Autor: Lusa/AO Online
Os heterossexuais inquiridos pela equipa da Universidade do Minho coordenada por Conceição Nogueira, num projeto de investigação financiado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), revelaram discriminar pouco, "recusando emitir juízos discriminatórios no discurso", resume à Lusa João Oliveira, um dos investigadores.
Ao contrário, sublinha o psicólogo social, as pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros (LGBT) inquiridas num relatório paralelo e feito em simultâneo, dizem exatamente o contrário: são discriminadas.
"Em média, as pessoas já foram insultadas mais de três vezes por causa da sua orientação sexual", exemplifica o investigador em psicologia do género e psicologia feminista. Resumindo, os dados dos dois estudos estão em contradição: "O estudo ilustra um hiato entre o que as pessoas dizem e fazem".
A atitude preconceituosa decorre de alguns fatores - género, ideologia política, habilitações literárias, religiosidade - e diminui quando a pessoa em causa está mais em contacto com a diversidade.
"Na amostra percebe-se que os homens tendem a emitir mais juízos discriminatórios", diz.
Quando analisada a opinião face ao casamento, domina aquilo a que os investigadores chamam "heterossexismo tradicional" - que assenta na defesa da heterossexualidade "como a única maneira possível de viver a sexualidade", sintetiza.
No debate político sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo, recorda, muitas pessoas diziam ser contra o casamento, mas não homofóbicas. "Este estudo demonstra cabalmente que há uma associação direta entre estas duas atitudes", frisa João Oliveira.
Desdobrando a sigla LGBT, também há diferenças - os transgéneros são os mais discriminados, conclui o estudo. O que é confirmado até pelos heterossexuais, que "acham que é um dos grupos mais discriminados da sociedade portuguesa".
"Os indivíduos transgénero, para além de porem de alguma forma em causa as normas de orientação sexual (...), põem em causa o próprio sistema de género. A transexualidade continua a ser vista como uma doença, o que não se pode dizer da homossexualidade, em termos científicos", distingue.
Quanto mais uma pessoa se posiciona à esquerda, menor é o grau de preconceito: "Estávamos à espera, até porque noutros países se replica. Os setores mais à direita são habitualmente caraterizados por atitudes muito negativas em relação a pessoas LGBT".
A religiosidade também é um fator - há uma "muito maior taxa de heterossexismo tradicional nas pessoas que são religiosas praticantes", diz.
No âmbito do dia internacional contra a homofobia, realiza-se na segunda feira, no Centro de Informação Urbana de Lisboa, uma conferência dedicada ao tema “Contra a homofobia: identificar e combater a discriminação das pessoas LGBT em Portugal”. Estarão presentes a secretária de Estado da Igualdade, Elza Pais, a presidente da CIG, Sara Falcão Casaca, o deputado independente eleito pelo PS e antropólogo Miguel Vale de Almeida e representantes de associações que defendem os direitos de pessoas LGBT.