Autor: AO Online
Como foi o seu percurso académico e
profissional?
Fiz o meu
percurso formativo todo na região. No fim do 9º ano fui aliciado por um curso
de multimédia na escola profissional da Praia. Sabia que estava relacionado com
computadores e, portanto, meti-me de cabeça no curso, apesar de na altura os
cursos profissionais serem vistos como um recurso à formação normal e com
alguma desvalorização social. O conteúdo do curso e alguns professores que lá
passaram deram-me as bases necessárias para ficar apaixonado pelo audiovisual.
Depois do curso fiz estágio curricular na RTP-Açores e desde 2005 que colaboro
com a estação pública açoriana como freelancer. Pelo meio deste percurso
destaco a criação da produtora Media 9. Através da empresa desenvolvemos muitos
projetos como os Fala Quem Sabe, Festa Brava, Ler Açores, 5 Minutos de Cultura
e agora mais recentemente o Cultura Açores. Também produzimos muitos
documentários, vídeos institucionais e cobertura de eventos.
Como
surge a oportunidade de expor na Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da
Silva Ribeiro?
A
ideia de um dia fazer uma exposição com fotografias aéreas com esta temática da
geometria, surge com um amigo, o Manuel Martins que, através das redes sociais,
comenta a possibilidade de expor algumas das fotografias que então vinha a
publicar. As fotos tinham formações geométricas desconhecidas. E eram captadas
em diversos pontos da ilha Terceira e dos Açores. Mais tarde recebo um convite
por parte da Biblioteca Pública de Angra e ao início fiquei um pouco assustado.
Como
recebeu o desafio?
Nunca
expus o meu trabalho nos moldes tradicionais de exposição. Apesar do resultado
do meu trabalho diariamente ser divulgado nos órgãos de comunicação de massas.
Mas estas fotos eram imagens que tirava à margem dos trabalhos de vídeo que
estava a fazer. Não foram tiradas com o intuito de expor. E, portanto, estava
com algumas dúvidas que o material que tinha era suficientemente interessante
para imprimir e colocar numa parede. Os conteúdos de televisão são fugazes. São
emitidos e já passou (apesar de agora seja possível “passar pra trás”). Uma
foto impressa numa parede é quase eterna. Tem uma responsabilidade para o autor
muito maior. E, portanto, foi mesmo um desafio pra mim.
Em
que consiste esta exposição?
Desde
2014 que faço imagens com recurso a drones. Lá de cima conseguimos ter
perspetivas e noções do território bastante diferentes. Esta novidade visual
faz com que certos pormenores se destaquem, como por exemplo a forma das coisas
vistos do ar.
Que
experiência vivemos quando visitamos a mostra "Geometrias Vistas do Céu”?
Quis
que algumas fotos fossem “interativas” no ponto em que leva o visitante à
procura das formas. Existe uma foto aérea da cidade de Angra. A cidade
património é por si só uma fonte de geometria, pois as linhas das ruas direitas
que vão dar ao mar, cortadas pela retilínea Rua da Sé, cria blocos quadrados de
casario, que do ar se transformam em quadriculado. As formas depois vão desde
os telhados, das praças, até às pedras da calçada. Tudo numa só foto. Depois há
mais 10 para descortinar em formas geométricas. No fundo é olhar e descobrir
pormenores do nosso
território de uma perspetiva única.
Foi
um dos primeiros repórteres na ilha Terceira a filmar com recurso a um drone.
Que portas é que esta tecnologia lhe abriu?
Parece
cliché, mas a verdade é que, como um escritor conta uma história com letras,
que formam palavras. Eu no meu dia a dia tento contar histórias com imagens.
Para isso temos que ter ferramentas e criatividade suficiente para prender a
atenção de quem vê.
Os
drones além de serem apelativos pelo “pack tecnológico” que possuem,
conseguiram reunir características que levam à captação de imagens áreas
estáveis e com qualidade. Um dos maiores sonhos do homem é voar, ver o que os
pássaros veem e ter aquela sensação de liberdade. As imagens aéreas são uma
imagem deste sonho. E os drones são neste momento a forma mais lowcost de o
concretizar. Na minha área é neste momento uma ferramenta obrigatória em
qualquer produto audiovisual. Nos Açores acho que é ainda mais vantajoso ter um
drone. Arrisco dizer que a paisagem açoriana ganhou outra pujança com o
aparecimento destes aparelhos voadores não tripulados. A imagem aérea do ilhéu
de Vila Franca do Campo, por exemplo, é um exemplo disso.
Neste
momento, a instabilidade do drone só acontece se houver uma falha. Aí a força
da gravidade não perdoa e o problema da instabilidade fica resolvido por
natureza. Os drones possuem tecnologia suficiente para que a experiência de voo
seja a melhor possível. Podemos dizer que é relativamente fácil pilotar um
drone. É quase como jogar um jogo de computador, mas temos que ter em atenção
que o drone é um objeto real e que acarreta riscos. Mas a curva de
aprendizagem é bastante rápida e ao fim de algumas horas é possível meter o
bicho no ar e ter resultados visuais bastante satisfatórios e em segurança.
Quais
são os grandes desafios que estas "câmaras voadoras" acarretam?
Acho
que neste momento o grande desafio é o seu controlo. Não o controlar da máquina
em si, mas o controlo da disseminação desta tecnologia pelo ar. Vamos ao
supermercado e compramos um drone. Está ao acesso de qualquer pessoa e é muitas
vezes apelidado por brinquedo. É mais do que isso. Legalmente é uma aeronave
não pilotada. As responsabilidades do piloto de drone, em alguns casos é
equiparada ao nível dos pilotos de aviões. Portanto não pode ser usado com a
leviandade de um brinquedo. A legislação Europeia e Nacional tem vindo a
aumentar nos últimos tempos. Está cada vez mais exigente nas condições de
operacionalidade e na formação dos pilotos de drone.
Em
termos de licenciamento, o que precisa um drone para sobrevoar a ilha?
Tudo
depende do local da ilha. É numa cidade? Numa praia? Numa paisagem protegida?
Junto ao aeroporto? A resposta a essas perguntas definirá os passos a dar na
obtenção de algumas licenças/autorizações para voar o drone e captar imagens.
Alguns drones carecem de seguro de responsabilidade civil e o piloto tem que
ter frequentado formação adequada aos locais onde pretende voar. Já para não
falar que para captar e
divulgar imagens aéreas em Portugal é obrigatório, desde os anos 50, possuir
autorização da AAN (Autoridade Aeronáutica Nacional).
Com
o "boom" do vídeo, as imagens aéreas são cada vez mais requisitadas.
Dê-nos alguns exemplos onde o drone fez a diferença nos seus trabalhos.
As
imagens aéreas são um complemento valioso de qualquer produção audiovisual.
Documentários, vídeos institucionais, programas de Televisão, passando pelo
acompanhamento de provas desportivas (rali, triatlos, trail, regatas),
festivais de verão até o acompanhamento de obras de construção civil.
O
trabalho de um repórter de imagem começa finalmente a ser reconhecido? Ou ainda
é o "parente pobre" do jornalismo?