associações e voluntários, resgata animais juvenis da espécie Calonectris borealis desorientados pelas luzes no primeiro voo ao abandonar o ninho.
Segundo dados do executivo açoriano, em 30 anos foram resgatadas mais de 100 mil aves de uma espécie que já se tornou icónica no arquipélago.
Num balanço da campanha deste ano, que decorreu de 15 de outubro a 15 de novembro, as seis associações lançaram um apelo, em comunicado, com cinco recomendações para melhorar a preservação desta espécie.
Pedem um aumento dos meios disponíveis por parte das autoridades governamentais para implementar a campanha SOS Cagarro, lembrando que ela depende sobretudo de voluntários, com capacidades limitadas.
“Torna-se urgente, por exemplo, além do reforço da ação dos vigilantes da natureza, essenciais para o transporte e devolução ao mar de todas as aves recolhidas, garantir a colaboração organizada do SEPNA [Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente] da GNR, da Polícia Marítima, das corporações dos Bombeiros Voluntários, do pessoal das diferentes secretarias regionais e das autarquias locais”, lê-se no comunicado.
As associações propõem a criação de “um número telefónico de apoio para cada ilha de maior dimensão para reforçar a coordenação entre quem encontra as aves e as entidades responsáveis” e a instalação de cartazes “a apelar a uma redução de velocidade nas estradas mais problemáticas”.
Defendem ainda a criação de uma verdadeira rede de Centros de Recuperação de Fauna nos Açores e a contratação efetiva de médicos veterinários especializados em aves selvagens.
Segundo os signatários, muitas vezes as aves são encontradas com feridas e lesões e sem acompanhamento de um veterinário têm “reduzidas probabilidades de sobrevivência”.
“Uma região com as características e importância dos Açores não se pode permitir ficar sem uma rede de centros destinados ao cuidado e recuperação de fauna selvagem. Importa salientar que os centros inaugurados há alguns anos com este objetivo nunca chegaram, na prática, a funcionar plenamente”, apontam.
Para as associações é preciso agir também na prevenção, reduzindo de forma significativa a poluição luminosa noturna “durante as duas ou três semanas em que ocorre a saída dos juvenis dos ninhos”.
“Os esforços realizados até ao momento não são suficientes, como demonstra o elevado número de aves caídas também neste ano”, alertam, considerando que “é necessário definir prazos para uma implementação obrigatória destas medidas nos pontos mais problemáticos da região”.
As associações sugerem que sejam criadas medidas de proteção de colónias de nidificação em locais do litoral não incluídos em áreas protegidas e que o cagarro, “um dos elementos naturais mais emblemáticos da região”, seja declarado como “Ave Regional dos Açores”.
“A atribuição deste estatuto simbólico irá responder ao marcado sentimento de orgulho que o cagarro gera entre os açorianos e reconhecer também o compromisso de todos os participantes na campanha ao longo dos anos”, justificam.
O comunicado é assinado pelas associações ecológicas Amigos dos Açores e Amigos do Calhau, pela Associação para a Promoção e Proteção Ambiental dos Açores (APPAA), pelo núcleo dos Açores da Associação Nacional de Ambiente IRIS, pelo núcleo de São Miguel da Associação Nacional de Conservação da Natureza Quercus e pela Avifauna dos Açores.
