Trata-se de um volume de ensaios do guionista Antonio Altarriba, intitulado “El Loto Rosa” (Edicions de Ponent) em que este retoma a vida de Tintim - personagem criada em 1929 por Georges Remi (1907-1983), Hergé - 12 anos depois da morte do autor.
Na história, Tintim já tem 30 anos, vida sexual e todo o seu universo sofreu uma reviravolta vertiginosa: o capitão Haddock caiu definitivamente no alcoolismo, o professor Tournesol foi internado num hospital psiquiátrico e Milú, o seu inseparável Fox Terrier branco, morreu.
Além disso, teve de “reciclar” a sua profissão de repórter, tornando-se “paparazzo”.
A obra, publicada no ano passado como uma homenagem a Hergé, no centenário do seu nascimento, reúne cinco ensaios em que se analisa a fundo a personagem, desde a sua história aos recursos narrativos das suas aventuras (ilustrados por Ricard Castells e Hernández Landazábal) e termina, então, com um relato em que Altarriba imagina a vida adulta do rapaz.
“Tornou-se maior e é céptico em relação à sua existência. É um Tintim mais maduro, actual e moderno. Cresceu e manteve relações sexuais”, declarou Altarriba, citado pelo diário espanhol El País.
Esta foi a forma escolhida pelo guionista para abordar duas questões que sempre foram subtraídas à personagem: “A ausência da passagem do tempo - Tintim é sempre adolescente - e a abolição da presença feminina - nas suas aventuras nunca há mulheres”, indicou.
O Tintim de Altarriba “já não é o herói luminoso e solar da sua juventude. É crepuscular, sofreu derrotas e vê que as coisas são difíceis”, sublinhou o ensaísta.
“É como se tivesse aterrado numa realidade mais dura, na qual não triunfam os ideais da sua juventude, mas o dinheiro”, acrescentou.
Esta revisão da personagem num registo adulto não agradou nada à Moulinsart, a sociedade que reúne os herdeiros de Hergé, cujos advogados contactaram em Fevereiro deste ano as Edicions de Ponent para tentar impedir a distribuição do livro, que teve uma tiragem inicial de 1.500 exemplares, pretendendo que a cadeia de lojas FNAC deixasse de vendê-lo.
A editora conseguiu impedi-los, mas em Maio os herdeiros voltaram a insistir, argumentando que, apesar de não haver “crime”, o livro representava uma “perversão” da personagem.
Finalmente, os advogados de ambas as partes assinaram um acordo nos termos do qual a editora se compromete a não reeditar a obra.
Altarriba lamenta que o estrito controlo dos herdeiros impeça que qualquer autor possa rever a personagem.
Segundo o ensaísta, a medida da Moulinsart suscita um debate importante, porque se situa no limite entre “o exercício de um direito legítimo de propriedade intelectual e a censura, na altura de definir o que se pode ou não dizer sobre uma personagem”.
Livros
Censurada obra sobre Tintim por "perverter essência da personagem"
Os herdeiros de Hergé, autor da banda desenhada “Tintim”, censuraram um livro em que o repórter se inicia no sexo e trabalha como “paparazzo”, por “perverter a essência da personagem”, obrigando a editora a não o reeditar.
Autor: Lusa/AO online
