Açoriano Oriental
"Distinguir esta vivência mantendo a integridade das tradições que são possíveis", diz Cláudia Meneses

A nutricionista terceirense Cláudia Meneses ofereceu aos leitores do Açoriano Oriental Online algumas sugestões para viver este Natal marcado pela Pandemia em equilíbrio alimentar.

"Distinguir esta vivência mantendo a integridade das tradições que são possíveis", diz Cláudia Meneses

Autor: Tatiana Ourique / Açoriano Oriental

A alimentação na nossa vida é inquestionavelmente marcada pelo tempo. Seja pelas refeições preparadas pelos nossos avós durante a infância, pelas estações do ano, pelas festividades ou pela hora do dia, o tempo influencia a nossa alimentação.

O decorrer do tempo em 2020, para além da mudança das estações, foi marcado sobretudo pela evolução da pandemia e associado a uma acumulação de restrições, recomendações e obrigações, em prol de um controlo que ainda não tem uma perspetiva segura e definitiva de quando irá acontecer. Sem que houvesse grandes dúvidas sobre esta hipótese, as mudanças de rotina de compras e de horários de trabalho, o stresse vivido associado a alterações do apetite e o receio com a situação económica influenciaram os hábitos alimentares de muitos portugueses (estudo REACT-COVID).

Chegado o mês de dezembro, o sentimento e carisma distintos associados à época de Natal são desvanecidos pelo receio da propagação do vírus e pela incerteza no futuro e, como quase tudo neste ano, o Natal também será vivido de forma diferente e mais penosa para muitos de nós. Impondo-se a necessidade de limite de contactos e afetos, este Natal torna-se incompatível com as nossas memórias e resta-nos distinguir esta vivência mantendo a integridade das tradições que são possíveis, como o que preenche a nossa mesa e alimenta a nossa alma.

A alimentação no natal adquire um significado especial no seio de cada família, em que muitas vezes são preparadas receitas exclusivas desta época. Independentemente das variantes das receitas em cada mesa e do contexto atual, as refeições destes dias sabem a muito mais para além do sabor e são para aproveitar com todo o prazer e sem restrições. É o sentido estrito da expressão “um dia não são dias”, e aplica-se exclusivamente nos dias 24, 25, 31 de dezembro e 1 de janeiro.

Contudo, é fundamental equilibrar com as restantes refeições nesta época, sem lugar para extremismos ou obsessões. Tal significa que menosprezar o contributo destas refeições na acumulação calórica não é a solução correta, assim como adotar dietas com restrições desmedidas.

Sobre as questões relacionadas com o peso ou “dietas” no natal, é importante que sejam interpretadas de forma realista e verdadeiramente holística em relação ao que corresponde às nossas necessidades, sempre com a perspetiva de que se trata de um processo continuo.

Neste propósito de equilíbrio entre as vivências do natal, os efeitos da pandemia e alimentação, seguem-se alguns conselhos:

- Compre os ingredientes para a consoada no comércio local. Opte por produtos frescos e de origem local/regional, como as couves, as batatas, o polvo, os ovos, etc. que além de serem mais nutritivos e saborosos, também contribui para a economia local.

- Disponha sobre a mesa uma taça de tangerinas regionais (as “mexeriqueiras”). Este fruto enquanto opção para alternar com as restantes sobremesas, irá contribuir para aumentar a saciedade, mas também fará sucesso pelo seu aroma tão característico no natal dos Açores.

- Selecione e prepare apenas as receitas que maior significado acrescentam ao seu Natal. Evite todas aquelas receitas pouco características que faz noutras ocasiões do ano.

- Não modifique as receitas que caracterizam esta época com o objetivo de as tornar mais light. Respeite as tradições, as memórias e os sabores de Natal.

- Compre os ingredientes e prepare a quantidade adequada para o número de pessoas que estarão à mesa naquele dia e apenas para os dias celebrados (24 e 25, 31 e 1). Lembre-se que com tanta variedade, os convivas irão servir-se de porções menores. Caso sobrem alimentos, congele para utilizar noutra altura ou distribua entre os restantes familiares, de forma a evitar que se repitam e fiquem à disposição durante toda a época festiva.

- Tenha sempre a água, infusão ou chá enquanto opção de bebida. Mesmo que não seja a bebida de eleição para acompanhar a refeição, são uma ótima alternativa para intercalar entre sobremesas e confortar durante aqueles dias.

- Disponha sobre a mesa uma taça de nozes com casa. Estes frutos são uma excelente opção de snack ao longo da noite de consoada, e vão entretê-lo/a a descascar, desacelerando o seu consumo quando comparado às nozes já descascadas.

- Retome a rotina das refeições equilibradas entre o dia 26 e 31 de dezembro e a partir do dia 2 de janeiro. Sem prejuízo do prazer de comer, os dias que se seguem ao natal e ano novo devem cortar com os excessos e regularizar a ingestão dos alimentos que ficaram mais “esquecidos” nos dias principais. Facilite o período pós-festa e tenha disponíveis os ingredientes necessários para que no dia seguinte possa preparar uma sopa de legumes e uma refeição equilibrada de confeção simples.

- Aproveite os dias de descanso que se seguem ao natal e ano novo para fazer algum exercício físico. Lembre-se que qualquer forma de exercício será sempre melhor do que ficar sentado no sofá.

Lembre-se, o Natal e ano novo são apenas 4 dias no ano. Em condições tão atípicas, permita-se a vivê-los da melhor forma possível, a aceitar o conforto das refeições e a ser flexível consigo próprio/a, com consciência e com bom-senso.


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