Açoriano Oriental
Açores já estão mais expostos a eventos extremos

A especialista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Fernanda Carvalho, disse que os Açores já estão mais expostos a eventos extremos, como a seca, a chuva intensa e o aumento da temperatura, devido às alterações climáticas.

Açores já estão mais expostos a eventos extremos

Autor: Lusa/AO Online

"Nós já estamos mais expostos a eventos extremos. Estamos, tenho afirmado isso, dentro de uma alteração climática. A atmosfera dos Açores não é a mesma que nós tínhamos no início dos anos 70, por exemplo", afirmou à Lusa Fernanda Carvalho.

A especialista falava na conferência "As alterações climáticas e o aumento de eventos extremos nos Açores', promovida pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade dos Açores, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.

Fernanda Carvalho salientou que os níveis de dióxido de carbono medidos na ilha Terceira mostram que os Açores apresentam os mesmos níveis de referência mundial, pelo que a região irá acompanhar as "tendências a nível global" ao nível da seca, chuva intensa e aumento da temperatura do ar.

"Vamos continuar a acompanhar as tendências a nível global: aumento da temperatura, diminuição da precipitação e aumento de fenómenos extremos", referiu.

Ao nível dos fenómenos extremos, a especialista dá o exemplo dos períodos de seca (número de dias consecutivos com precipitação inferior a um milímetro), de um maior número de dias com precipitação forte (superior a 20 milímetros) e o aumento de noites tropicais (noites com temperatura mínima de 20 graus Celsius).

"Pelo facto de a temperatura aumentar, em linguagem clara, a capacidade da atmosfera reter vapor de água é maior. Portanto, a quantidade de água que ela aguenta sem precipitar é maior, mas quando precipita o evento também é mais intenso", assinalou, para justificar o aumento dos períodos de seca e de precipitação intensa.

Fernanda Carvalho adiantou que entre a década de 70 e 2018 a temperatura nos Açores tem vindo aumentar 0,16 graus kelvin por década, um aumento "significativo", considerou.

Também ao longo deste período, a água do mar em Ponta Delgada registou uma tendência de subida de cerca de 3,80 milímetros.

"Uma coisa é certa, terá de haver um ajustamento, uma adaptação social e económica para as novas situações", assinalou.

A especialista do IPMA defendeu que o "ajustamento" às alterações do clima "partirá sempre de iniciativas políticas" que devem estar "de acordo" com os cientistas, não negando, contudo, o papel do cidadão comum, que deve ser "mais proativo" e optar por energias alternativas em detrimento de combustíveis fosseis.

No caso dos Açores, Fernanda Carvalho destacou a pesca e agricultura como dois setores que deverão sofrer "ajustes", optando por "diferentes tipos de cultura" ou por outras espécies.

"Se calhar um animal que consome muita água, possivelmente uma vaca com um porte tão grande, poderá ser substituída por uma vaca de porte mais pequeno e com menor consumo de água", exemplificou.


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