Açoriano Oriental
Arte dos "presépios de lapinha" da ilha de S. Miguel está em expansão
Artesãos locais mantêm viva a tradição dos "presépios de lapinha" (conchas de lapas, musgos e flores secas), típicos da ilha de São Miguel, uma arte em expansão que tem cada vez mais interessados e tem vindo a inovar.
Arte dos "presépios de lapinha" da ilha de S. Miguel está em expansão

Autor: Ana Cristina Pereira - Agência Lusa

 

“Ter um presépio de lapinha é um orgulho de todo o micaelense. É genuíno de São Miguel”, afirmou à Lusa a artesã Maria da Paixão Resendes, residente na Povoação, nos Açores, onde tem de uma loja de artesanato.

Apaixonada por presépios, que coleciona, Maria Resendes não se dedica em exclusivo a esta peça de artesanato e também faz os tradicionais Registos do Santo Cristo, mas garante que a crise não tem tido grande impacto nas vendas das "lapinhas", uma peça que "dura uma vida inteira" e passa de "geração para geração".

“Nota-se diferença, mas há sempre quem compre”, frisa, garantindo que as lapinhas são também muito apreciadas no continente, pelos emigrantes e turistas e "há também cada vez mais interessados em aprender a arte", até porque a crise potencia a procura de "outros rendimentos".

Flores em croché, secas ou artificiais, cascas de lapas, conchas, búzios, galhos secos e papel conferem um colorido aos tradicionais presépios de lapinha da ilha de São Miguel de onde sobressaem também coloridas figuras de barro.

Das mãos de Maria Resendes já saíram este ano sete presépios destes, mas é pelo Natal que "tem geralmente mais encomendas".

"Isto é um vício", confessou à Lusa a artesã.

Quanto aos materiais, vai buscá-los de "propósito" à praia e a quantidade de peças "varia consoante o pedido dos clientes".

Os preços podem variar entre os 50 euros de um presépio mais simples e os 500 de um mais completo.

Habituada desde sempre a fazer presépios de lapinha, a artesã decidiu há cerca de um ano e meio fazer uma formação também nesta arte, tanto mais que já começam a surgir peças "mais inovadoras" a pedido dos clientes que se adaptam "melhor às casas atuais" ou mesmo "a um apartamento ou um móvel mais moderno".

A manjedoura é sempre uma concha de lapa e reza também a tradição que os presépios tenham a representação da Sagrada Familia, mas com o passar dos anos este é também um produto que tem inovado consoante os pedidos dos clientes.

“A parte central é a gruta e o presépio. O resto serão as vivências e tradições [de S. Miguel]: a matança do porco, as procissões, as bandas de música, os romeiros...”, indicou.

Maria de Deus, formadora, mas que também faz lapinhas, contou à Lusa que no passado "os presépios eram mais simples, apenas com as imagens tradicionais: a sagrada família, os reis magos, o anjinho, os pastores".

Atualmente, já se põem mais coisas: o casamento, o padre à porta da igreja, a matança do porco, as bandas de música, a procissão do Santo Cristo, mas tudo depende do tamanho da lapinha”, descreveu.

A arte dos presépios de lapinha "chegou a estar muito tempo adormecida", como referiu Maria de Deus, mas "desde há cinco a seis anos tem registado um grande incremento".

“Todas as pessoas querem ter um presépio de lapinha”, assegura, descrevendo com orgulho o presépio que “herdou dos avós”.

Antigamente as “lapinhas” estavam expostas todo o ano, em cima das cómodas dos quartos, mas atualmente são também uma peça decorativa.

As primeiras referências aos presépios de lapinha datam do século XVI e, segundo Maria da Paixão Resendes, no século XVII surgiram os primeiros presépios deste género elaborados pelas freiras, que usavam o que tinham à mão.

O presépio de lapinha é o 14.º produto a integrar a lista da marca Açores, depois de ter sido publicada esta semana a portaria do Governo Regional que o certifica como produto da marca coletiva de origem “Artesanato dos Açores".

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