Autor: Lusa/AO Online
“Tenho obrigação de acompanhar a implementação das recomendações feitas no relatório, mas não temos recursos humanos e financeiros para o efeito. Não faço esse trabalho de acompanhamento com a segurança que gostaria de fazer”, afirmou Fernando Alves, admitindo que só assume que estão a ser cumpridas as normas.
Fernando Alves foi ouvido hoje à tarde na comissão de inquérito do parlamento açoriano ao transporte marítimo de passageiros e infraestruturas portuárias, que decorre em Ponta Delgada para avaliar os investimentos nos portos do Faial, Pico e S. Jorge, a compra de barcos novos para o transporte de passageiros entre estas ilhas e as responsabilidades políticas relacionadas com dois acidentes ocorridos em 2014 em portos do Pico, num dos quais morreu uma pessoa.
O relatório de investigação do Gabinete de Prevenção e de Investigação de Acidentes Marítimos (GPIAM) ao acidente mortal ocorrido em novembro de 2014 num barco da Transmaçor concluiu que houve falta de manutenção dos cabeços de amarração do porto e formulou um conjunto de recomendações à Transmaçor e à empresa pública Portos dos Açores, nomeadamente a verificação de todos os cabeços.
O relatório refere que a "causa direta" da quebra do cabeço foi um "esforço pontual e significativo da tração dos cabos do navio sobre o cabeço", devido a uma "solicitação brusca induzida ao navio pela ondulação que se fazia sentir ao longo do cais".
O Fernando Alves reiterou que “foi a própria Portos dos Açores que afirmou que não fazia manutenção sistemática e regular aos cabeços” e que, segundo a “observação visual” feita, “os cabeços estavam em muito mau estado”, existindo “sinais de ferrugem e moças”.
“Tem de haver fiscalização periódica e uma reparação qualquer. Num carro de x em x quilómetros muda-se o óleo para o manter a funcionar corretamente. Para os cabeços isso também tem de se aplicar”, sustentou o engenheiro de armamento, reconhecendo, porém, que desconhece como se faz essa manutenção dos cabeços.
O "posicionamento incorreto" dos cabeços, a exposição à ondulação dos navios no cais de S. Roque, a utilização pelo barco "Gilberto Mariano" de cabos exageradamente sobredimensionados e a "metodologia" que tem de ser adotada pelos navios ferry para atracar à rampa 'ro-ro' são outros dos fatores apontados no relatório do GPIAM e que terão contribuído para o acidente mortal.
Segundo disse o responsável pelo GPIAM, o investigador do relatório identificou seis fatores contributivos para o acidente, “mas pode haver mais”, sendo que a metodologia de trabalho usada obriga a fazer recomendações e não a responsabilizar ninguém.
“O objetivo de nosso trabalho não é responsabilizar ninguém. Posso trabalhar por exclusão de partes. A fratura estava lá e era visível. Se (o cabeço que rebentou) tinha pré fratura só um laboratório específico o poderá dizer” disse Fernando Alves, acrescentando que a Transmaçor e a Portos dos Açores receberam o relatório de investigação antes da publicação, para efeitos de contraditório.
O engenheiro de armamento adiantou que o cabeço que originou a morte de uma pessoa foi o quinto a rebentar nos portos das ilhas do Pico e Faial num mesmo período, “o que não é muito normal”, pelo que deveria ter motivado uma fiscalização.