Açoriano Oriental
Luta Contra o Cancro
Universidade de Coimbra desenvolve nova arma
Uma nanotecnologia inteligente desenvolvida na Universidade de Coimbra, que está a ser patenteada nos Estados Unidos, abre uma nova esperança ao tratamento do cancro, pelo aumento da eficácia, e pela redução dos efeitos secundários dos fármacos utilizados.

Autor: Lusa/AOonline
Esta tecnologia, desenvolvida por quatro investigadores ligados à Faculdade de Farmácia e ao Centro de Neurociências, encontra-se já em fase de ensaios pre-clínicos, com animais. Em 2011 poderão iniciar-se os testes em humanos, se for possível renovar os financiamentos à investigação, até agora apoiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

    Trata-se de “um transportador” com um fármaco colocado no seu interior, que se vai dirigir especificamente para as células tumorais. Está a ser testado para o tratamento do cancro da mama, mas no futuro serão também avaliadas as suas capacidades para debelar outros tipos de tumores, que recorram à quimioterapia.

    “Conseguimos com a nossa tecnologia atacar um tumor em duas populações celulares diferentes - a célula tumoral, por um lado, mas também as células que revestem o vaso sanguíneo que alimenta o tumor”, ou seja, a “estrada” por onde o sangue passa para alimentar o tumor, explicou à agência Lusa o coordenador da investigação, João Nuno Moreira.

    O tratamento do cancro pela quimioterapia convencional comporta muitos efeitos adversos que, muitas vezes, obrigam ao abandono da terapêutica, pelo problema de toxicidade associado ao uso de fármacos extremamente potentes. A queda de cabelo e o risco de enfartes cardíacos são efeitos secundários frequentes desta terapêutica.

    O médico, ou reduz as doses, ou aumenta o período de administração. “A probabilidade de a terapia ter sucesso diminui drasticamente”, salienta o investigador.

    “A terapêutica convencional equivale muitas vezes à imagem de mergulharmos numa piscina de fármaco. O fármaco chega a todas as células do organismo. A via de administração escolhida é intravenosa. Onde chega o sangue chegam os efeitos adversos desse fármaco”, observa Sérgio Simões, outro dos investigadores do projecto.

    Esta nanotecnologia - segundo João Nuno Moreira - é como se fosse dotada de um sistema GPS, para que a chegada do fármaco ao tumor “se faça sem grandes enganos”, para evitar a acumulação em tecidos sãos, com graves efeitos secundários.

    “O nosso sistema, porque consegue encontrar a célula tumoral e também a célula dos capilares que alimentam esse tumor, por um lado, induz a morte da célula, mas também, ao destruir os vasos que alimentam o tumor, contribui para a sua erradicação, pois deixa de ter nutrientes”, acrescenta Sérgio Simões.

    Um dos aspectos inovadores desta nanotecnologia, desenvolvida desde 2005, é identificar as “portas” que apenas existem na célula tumoral e nas que rodeiam os vasos capilares, e em mais nenhumas outras, sãs, aumentando assim a segurança da utilização desses medicamentos.

    “Quando dirigimos o fármaco para aquelas portas já sabemos quais as populações que vão ser afectadas. Uma grande inovação foi descobrir as portas que existem naquelas duas populações celulares e em mais nenhuma. Assim sabemos que vai haver acumulação ali e, concretamente, morte na célula, explica Sérgio Simões.

    Ao aumentar a segurança - salienta João Nuno Moreira - “permite até aumentar a dose, aumentando a probabilidade de ter sucesso o tratamento”.

    O facto de o fármaco ser “melhor entregue” faz com que a sua actividade “aumente entre 4 a 180 vezes comparativamente àquilo que já existe comercializado no mercado”, refere, acrescentando que o tamanho desta nanotecnologia “não é problema”, pois é de 100 nanómetros, ou seja, cerca de 100 vezes mais pequena que uma célula tumoral, “quase do tamanho de um vírus”.

    Na sua perspectiva, “este é um exemplo prático da mais-valia que esta nanotecnologia pode representar” - o facto de entregar melhor o fármaco, aumenta também a segurança” do tratamento.

    Crentes na originalidade da investigação, de uma equipa que envolve ainda Conceição Pedroso de Lima e Vera Moura, e conta com colaboração em alguns testes do Instituto Português de Oncologia, a Universidade de Coimbra avançou com o processo de registo da patente nos Estados Unidos da América.

    “A nossa expectativa é grande”, confessa João Nuno Moreira, ao aludir à possibilidade de um dia poder ser utilizada no tratamento de uma doença que cada vez afecta mais a população. Agora são os ensaios com animais, no Centro de Neurociências de Coimbra. A partir de 2011 os testes em humanos, se conseguirem renovar os financiamentos e ampliar a equipa de investigadores.

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