Açoriano Oriental
Algumas empresas dão apoios extraordinários aos trabalhadores

Num contexto de subida constante das taxas de inflação, vários países começaram a tomar medidas para limitar o impacto da subida dos preços nos rendimentos dos cidadãos, sendo também já algumas as empresas que anunciaram apoios extraordinários aos trabalhadores.

Algumas empresas dão apoios extraordinários aos trabalhadores

Autor: Lusa /AO Online

Os apoios públicos dados pelos vários governos vão desde a diminuição das taxas de impostos, nomeadamente na eletricidade e no gás, a descontos nos combustíveis e transportes públicos ou a transferências diretas de dinheiro para os cidadãos. Em Portugal, os apoios às famílias ascendem a um total de 2.400 milhões de euros.

Quanto às empresas, algumas – a nível nacional e internacional - têm também vindo a anunciar apoios excecionais aos seus trabalhadores, com o objetivo de aliviar o esforço financeiro numa altura em que, em Portugal, a inflação atingiu 10,2% em outubro, o valor mais alto desde maio de 1992.

*** Associação dos Viticultores Profissionais do Douro (Prodouro) ***

Em 14 de outubro, a Associação dos Viticultores Profissionais do Douro (Prodouro) veio propor o alargamento às empresas privadas da possibilidade de atribuir aos trabalhadores um apoio extraordinário, como o decretado pelo Governo, “igualmente” isento de IRS e Segurança Social.

“Nós inspiramo-nos nesse bom exemplo que o Governo deu e o que vamos fazer é apresentar uma proposta no sentido de estender esse apoio às empresas. Permitir que as empresas privadas possam remunerar os seus trabalhadores, de uma forma excecional, até ao máximo de um salário, isento de tributações”, afirmou à agência Lusa Rui Soares, presidente da Prodouro.

A associação conta com um total de 96 associados, entre viticultores independentes, produtores-engarrafadores e adegas cooperativas, abrangendo 5.075 hectares de vinha.

Em concreto, a Prodouro propõe ao Governo que dê a “possibilidade às empresas privadas de poderem, até 20 de dezembro, processar um apoio salarial de reposição de rendimento, até ao valor de um salário mensal, nas mesmas condições fiscais dos apoios excecionais anunciados pelo Governo, em que isentou o apoio de 125 euros e o complemento das pensões, de retenção na fonte, de subida de escalão em sede de IRS e de contribuição para Segurança Social".

Segundo Rui Soares, algumas das empresas auscultadas pela Prodouro “acharam a ideia muito boa”: “O ‘feedback’ foi muito positivo. Acharam uma ótima ideia poderem dar um apoio aos seus colaboradores que chega efetivamente ao bolso dos trabalhadores”, frisou.

*** Bankinter ***

No passado dia 03 de outubro, a sucursal do banco espanhol Bankinter em Portugal avançou com um conjunto de apoios, como a subida do subsídio de alimentação e o pagamento do passe social aos seus trabalhadores.

“Perante o contexto económico atual, e especificamente em relação aos seus colaboradores, o Bankinter preparou um conjunto de apoios específicos, procurando atenuar o impacto da subida generalizada de preços, sendo o pagamento integral do passe social ou o incremento do subsídio de almoço (em 3,5 euros por dia, para 14 euros) exemplos das medidas extraordinárias já implementadas para um período inicial de seis meses, com reavaliação a ser feita no final desse tempo”, avançou à agência Lusa fonte oficial do banco.

Por outro lado, “foi implementado nas áreas centrais um dia de ‘home office’ [teletrabalho], com vantagem de contribuir para a redução de 20% nos custos de deslocação e impactos positivos também ao nível de sustentabilidade”, de acordo com o banco.

A instituição destacou que, no âmbito de medidas de sustentabilidade, “tem vindo a implementar a substituição da sua frota automóvel por viaturas elétricas e híbridas tendo recentemente revisto os ‘plafonds’ de combustíveis ou energia elétrica atribuídos aos colaboradores com funções comerciais, no âmbito deste contexto de elevados preços energéticos”, disse o Bankinter.

O banco realçou que “mantém o compromisso de proximidade com os seus clientes e com os seus colaboradores com o objetivo de avaliar de forma contínua as medidas que sejam oportunas implementar em função da evolução macroeconómica e social”.

*** Santander Totta ***

Numa nota interna enviada aos colaboradores do banco - assinada pelo presidente da Comissão Executiva, Pedro Castro e Almeida, e por Sara da Fonseca, da Gestão de Pessoas, e a que a Lusa teve acesso no passado dia 13 de outubro – o Santander informou que os trabalhadores com vencimento até 30 mil euros anuais iriam receber nesse mês um "pagamento extraordinário e suplementar" de 750 euros, no âmbito de medidas aprovadas pelo banco para fazer face ao aumento dos preços.

Na nota, o Santander diz que “tem vindo a acompanhar a evolução da situação económica no país e no mundo, com natural preocupação” e que está consciente de que “o aumento da inflação e do custo da energia estão a ter impacto no orçamento familiar de muitos” dos colaboradores.

Assim, o Santander decidiu “aprovar algumas medidas de apoio financeiro para ajudar a minimizar esse impacto”, focando a ajuda nos “colaboradores com salário mais baixo, através do pagamento de um valor único em detrimento de uma percentagem, para que este apoio seja mais relevante”.

Além deste pagamento, o Santander decidiu dar a possibilidade em 2023 de todos os colaboradores anteciparem até 50% do subsídio de Natal.

O banco aumentou ainda o limite de crédito disponível para os trabalhadores para 200 mil euros, em novas operações de crédito, e alargou o acesso a outras medidas como a comparticipação do passe social em 50% ou o apoio a propinas no valor de 310 euros por ano por filho ou enteado.

O Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) e o Sindicato Independente da Banca (SIB) congratularam-se com estes apoios, mas defenderam que devem ser “muito mais abrangentes”.

No entender dos sindicatos, o anunciado “pagamento extraordinário e suplementar” de 750 euros “deveria abranger todos os trabalhadores” e não apenas os “cerca de 51%” contemplados na sua versão atual, que se dirige apenas aos funcionários com vencimento até 30 mil euros anuais.

Por sua vez, “o alargamento do limite do crédito à habitação ACT até 200 mil euros deveria também abranger os créditos em curso” e “deveria ser contemplada a possibilidade de transferir créditos hipotecários para o ‘plafond’ do crédito à habitação”.

Adicionalmente, os sindicatos reclamam que “a taxa de juro aplicada à aquisição de habitação própria permanente (HPP) deveria ser também protegida face à evolução da taxa de juro do BCE [Banco Central Europeu] e as subsequentes implicações nos valores da Euribor”.

No comunicado então divulgado, o SNQTB e o SIB afirmam também esperar “que os demais bancos apliquem as medidas de mitigação dos efeitos da inflação e do aumento do custo de vida propostas” pelos dois sindicatos.

*** Mitsubishi Fuso Truck Europe (MFTE) ***

Em setembro, segundo noticiou o jornal ECO, os cerca de 500 trabalhadores da fábrica de camiões Mitsubishi Fuso Truck Europe (MFTE), instalada em Tramagal (Abrantes), receberam um pagamento extraordinário de 400 euros.

“Realizámos um pagamento extraordinário de 400 euros, que incluiu todos os funcionários e mesmo os estagiários”, revelou ao jornal o presidente executivo da fábrica, o alemão Arne Barden.

Detida pela Daimler Trucks, a empresa - localizada a 150 quilómetros de Lisboa – disse pretender assim “ajustar os salários de forma inteligente”, porque “não se pode andar a espalhar o dinheiro de qualquer maneira”.

Com uma faturação superior a 206 milhões de euros em 2021, a MFTE reclama a liderança mundial no mercado de pesados e engloba sete marcas: Mercedes-Benz, FUSO, Setra, BharatBenz, Freightliner, Western Star e Thomas Built Buses.

*** Autoeuropa ***

A Autoeuropa não anunciou qualquer apoio aos seus colaboradores, mas a Comissão de Trabalhadores (CT) da fabricante automóvel exigiu, em 21 de outubro, um aumento extraordinário de 5% em dezembro, com retroativos desde julho, que permita recuperar o poder de compra perdido.

“Consideramos que se trata de uma proposta justa para dar resposta àquilo que foi o contexto da negociação, e que na realidade se veio a verificar, no que diz respeito à subida da inflação", disse o coordenador da CT da Autoeuropa, Rogério Nogueira, à agência Lusa.

“A empresa tem todas as condições para fazer um aumento salarial extraordinário, pois o volume de produção [em 2022] vai certamente ser muito acima do que estava inicialmente previsto. E esse feito deve-se aos trabalhadores, que merecem ser compensados", defendeu o representante dos trabalhadores da fábrica de automóveis da Volkswagen em Palmela, no distrito de Setúbal.

Além do aumento extraordinário de 5% em dezembro, a proposta apresentada pela CT à administração da empresa reclama também uma atualização salarial de mais 2% a partir de janeiro de 2023, tal como está previsto no Acordo Empresa (AE).

De acordo com a proposta, esta atualização salarial de 2% deverá ser ainda acrescida da taxa de inflação verificada este ano, descontando os 5% do aumento extraordinário que a CT da Autoeuropa pretende que seja paga já em dezembro próximo.

*** Airbus ***

A Airbus anunciou o pagamento, em novembro, de um bónus aos funcionários em todo o mundo para compensar a subida da inflação, sendo o valor de 1.500 euros brutos na Alemanha, França, Espanha e Reino Unido, onde tem o grupo tem maior presença industrial.

Fontes do fabricante aeronáutico europeu avançaram no passado dia 25 de outubro à agência espanhola EFE que o prémio será pago aos 120.000 funcionários da Airbus em todo o mundo, mas, nos restantes países, o valor não será o mesmo, sendo calculado em percentagem da base salarial média local.

Também contemplados serão os jovens trabalhadores que alternam formação e estágio na empresa, sendo o objetivo ajudar a compensar, no curto prazo, o efeito da inflação na perda de poder de compra dos trabalhadores.

O prémio a atribuir não altera os processos de negociação salarial realizados em cada país. Em França, por exemplo, foi assinado em março passado um acordo que prevê um aumento de 6,8% para o conjunto dos anos 2022-2023 e que será revisto em março do próximo ano.

O custo da medida, cerca de 200 milhões de euros, será refletido nas contas da Airbus.


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