Os dois
locais em causa são o Centro de Detenção Everglades (conhecido como
“Alligator Alcatraz”) e o Centro de Processamento de Serviços Krome
North (“Krome”), mas, de acordo com a organização de defesa dos direitos
humanos, estas práticas não são exclusivas destes sítios. “As
condições que documentámos em “Alligator Alcatraz” e “Krome” não são
isoladas – pelo contrário, representam um sistema deliberado de
crueldade concebido para punir as pessoas que procuram construir uma
nova vida nos EUA”, afirmou a diretora de Direitos dos Refugiados e
Migrantes da Amnistia Internacional EUA, Amy Fischer. Segundo
o relatório da organização - intitulado “Tortura e desaparecimentos
forçados no Estado do Sol: violações dos direitos humanos no ‘Alligator
Alcatraz’ e em ‘Krome’, na Flórida” –, as práticas usadas nestes centros
equivalem, em alguns casos, a tortura, e mostram um clima cada vez mais
hostil face aos imigrantes. A investigação
concluiu que as pessoas detidas arbitrariamente em “Alligator Alcatraz”
vivem em condições desumanas e insalubres, incluindo com “sanitários a
transbordar com matéria fecal a infiltrar-se no local onde as pessoas
dormem, acesso limitado a chuveiros, exposição a insetos sem medidas de
proteção, luzes acesas 24 horas por dia, comida e água de má qualidade e
falta de privacidade – incluindo câmaras acima dos sanitários”. As
pessoas entrevistadas pela Amnistia Internacional revelaram que “o
acesso a cuidados médicos é inconsistente, inadequado ou totalmente
negado”, colocando os indivíduos em sério risco físico e mental. Os
entrevistados afirmaram também ter estado sempre algemados quando
permaneciam fora da sua cela e alguns detidos foram postos numa “caixa”,
uma estrutura semelhante a uma jaula de 60x60 cm, usada para punições,
que os deixou expostos a intempéries, quase sem água e com as mãos e os
pés presos a algemas no chão. “O ‘Alligator
Alcatraz’ opera fora da supervisão federal” e a ausência de mecanismos
de registo ou de vigilância facilita que o detido não consiga contactar
família ou advogados, “o que constitui um desaparecimento forçado”,
sublinhou a organização. “Estas condições
desprezíveis e repugnantes no ‘Alligator Alcatraz’ refletem um padrão de
negligência deliberada destinado a desumanizar e punir os detidos”,
criticou Amy Fischer. No centro de detenção
“Krome”, operado por uma empresa privada com fins lucrativos, a
investigação confirmou que, apesar de haver instalações médicas no
local, os detidos são alvo de “negligência médica grave, incluindo falta
de tratamento e avaliações”. Segundo a
Amnistia, as pessoas detidas em “Krome” confirmaram relatos anteriores
de violações dos direitos humanos, com histórias que denunciam
sobrelotação do espaço, confinamentos solitários prolongados e
arbitrários, falta de cuidados médicos adequados, sanitários a
transbordar, falta de acesso a chuveiros, luzes sempre acesas e ar
condicionado avariado. Os inquiridos
partilharam ainda histórias de violência e maus-tratos por parte dos
guardas, sendo que os próprios funcionários da Amnistia Internacional
testemunharam um guarda a bater violentamente a aba metálica de uma
porta de uma sala de confinamento solitário contra a mão ferida de um
homem. As conclusões do relatório hoje
apresentado decorrem de uma missão de investigação realizada pela
Amnistia Internacional em setembro passado e “confirmam um sistema
deliberado criado para punir, desumanizar e esconder o sofrimento das
pessoas detidas”, apontou a diretora regional da Amnistia Internacional
para as Américas, Ana Piquer. “A aplicação
da lei de imigração não pode funcionar fora do Estado de direito nem
isentar-se das normas de direitos humanos”, sublinhou, acrescentando que
o que está a acontecer na Flórida é alarmante. A
organização insta, por isso, as autoridades da Flórida a encerrarem
“Alligator Alcatraz” e proibirem qualquer detenção de imigrantes pelo
estado. A nível federal, os EUA devem
acabar com “a sua cruel máquina de detenção em massa de imigrantes,
parar a criminalização da migração e proibir o uso de instalações
estatais para custódia federal de imigrantes”, pede a Amnistia.
O governo dos EUA deve garantir também investigações a todas as mortes,
alegações de tortura sob custódia e outros abusos, e cumprir as normas
internacionais de direitos humanos. A
organização quer ainda que seja assegurado aos imigrantes acesso
confidencial a serviços de assistência jurídica e interpretação, que
sejam realizadas investigações transparentes e independentes sobre
tortura e negligência médica e estabelecida uma supervisão significativa
e independente de todas as instalações de detenção.
Migrações
Amnistia denuncia tortura em centros de detenção da Flórida
A Amnistia Internacional denunciou a prática de “tratamentos cruéis, desumanos e degradantes” de imigrantes em dois centros de detenção da Flórida, pedindo o seu encerramento e proibição de detenções de imigrantes por aquele estado norte-americano
Autor: Lusa/AO Online
