Açoriano Oriental
Covid-19: Portugueses no Luxemburgo preparam-se para férias na terra mesmo com receios

Os portugueses no Luxemburgo mostram-se preocupados com os riscos da pandemia e temem dificuldades no regresso ao trabalho, mas muitos não abdicam das férias no país de origem.


Autor: AO Online/ Lusa

Segundo o fundador da CASA - Centro de Apoio Social e Associativo, na capital luxemburguesa, uma das mais antigas instituições de apoio à comunidade portuguesa no Luxemburgo, cerca de 80% dos portugueses que vivem e trabalham no Grão-Ducado virá de férias a Portugal este ano.

"Todos estão entusiasmados de partirem de férias e tenho a certeza de que 70% a 80% da comunidade portuguesa residente no Luxemburgo preferem ir para Portugal, embora a situação ainda não esteja normal", afirmou José Trindade em declarações à Lusa.

Na opinião do dirigente associativo, muitos dos portugueses que vivem no Grão-Ducado do Luxemburgo, já teriam vindo na Páscoa, como habitualmente, mas a pandemia não os deixou, e agora que as fronteiras terrestres abriram não perderão a oportunidade.

Quanto ao meio de transporte que irão usar para a viagem de férias, José Trindade não tem dúvidas “60% irá optar pelo carro”.

“As viagens de avião aumentaram bastante, esta é uma crise que toca a todas as pessoas e estou convencido que a maioria (...) irão optar por ocupar os seus carros, porque têm filhos, e para uma família com quatro cinco pessoas, naturalmente que fica muito mais caro ir de avião", disse.

Além disso, para aqueles cujo destino em Portugal não fica perto dos aeroportos de Lisboa, Porto ou Faro também é mais barato ir de carro, porque terão de alugar viatura no país de origem para chegarem a casa e, em período de férias os alugueres "são dispendiosos", explicou.

Segundo José Trindade, "muitos já partiram" rumo às férias, mas "a maioria irá no fim deste mês e até meados de setembro, porque aqui a construção nunca fecha”, sublinhou.

Sem quantificar, também a vice-presidente da CCPL - Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo, Catarina Salgueiro Maia disse que mesmo num contexto de pandemia "muitos vão de férias a Portugal. Porque vivem sozinhos e tem toda a sua família no país de origem ou porque têm assuntos para tratar em Portugal que ficaram suspensos durante a pandemia" ou porque se sentem seguros e vão.

Mas "muitos vão ficar cá por precaução", porque as "coisas ainda não estão propriamente estáveis", adiantou a filha do capitão de Abril, Salgueiro Maia, lembrando que mesmo no Luxemburgo, o número de casos de infeção por Covid-19 voltou a aumentar nos últimos dias.

O seu caso é um exemplo. Catarina o marido e três filhos não virão este ano de férias a Portugal. "Para nos protegermos a nós e às nossas famílias que estão em Portugal", pessoas já com uma idade avançada.

Como ela "muito portugueses preferem não arriscar e abdicar de três semanas com a família em prol da saúde".

Mas os receios não se resumem ao contágio da família. Segundo Catarina, “o grande receio é (…) se os casos disparam outra vez e a fronteira volta a fechar. Ou se, os casos em Portugal dispararem e o Luxemburgo obriga a uma quarentena de 14 dias no regresso ao país. (...) As pessoas estão a pensar muito assim", frisou.

Por isso, há muita gente que ainda nem decidiu “porque estão à espera dos últimos números”, para optarem por ir ou não ir a Portugal ver a família.

Para alguns, no entanto, mesmo sem pandemia a viagem de férias será também uma viagem sem retorno ao grão-ducado, pelo menos por nos próximos tempos, segundo os representantes das duas instituições de apoio à comunidade portuguesa no Luxemburgo.

"Aqui ainda existe muito o trabalho temporário, e há muita gente que vive do trabalho temporário, normalmente são contratos renovados todas as semanas ou todos os meses e, com esta situação da pandemia, esses contratos não foram renovados”, explicou Catarina Salgueiro Maia.

De acordo com a dirigente, “há empresas que estão sem grande estabilidade, principalmente as penas empresas, apesar de o Estado ter ajudado imenso. E sinto que há muita gente que vê o trabalho mais tremido e possivelmente não volta".

"Há uma pequena percentagem (...) que veio e está a trabalhar nas empresas de trabalho temporário”, confirmou José Trindade, apontando cerca de 8 a 9 por cento da comunidade portuguesa.

Muitos já voltaram, logo que tiveram possibilidade de ir para Portugal, porque as empresas fecharam no Luxemburgo. Outros poderão partir agora e não voltar, reconheceu José Trindade.

Dos 602 mil habitantes que o Luxemburgo contabilizava em 2018, 72.821 (12,1%) eram portugueses.

A pandemia da covid-19 causou 110 mortos e cerca de 4.500 infeções no Luxemburgo. Em Portugal, há 43.569 infetados e 1.605 mortos resultantes do coronavírus.



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