Açoriano Oriental
Eduardo Gageiro quer deixar o seu espólio "em boas mãos"
O espólio do fotógrafo Eduardo Gageiro reúne 140 mil negativos, 50 mil slides, uma colecção de duzentas máquinas fotográficas antigas e 1.800 fotografias, entre outros documentos históricos portugueses dos últimos 60 anos.
Eduardo Gageiro quer deixar o seu espólio "em boas mãos"

Autor: Lusa/AOonline
Grande referência do fotojornalismo português, galardoado com trezentos prémios nacionais e internacionais, aos 73 anos continua activo, a expor as suas fotografias em Portugal e no estrangeiro, mas gostaria de deixar o espólio de uma vida "em boas mãos".

    Gageiro fez alguns contactos com a Câmara Municipal de Lisboa (CML), mas nada está ainda decidido: "Eu gostaria de vender uma parte do espólio e doar outras. Sei que a câmara não tem dinheiro, mas poderia encontrar um mecenas", sugeriu.

    Depois de ter passado por um período difícil, debilitado pela doença, dedicou-se a um novo projecto - o livro "Silêncios" - que o levou a rever o arquivo fotográfico pessoal e a reunir duzentas fotografias, as primeiras tiradas em 1955, em Sacavém, onde nasceu, e as mais recentes captadas ainda este ano.

    "Fui deixando muitas fotografias nos jornais por onde passei - desde "O Século Ilustrado" ao "Diário de Notícias" - mas tenho comigo 140 mil negativos que gostava de deixar a uma entidade que os pudesse preservar", disse à Agência Lusa.

    São da sua autoria centenas de fotografias históricas do 25 de Abril de 1974, quando acompanhou, em Lisboa, o encontro dos militares no Terreiro do Paço, o assalto à sede da PIDE, e o momento em que o capitão Salgueiro Maia percebeu que a revolução triunfara.

    "Salgueiro Maia ofereceu-me os papéis com os planos da revolução, com uma dedicatória", recordou, como exemplo de um dos documentos históricos em sua posse.

    Viajou por todo o mundo onde assistiu e imortalizou em imagens outros momentos históricos mais trágicos, como a tomada de reféns nos Jogos Olímpicos de Munique: "Também para os fotógrafos é preciso ter sorte. Estar no momento certo no lugar certo, e aproveitar a oportunidade", comentou.

    Durante a já longa carreira, também juntou duas centenas de máquinas fotográficas, muitas delas raridades: "Na República Checa comprei o primeiro modelo da Leica, também tenho a primeira máquina de espionagem - a Minox - que foi feita na Letónia, em Riga, e outras máquinas raras, algumas feitas em madeira".

    Ao contrário da maioria das pessoas, que aprecia belas imagens tiradas por bons fotógrafos, Eduardo Gageiro foi adquirindo retratos de fotógrafos.

    Reuniu 1.800 fotografias de grandes fotógrafos portugueses, sobretudo retratistas, desde o final do século XIX até 1950, altura em que parou.

    "Um coleccionador francês quis comprar-me por 100 mil contos na altura, mas eu não vendi porque percebi que ele depois iria vender a colecção ao retalho", recordou.

    Eduardo Gageiro lança quinta-feira, na Mãe d’Água das Amoreiras, o livro "Silêncios", com duzentas fotografias, na sua maioria inéditas, seleccionadas nesse vasto arquivo.
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