No DJing “Tem de haver um equilíbrio entre entreter e educar musicalmente”, diz DJ Souza

No ano em que assinala 10 anos de carreira, DJ Souza preparava uma digressão pela Ásia e América que foi cancelada devido à Covid-19. O aniversário foi assinalado “em casa”, no Auditório do Ramo Grande, num espetáculo que juntou a música ao vídeo e com lotação (limitada) esgotada.



Filipe Reis Sousa (DJ Souza) tem 27 anos e descreve-se como objetivo, responsável e otimista. “Tento ser extrovertido”, acrescenta o jovem terceirense que figura nas listas de DJs nacionais de renome.

Nasceu e cresceu na Praia da Vitória, na ilha Terceira, onde vive atualmente. Depois de completar o secundário mudou-se para Lisboa durante um ano antes de seguir rumo para Amesterdão, onde tirou o curso de Audio Engineering na SAE Institute e licenciatura em Audio Production através da Middlesex University.

-Quando foi que o DJing surgiu na sua vida?

Surgiu naturalmente penso eu, não nasci numa família de músicos, mas lembro-me de os meus pais desde sempre ouvirem muita música em casa e que, desde pequeno, de participar e estar envolvido em atividades relacionadas com música e festa, apesar de nunca ter tocado nenhum instrumento. Penso que tive uma boa educação cultural e então, mais tarde, acabou por vir esta vontade de, não só sentir, mas de transmitir emoções às pessoas através da música. Acabei por descobrir uma atração especial pela música eletrónica e a partir daí, fui atuando em pequenas festas, depois nos clubes e por fim, nos festivais.

-Quando foi que percebeu que a música podia ser o seu caminho?

Sempre tive consciência que o mundo das artes e dos espetáculos não é um mar de rosas e que não basta ter talento ou sorte, aliás, a sorte vai-se conquistando com o trabalho, portanto foi algo que fui interiorizando ao longo do tempo que, se realmente queria seguir este caminho, tinha de trabalhar cada vez mais e ir subindo um degrau de cada vez. Sentir o carinho do público e o respeito do meio musical ajudou também a perceber isso.

-Como é que o DJing é vivido e reconhecido nos Açores?

Sinceramente, não temos uma forte cultura de música eletrónica ou de DJs nos Açores, trata-se de um nicho de mercado de pessoas que realmente apreciam a arte, temos sim uma forte cultura de festa e há uma diferença grande nisto, sendo que muitas vezes as pessoas não estão a apreciar o que o DJ está a fazer, mas simplesmente a divertirem-se, mas não há nada de errado nisso. Da mesma forma que num concerto temos o público que está só à espera de cantar o refrão como temos o público que está atento ao riff do guitarrista ou ao solo do baterista. Tem de haver um equilíbrio entre entreter e educar as pessoas musicalmente.

-Quais foram os espetáculos mais marcantes na sua carreira?

Puder viajar, conhecer novos sítios e novas pessoas, enquanto faço aquilo que mais gosto, que no fundo é divertir-me e fazer com que os outros se divirtam é por si só marcante, algo que me faz querer sempre atingir outros patamares e ultrapassar os objetivos que defini para mim próprio. É difícil escolher um momento em concreto, visto que me senti realizado em muitas ocasiões, mas se tivesse que escolher um, talvez a atuação no RFM Somnii dado o impacto que teve. Trata-se de um festival de música na praia da Figueira da Foz, considerado o maior sunset de música eletrónica do mundo. Nesse dia atuei ao lado de DJs mundialmente consagrados, como foi o caso do Tiesto. Outro momento que ficou marcado, foi quando atuei à meia noite da passagem de ano na cidade de Coimbra para mais de 50.000 pessoas.

-Países onde já tocou?

Holanda, Espanha, Canadá, Estados Unidos e este ano seria a estreia em Singapura e em Myanmar.

-Prémios e menções que já constam do seu percurso de 10 anos?

- Medalha de mérito de valor cultural pelo Município da Praia da Vitória, em 2014;
- TOP DJs e Produtores pelo Club DJ Portugal, em 2016;
- #16 do TOP 30 de DJs de PORTUGAL pela 100% DJ, estando presente desde 2016 - Trending Artist em blogs internacionais como Dancing Astronaut, EDM Tunes, Electro WOW pelo lançamento do single “The Summer Vibe”, em 2016

-Como se caraterizava a digressão que estava a preparar para assinalar os 10 anos de carreira?

Infelizmente a pandemia obrigou ao cancelamento da tour inteira que estava a ser preparada desde o ano passado, como forma de celebrar os 10 anos de carreira enquanto DJ. Estava a preparar algo muito giro, com atuações um pouco por todo o país e, pela primeira vez, uma digressão por todas as 9 ilhas dos Açores, algo que nunca alcancei numa só digressão. Quem sabe em 2021?!

-Como foi perceber que estava cancelada?

Quando foi decretado o estado de emergência em Portugal, no dia 18 de março, eu estava na Ásia. Encontrava-me de férias com a minha namorada na Tailândia e dois dias depois ia atuar nuns clubes internacionais nas cidades de Yangon e de Mandalay em Myanmar e logo a seguir tinha outra atuação em Singapura. Foi uma aventura, tivemos de regressar de imediato para Portugal devido aos países começarem a fechar fronteiras. Seria a minha primeira vez no Sudeste Asiático e estava muito contente com esta conquista. Um retorno aos Estados Unidos e Canadá, perto dos nossos emigrantes, também estava na mira para este ano. Para além das atuações, fui obrigado a adiar o lançamento do meu novo single com data marcada para Maio, era algo que não me sentia bem em fazê-lo, visto que se trata de um tema de festa, seria insensato o lançar perante estes tempos de insegurança e incerteza. Penso que as pessoas não se iriam ligar com o tema. Será lançado ainda este ano, quem sabe.

-Como preparou o espetáculo no Auditório do Ramo Grande?

Há já algum tempo que tinha em mente fazer algo diferente e apresentar-me num espaço fora do habitual, daquele que é uma pista de dança. A situação atual acabou por me obrigar a reinventar o meu espetáculo mais cedo do que esperava, tornando-se um desafio e um grande estimulo para mim. Neste espetáculo estou em palco a controlar tanto o áudio como o vídeo em simultâneo, através de um ecrã de leds, de forma a estimular a parte visual de quem está no público. Foi uma viagem pela música eletrónica e por outros géneros musicais que me inspiraram ao longos destes 10 anos como DJ.

-Como foi o espetáculo e a adesão do público numa altura tão peculiar?

Penso que correu bem e superou sem dúvida as minhas expetativas, a nível técnico tivemos as condições todas e mais algumas para fazer algo muito interessante e, claro, foi também graças ao público, que aderiu e que foi ver um espetáculo fora do habitual, que deu a motivação para continuar com o projeto e apresentar no futuro em mais salas pela região e pelo país fora.

-Que balanço faz destes 10 anos de carreira?

Acima de tudo, nunca imaginei receber o carinho e o reconhecimento das pessoas desta forma intensa. Há a expressão “santos da casa não fazem milagres”, sinceramente eu nunca senti isto na pele, apesar de ter demorado o seu tempo, eu sinto que acabei por conquistar o meu espaço não só dentro do sector da música eletrónica, mas também na região. Foi um percurso marcado por muitos objetivos realizados, algumas desilusões (faz parte) sucessos e insucessos, mas onde a persistência e a consistência foram os fatores determinantes neste caminho que percorri.


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