Açoriano Oriental
Apagou-se o que poderia ser um "incêndio devastador"
Cinco anos após a nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), o então ministro das Finanças afirma-se convicto que "foi a melhor decisão" e que se apagou a "fagulha" que poderia provocar um "incêndio devastador no sistema financeiro".
Apagou-se o que poderia ser um "incêndio devastador"

Autor: Lusa/AO Online

 

“O ambiente que se vivia na Europa e, também, em Portugal era um ambiente quase incendiário, porque uma pequena fagulha provocaria um incêndio que podia ser devastador no sistema financeiro”, recordou Fernando Teixeira dos Santos em entrevista à agência Lusa.

Com uma “memória muito viva dos tempos” então vividos, o ex-ministro das Finanças do Governo de José Sócrates - que, a 02 de novembro de 2008, decidiu a nacionalização do BPN - descreve um “ambiente muito, muito, muito sensível, para não dizer perigoso”, em torno da credibilidade do sistema bancário.

“Na altura o risco era muito sério”, recorda, salientando que havia passado “pouco mais de um mês após a falência do [banco norte-americano] Lehman Brothers”, pelo que a situação se assumia como “uma ocorrência de alto risco para o sistema financeiro” português.

“Pressentia-se grande instabilidade e muitos receios dos depositantes relativamente a alguns bancos, e bancos importantes. Assistimos a movimentos de muitos depositantes, que retiraram dinheiro dos seus bancos e o colocaram noutros que achavam mais seguros. Recordo várias notícias da imprensa económica que até perguntavam se o dinheiro estava seguro no banco”, recua Fernando Teixeira dos Santos.

Neste “ambiente de grande receio”, o ex-ministro estava e continua convicto que “uma falência do BPN iria gerar uma situação de pânico e de corrida aos bancos com efeitos devastadores no sistema financeiro”.

É que, sustenta, embora o BPN fosse “um banco relativamente pequeno” no contexto do sistema bancário português, poderia ser “a pequena fagulha” que iria “alavancar uma grande instabilidade e grandes receios”.

“Apesar de tudo, era um banco que tinha mais de 200 mil clientes e depósitos num montante em volta dos 5.000 milhões de euros na altura, valores que já eram significativos”, nota, acrescentando: “Mesmo sabendo o que sei hoje, acho que essa foi, apesar de tudo, a melhor decisão. Estou convencido que evitamos um mal maior”.

Quando se refere ao que “sabe hoje”, Teixeira dos Santos fala, “acima de tudo, [d]a magnitude das perdas que estavam escondidas naquele banco, da dimensão das operações que o banco efetuou na altura e dos riscos a que se expôs por ter feito todo um conjunto de operações de alto risco sem ter as devidas coberturas”.

Operações que, recorda, “se traduziram em perdas muito significativas” - avaliadas por uma primeira auditoria em cerca de 700 milhões de euros, mas que vieram a escalar para “quase três vezes mais” - e que, após a nacionalização, acabaram por ter que ser assumidas pelo Estado.

A este facto somou-se o “prolongamento da crise”, que não só tem vindo a desvalorizar muitos dos ativos do BPN que transitaram para o Estado, como tem levado a que créditos dados como recuperáveis tenham entrado em incumprimento por dificuldades financeiras das empresas e particulares.

Assim, se Teixeira dos Santos assumia, em novembro de 2008, a preocupação de que os “eventuais custos” da nacionalização para os contribuintes fossem “mínimos”, o facto é que, ao longo dos últimos anos, o impacto nas contas públicas tem vindo a ser sucessivamente revisto em alta.

 

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