Autor: AO Online
Tânia Fagundes nasceu na freguesia da Agualva, na Praia da Vitória, há 37 anos.
Licenciou-se em farmácia pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa
e exerce funções na Farmácia do Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira
desde 2004. A infância num meio rural, aliada aos ensinamentos da mãe,
permitiram que aprendesse a arte de costurar desde criança: “lembro-me da minha
mãe me ensinar a fazer renda, bainhas, malha e tentou- sem sucesso- ensinar-me
a bordar. A máquina de costura sempre esteve lá em casa e eu curiosa como sou,
rapidamente aprendi a trabalhar com ela. Também cheguei a fazer uns trabalhos
muito interessantes em ponto de cruz e técnica do guardanapo alguns anos mais
tarde”, avançou Tânia Fagundes.
Depois de abdicar de um “part-time” que exerceu durante 10 anos, numa viagem a Sevilha com uma amiga em 2017 Tânia percebeu, numa montra de uma retrosaria espanhola, que o seu dinheiro extra podia vir do artesanato: “Havia naquela montra algo peculiar devido ao material que tinham utilizado, que fazia lembrar uma carteira de senhora em forma de meia-lua a expor uns emblemas. Achei piada, até tirei uma foto.” Agora, que tinha mais tempo livre, Tânia descobriu uma forma de fazê-lo render: “Tive de imediato uma visão empreendedora do produto! Como se não bastassem essas razões todas ainda houve outra que foi crucial. Era o facto de eu possuir conhecimentos e máquina de costura, tudo heranças da minha mãe.”
E assim nasceu a Abanica, em novembro de 2017.
A primeira Abanica faz parte da coleção particular da artesã: “A primeira foi
para mim! Foi toda uma descoberta num registo que eu considero mais
tradicional; menos original se calhar, mais colado à versão que tinha visto em
Espanha. É preta com uns emblemas em tons de vermelho e prateado, tem um sapato
de salto alto, uns corações e umas letras “OMG” e levou várias horas a fazer.”
Depois veio o momento de apresentar a primeira Abanica e Tânia preferiu jogar pelo seguro. Se queria uma opinião sincera tinha que começar pelas amigas. “Todas as minhas amigas a quem mostrei acharam super gira. Adoraram a peça, mas sobretudo o conceito e a possibilidade de “criarem” elas próprias um design exclusivo!”
Depois da aprovação começavam as encomendas e os parceiros. Até hoje a
artesã terceirense já produziu 480 Abanicas. Ainda não conseguiu aumentar a sua
coleção particular porque não tem tido mãos a medir com respostas a encomendas.
As Abanicas também já saíram dos limites geográficos da ilha e já estão
disponíveis no posto de Turismo da Madalena, na ilha do Pico e a lista de
parceiros- essa- vai crescendo a cada mês: “Clube de Golfe da Ilha Terceira,
Posto de Turismo da Madalena, Boutique Requinte, Loja Vidal, A Minha Casa e
mais recentemente na Azorbus.”
Tânia admite que o foco é o formato de leque identitário das malas mas que,
consoante as encomendas, já se aventurou noutros acessórios: “Tenho tentado
inovar ao máximo, não só na criação de outros formatos (que representam uma
pequena percentagem dos pedidos que tenho) e de outros produtos como brincos
para combinar com Abanicas específicas, mas sobretudo na criação da minha
marca, do meu estilo e da minha identidade! Passa muito pela utilização de
tecidos, criar combinações harmoniosas de cores e texturas. O meu objetivo é
criar uma peça que seja a extensão da pessoa que o adquire e que a complete a
100%, que se identifiquem e que se apaixonem pela sua Abanica!”, avança a
recente artesã.
As peças muito requisitadas neste verão (especialmente para jantares de gala e
casamentos) são feitas dos mais diversos materiais. “Peças de decoração/têxtil
de cozinha, tapeçaria, acessórios de cortinados, rendas, conchas, flores,
tecidos, emblemas (os famosos patches que estão muito na moda), também faço reciclagem
de alguns materiais.” Tânia garante que a imaginação não tem limites para
satisfazer as mulheres sofisticadas que queiram uma peça personalizada. Exemplo
disso foi a encomenda de Diana que é bombeira voluntária e queria uma Abanica
com essa sua missão representada. Tânia assumiu ter precisado de algumas
semanas de inspiração, mas garante que a alegria da cliente ao entregar a peça
compensou o esforço: “foi indescritível. Não há dinheiro que pague o êxtase, a
surpresa e a emoção misturado num só rosto. Senti que tinha acertado em cheio,
é uma sensação ótima!”
Prestes a completar um ano desde aquele 15 de setembro em Sevilha e 10 meses depois do início da atividade de artesã, a terceirense está na fase de registo da marca e diz que até esse processo está a ser mais simples do que esperava. A maior dificuldade de ser artesã é mesmo a compra dos materiais que muitas vezes são inexistentes na ilha e têm que ser comprados online.
Cada Abanica tem o custo de 25 euros e o seu tempo de produção é bastante
variável: “Se for um modelo que eu já tenha feito antes consigo acelerar
bastante o processo, levando aí entre uma a duas horas. Se for um modelo
completamente novo em que tenho que experimentar tudo ou algo muito
específico/especial posso até levar meses”.
Apesar da inspiração espanhola, o modelo de Abanica mais requisitado é bem
açoriano “tem estampado as fachadas, impérios e igrejas dos Açores. Trata-se de
um tecido colorido, apelativo, contemporâneo e que para além de ser uma peça
muito bonita ainda tem um significado afetivo.”
Em 10 meses a vida de Tânia mudou completamente mas apesar do sucesso da marca
a técnica de farmácia garante que não tem ilusões e sente que dedicar-se ao artesanato
a tempo inteiro será sempre uma ideia utópica.