Açoriano Oriental
Associação Amigos do Calhau denuncia atentado ambiental na Lagoa

Ambientalistas insurgem-se contra obra do passeio marítimo da Lagoa por ter sido efetuada, num dos seus tramos, dentro da área de nidificação dos cagarros e durante a época reprodutora desta espécie

Associação Amigos do Calhau denuncia atentado ambiental na Lagoa

Autor: Paulo Faustino

A Associação Amigos do Calhau (AAC) considera que a utilização de maquinaria pesada no âmbito da obra do passeio marítimo da Lagoa, em São Miguel, com o objetivo de acondicionar uma zona balnear dentro do seu tramo mais a poente, constitui um “claro atentado ambiental” por ter sido efetuada dentro da área de nidificação dos cagarros.

“A Associação Amigos do Calhau constatou a utilização de maquinaria pesada para acondicionar uma zona balnear dentro deste tramo do litoral, realizando diversas movimentações de rochas. E esta intervenção foi efetuada mesmo dentro da área de nidificação dos cagarros e durante a época reprodutora da espécie, o que constitui um claro atentado ambiental”, pode ler-se num comunicado da AAC.

A AAC, que já tinha denunciado a obra pelo facto do referido tramo invadir uma zona litoral de grande valor ecológico, incluindo uma colónia de nidificação de cagarros, aponta o dedo à Câmara Municipal da Lagoa: “Ao elevado impacto negativo produzido pela construção desta obra devem acrescentar-se agora os esforços que são feitos por parte da câmara para criar uma maior artificialização desta área, com o propósito da sua utilização como zona balnear”.

A associação lembra que as colónias de cagarros defrontam-se com outras ameaças, como cães, gatos, ratos e mustelídeos, “que causam uma elevada mortalidade entre as aves e que deveriam ser afastados dos lugares de nidificação”, a que se junta a perda do habitat de nidificação da ave devido à invasão do litoral por plantas exóticas, como a cana.

Perante o exposto, a associação pede que todas as colónias de cagarros, mesmo os ninhos isolados, sejam efetivamente protegidas pelas autoridades, exortando a que a primeira medida a adotar seja, “logicamente, evitar a destruição direta do habitat de nidificação, evitando também a perturbação das colónias durante os meses que dura a época de reprodução”.

“Para além dos recorrentes ataques à nossa fauna e flora nativa, é preocupante ver como em pleno século XXI continua a predominar a ideia de que a única forma de tirar proveito do litoral é destruir toda a natureza nele existente, construir obra acima dele, artificializar ao máximo o seu aspeto e transformá-lo num recurso destinado unicamente à exploração turística”, acentua a AAC.

O cagarro é uma ave marinha emblemática dos Açores, onde nidificam três quartas partes de toda a população mundial desta espécie (Calonectris borealis). A legislação regional classifica este animal como espécie de conservação prioritária.


PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados