Autor: João Cordeiro
Uma mudança radical que resultou numa explosão de cor.
A exposição é composta por vinte e dois trabalhos em que o artista “brinca” com a cor e com a forma, provocando a sensação de movimento, que faz com que ao segundo olhar, em alguns quadros, os elementos pareçam já não se encontrar no mesmo sítio. Utilizando essencialmente formas geométricas básicas - triângulos, rectângulos e círculos - e aplicando camada de tinta após camada de tinta, João Decq consegue criar um impacto visual muito forte e atractivo. Nestes trabalhos, linhas rectas e rígidas convivem com manchas alegres e descontraídas, formando desde grelhas complexas a trabalhos quase minimalistas, onde o papel respira e deixa transparecer o seu branco natural, sem acção da cor.
O processo utilizado foi muito próximo da serigrafia e foram utilizadas tintas próprias desta técnica, havendo a intenção de criar dinâmicas com a alternação entre tintas transparentes e tintas opacas.
A própria disposição dos quadros na galeria não foi feita ao acaso e permite vislumbrar uma comunicação e uma espécie de intercâmbio entre alguns quadros.
João Decq assume que gosta principalmente de fazer experiências que causem impacto visual, afirmando mesmo que o seu trabalho é muito mais processual do que conceptual, e que portanto a técnica está em evidência, não havendo a preocupação de criar um suporte cognitivo nem uma organização de ideias.
Todos os trabalhos presentes nesta exposição foram criados exclusivamente para a galeria Fonseca Macedo. De qualquer forma, o artista vai continuar a trabalhar com o mesmo tipo de processos e de materiais, durante cerca de um ano e meio, e conta levar os trabalhos produzidos neste período a Lisboa e a Espanha, por onde já passou várias vezes.
Com um percurso académico longo e que foi “construído” em vários países, João Decq divide o seu tempo entre as aulas que dá na Escola Superior de Artes e Design, em Caldas da Rainha, o trabalho no atelier, em Lisboa, e o doutoramento na Universidade Politécnica de Valência.
Natural de Lisboa - pelo nascimento, uma vez que quase toda a família vive em São Miguel - o artista tem as suas raízes bem vivas na ilha, onde passou grande parte da sua infância e juventude, sendo obrigado a sair por várias vezes e por longos períodos de tempo, por ser filho de um militar. No entanto, a ligação nunca foi quebrada e João Decq faz questão de regressar, todos os anos, no Natal e no Verão, quando tem férias das aulas, e garante que a sensação é de quem “vai a casa”, porque é nestas alturas que reencontra os pais e os avós e que aproveita para visitar muita gente.
O que é que os visitantes da Galeria Fonseca Macedo vão poder ver nesta exposição?
Vão poder ver vinte e dois desenhos que representam a última fase do meu trabalho e o meu regresso à cor.
A fase anterior do seu trabalho era mais sombria, marcada pela utilização do preto. A passagem para um conjunto de trabalhos extremamente coloridos representa só uma mudança de técnica ou também uma mudança de estado de espírito?
A mudança de estado de espírito aconteceu, sem dúvida, mas eu não faço as coisas porque estou triste ou porque estou contente. A mudança não passa por aí, senão eu, provavelmente, em cada quadro estaria a mudar de técnica. Aconteceu uma saturação em termos de processo criativo: foram dois anos e meio a utilizar o carvão. A passagem para a cor passa pela inovação e por uma necessidade de trabalhar de maneira diferente. Como trabalho mais em termos processuais do que conceptuais, a minha produção é o resultado de muitas horas de atelier, não tanto de ter um conceito muito específico e muito pensado. Nos próximos dois anos e meio, mais ou menos, tal como foi com o carvão, vou estar a fazer isto.
Tem alguma cor preferida?
Não. Adoro todas as cores e não tenho medo de nenhuma delas. Apesar de nunca me vestir de verde, mas isso são pormenores. (riso) Todas as cores são importantes e uso-as todas. Estão todas disponíveis. A selecção das cores tem muito a ver com a própria técnica - utilização de tintas serigráficas -, e a selecção é feita de uma forma natural: é pela cor que os desenhos se resolvem. Portanto, se eu utilizo o cor-de-rosa é porque esta cor fica bem e resolve-me o quadro.
Já expôs várias vezes em Espanha. Como foram esses trabalhos recebidos pela crítica e pelo público?
Foram muito bem recebidos. O meu trabalho é normalmente bem aceite em Espanha, por razão histórica: os espanhóis gostam muito de artes gráficas. O próprio museu Reina Sofia tem um departamento que só cataloga um tipo de papel espanhol. Sempre que mostro trabalho lá consigo vender. Já tive feedback de pessoas que foram a Cáceres de propósito para ver e comprar trabalhos.
Como foi o seu percurso académico?
Fiz um curso de comunicação visual em Inglaterra e especializei-me em ilustração trabalhada com artes gráficas, daí a minha ligação às prensas. Entretanto, depois de começar a dar aulas, fiz mestrado e estou agora a meio do processo de doutoramento, na Universidade Politécnica de Valência, comunicação visual, pintura e intermédia.
Porquê a escolha do estrangeiro?
Numa primeira fase a escolha pelo estrangeiro prendeu-se com problemas que tive no ensino português, e esta era a minha última possibilidade de tirar um curso. Neste momento estou a continuar a minha formação em Espanha porque não existem doutoramentos em pintura em Portugal.
Tem uma formação extensa e contínua. A evolução académica influenciou a evolução na produção artística?
Sem dúvida! Principalmente em relação à especialização no doutoramento, que é mesmo isso: autorização, não só para investigar como para teorizar o processo de investigação. Isto é sempre uma maneira de amadurecer as nossas ideias, sobre o nosso trabalho, permitindo aprofundá-lo. Esta é outra das razões que me levaram para o estrangeiro: este doutoramento é teórico-prático.
Dá aulas por necessidade ou também lhe dá gozo?
Dá-me imenso gozo. Mas aulas são o meu emprego, não posso mudar isso, são o meu ganha-pão. Por um lado gostava de ter muito mais tempo para me dedicar ao atelier, só a fazer pintura, mas se tivesse essa hipótese nunca deixaria de dar aulas, porque gosto imenso de aulas de projecto e principalmente de meios de impressão.
Como é que avalia a produção artística dos Açores?
Eu tento seguir, mas estou relativamente fora. Como é óbvio, tenho muitos amigos por cá e conheço bem a evolução do trabalho deles. Nos Açores, penso que estamos bem servidos e temos bons artistas. Provavelmente, alguns têm que trabalhar mais e o mercado tem que os mostrar mais. Mas estamos pujantes: temos o Ruben Verdadeiro, a Maria José Cavaco, o André Almeida e Sousa, o Filipe Franco, que em termos de inovação e conceito é talvez o mais interessante e mais complexo, não só da sua geração mas de sempre. É tudo malta que considero nova, que pertence à geração abaixo ou acima da minha e na qual eu também me incluo.
Como surge a parceria com a Galeria Fonseca Macedo?
Foi um convite da Fátima Macedo, que surgiu na sequência do encerramento da galeria do Filipe Franco, na Lagoa, onde expus trabalhos produzidos na minha fase de finalista da universidade. E foi assim que começámos. Já lá vão uns aninhos.
A exposição é composta por vinte e dois trabalhos em que o artista “brinca” com a cor e com a forma, provocando a sensação de movimento, que faz com que ao segundo olhar, em alguns quadros, os elementos pareçam já não se encontrar no mesmo sítio. Utilizando essencialmente formas geométricas básicas - triângulos, rectângulos e círculos - e aplicando camada de tinta após camada de tinta, João Decq consegue criar um impacto visual muito forte e atractivo. Nestes trabalhos, linhas rectas e rígidas convivem com manchas alegres e descontraídas, formando desde grelhas complexas a trabalhos quase minimalistas, onde o papel respira e deixa transparecer o seu branco natural, sem acção da cor.
O processo utilizado foi muito próximo da serigrafia e foram utilizadas tintas próprias desta técnica, havendo a intenção de criar dinâmicas com a alternação entre tintas transparentes e tintas opacas.
A própria disposição dos quadros na galeria não foi feita ao acaso e permite vislumbrar uma comunicação e uma espécie de intercâmbio entre alguns quadros.
João Decq assume que gosta principalmente de fazer experiências que causem impacto visual, afirmando mesmo que o seu trabalho é muito mais processual do que conceptual, e que portanto a técnica está em evidência, não havendo a preocupação de criar um suporte cognitivo nem uma organização de ideias.
Todos os trabalhos presentes nesta exposição foram criados exclusivamente para a galeria Fonseca Macedo. De qualquer forma, o artista vai continuar a trabalhar com o mesmo tipo de processos e de materiais, durante cerca de um ano e meio, e conta levar os trabalhos produzidos neste período a Lisboa e a Espanha, por onde já passou várias vezes.
Com um percurso académico longo e que foi “construído” em vários países, João Decq divide o seu tempo entre as aulas que dá na Escola Superior de Artes e Design, em Caldas da Rainha, o trabalho no atelier, em Lisboa, e o doutoramento na Universidade Politécnica de Valência.
Natural de Lisboa - pelo nascimento, uma vez que quase toda a família vive em São Miguel - o artista tem as suas raízes bem vivas na ilha, onde passou grande parte da sua infância e juventude, sendo obrigado a sair por várias vezes e por longos períodos de tempo, por ser filho de um militar. No entanto, a ligação nunca foi quebrada e João Decq faz questão de regressar, todos os anos, no Natal e no Verão, quando tem férias das aulas, e garante que a sensação é de quem “vai a casa”, porque é nestas alturas que reencontra os pais e os avós e que aproveita para visitar muita gente.
O que é que os visitantes da Galeria Fonseca Macedo vão poder ver nesta exposição?
Vão poder ver vinte e dois desenhos que representam a última fase do meu trabalho e o meu regresso à cor.
A fase anterior do seu trabalho era mais sombria, marcada pela utilização do preto. A passagem para um conjunto de trabalhos extremamente coloridos representa só uma mudança de técnica ou também uma mudança de estado de espírito?
A mudança de estado de espírito aconteceu, sem dúvida, mas eu não faço as coisas porque estou triste ou porque estou contente. A mudança não passa por aí, senão eu, provavelmente, em cada quadro estaria a mudar de técnica. Aconteceu uma saturação em termos de processo criativo: foram dois anos e meio a utilizar o carvão. A passagem para a cor passa pela inovação e por uma necessidade de trabalhar de maneira diferente. Como trabalho mais em termos processuais do que conceptuais, a minha produção é o resultado de muitas horas de atelier, não tanto de ter um conceito muito específico e muito pensado. Nos próximos dois anos e meio, mais ou menos, tal como foi com o carvão, vou estar a fazer isto.
Tem alguma cor preferida?
Não. Adoro todas as cores e não tenho medo de nenhuma delas. Apesar de nunca me vestir de verde, mas isso são pormenores. (riso) Todas as cores são importantes e uso-as todas. Estão todas disponíveis. A selecção das cores tem muito a ver com a própria técnica - utilização de tintas serigráficas -, e a selecção é feita de uma forma natural: é pela cor que os desenhos se resolvem. Portanto, se eu utilizo o cor-de-rosa é porque esta cor fica bem e resolve-me o quadro.
Já expôs várias vezes em Espanha. Como foram esses trabalhos recebidos pela crítica e pelo público?
Foram muito bem recebidos. O meu trabalho é normalmente bem aceite em Espanha, por razão histórica: os espanhóis gostam muito de artes gráficas. O próprio museu Reina Sofia tem um departamento que só cataloga um tipo de papel espanhol. Sempre que mostro trabalho lá consigo vender. Já tive feedback de pessoas que foram a Cáceres de propósito para ver e comprar trabalhos.
Como foi o seu percurso académico?
Fiz um curso de comunicação visual em Inglaterra e especializei-me em ilustração trabalhada com artes gráficas, daí a minha ligação às prensas. Entretanto, depois de começar a dar aulas, fiz mestrado e estou agora a meio do processo de doutoramento, na Universidade Politécnica de Valência, comunicação visual, pintura e intermédia.
Porquê a escolha do estrangeiro?
Numa primeira fase a escolha pelo estrangeiro prendeu-se com problemas que tive no ensino português, e esta era a minha última possibilidade de tirar um curso. Neste momento estou a continuar a minha formação em Espanha porque não existem doutoramentos em pintura em Portugal.
Tem uma formação extensa e contínua. A evolução académica influenciou a evolução na produção artística?
Sem dúvida! Principalmente em relação à especialização no doutoramento, que é mesmo isso: autorização, não só para investigar como para teorizar o processo de investigação. Isto é sempre uma maneira de amadurecer as nossas ideias, sobre o nosso trabalho, permitindo aprofundá-lo. Esta é outra das razões que me levaram para o estrangeiro: este doutoramento é teórico-prático.
Dá aulas por necessidade ou também lhe dá gozo?
Dá-me imenso gozo. Mas aulas são o meu emprego, não posso mudar isso, são o meu ganha-pão. Por um lado gostava de ter muito mais tempo para me dedicar ao atelier, só a fazer pintura, mas se tivesse essa hipótese nunca deixaria de dar aulas, porque gosto imenso de aulas de projecto e principalmente de meios de impressão.
Como é que avalia a produção artística dos Açores?
Eu tento seguir, mas estou relativamente fora. Como é óbvio, tenho muitos amigos por cá e conheço bem a evolução do trabalho deles. Nos Açores, penso que estamos bem servidos e temos bons artistas. Provavelmente, alguns têm que trabalhar mais e o mercado tem que os mostrar mais. Mas estamos pujantes: temos o Ruben Verdadeiro, a Maria José Cavaco, o André Almeida e Sousa, o Filipe Franco, que em termos de inovação e conceito é talvez o mais interessante e mais complexo, não só da sua geração mas de sempre. É tudo malta que considero nova, que pertence à geração abaixo ou acima da minha e na qual eu também me incluo.
Como surge a parceria com a Galeria Fonseca Macedo?
Foi um convite da Fátima Macedo, que surgiu na sequência do encerramento da galeria do Filipe Franco, na Lagoa, onde expus trabalhos produzidos na minha fase de finalista da universidade. E foi assim que começámos. Já lá vão uns aninhos.