Nada se soube com antecedência quanto à sentença do atentado mais sangrento da história recente de Espanha, que será divulgada numa sessão pública na sala especial onde se reuniu a Audiência Nacional - supremo tribunal espanhol - para a realização do julgamento, entre Fevereiro e Julho deste ano.
Estarão presentes os 28 acusados e os seus advogados, bem como vítimas e os seus familiares, para a leitura da sentença, pelo juiz Javier Gomez Bermudez.
No fim-de-semana, os 18 acusados em prisão preventiva foram transferidos para quatro cadeias de Madrid dos 11 estabelecimentos onde estavam detidos, para poderem estar presentes à leitura, marcada para as 10:00 (hora de Lisboa).
Gomez Bermudez conseguiu até agora evitar fugas de informação quanto às deliberações sobre a sentença.
Um dos acusados, o alegado ideólogo dos atentados, Rabei Osman El Sayed “O Egípcio”, conhecerá a sentença através de videoconferência, uma vez que, depois do julgamento de Madrid, regressou a Itália para acabar de cumprir uma condenação por pertencer a uma organização terrorista que lhe foi imposta neste país.
Hoje, o Tribunal de Apelação de Milão reduziu de oito para dez anos a pena que lhe fora imposta em primeira instância.
A sentença de quarta-feira deve dar resposta a várias interrogações surgidas durante os três anos de instrução do processo e os quatro meses e meio de julgamento.
O texto poderá esclarecer questões como a razão que levou os terroristas a cometer os atentados em Madrid, a possibilidade de a organização separatista basca ETA ter algo a ver com eles, o tipo de explosivos usado, o manejo das provas após os atentados ou as possíveis falhas das forças de segurança.
Segundo o juiz Juan del Olmo, que instruiu o processo, e a procuradoria, os acusados visitaram um "site" islâmico na Internet que exortava os “mujahedines” a actuar contra a Espanha devido à sua participação na guerra no Iraque e recomendava que fosse aproveitada a proximidade das eleições, que se realizaram três dias depois, a 14 de Março.
Sobre o envolvimento da ETA, cuja implicação é admitida por alguns órgãos de comunicação e sectores conservadores, afirmou-se na instrução que essa possibilidade não tinha qualquer consistência.
O tribunal interrogou contudo três etarras, detidos dias antes do 11 de Março quando transportavam para Madrid uma carrinha carregada de explosivos, que negaram qualquer relação com grupos radicais islâmicos.
Apenas o ex-director geral da polícia Agustin Diaz de Mera se referiu a um suposto relatório sobre as ligações da ETA com o massacre, mas a sua recusa em revelar quem lhe tinha falado isso levou o tribunal a acusá-lo de desobediência.
Quanto aos explosivos, os oito especialistas encarregados de elaborar um relatório definitivo sobre qual a substância que explodiu nos comboios concluíram que os terroristas utilizaram dinamite, mas não chegaram a acordo quanto à marca comercial.
Também a recolha, transferência e contagem dos elementos encontrados nos locais dos atentados levaram alguns advogados a colocar interrogações.
Algumas partes sugeriram que foram adulteradas provas e que não houve vigilância policial sobre elementos determinantes da investigação, como uma mochila armadilhada que não chegou a explodir ou os materiais encontrados num veículo utilizado pelos terroristas.
Finalmente, as declarações dos investigadores policiais durante o julgamento evidenciaram que existiu descoordenação entre as forças de segurança, pois vários dos alegados autores dos atentados estavam já identificados antes do massacre.
Sentença do atentado de 11 de Março divulgada quarta-feira
A Audiência Nacional espanhola anuncia quarta-feira, no meio de grande expectativa e fortes medidas de segurança, a sentença do julgamento pelos atentados de 11 de Março de 2004, em que morreram 191 pessoas e 1.841 ficaram feridas.
Autor: Lusa / AO online
