Açoriano Oriental
Acordo ortográfico desbloqueado
 Os efeitos não serão imediatos - mas a disposição recentemente anunciada pelo governo português de aprovar até ao final do ano o Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa poderá ter desfeito algumas dúvidas, atenuado reticências, dissipado mesmo suspeições de "bloqueio".

Autor: Lusa/AOonline

 O processo, de um momento para o outro, parece ter ganho um novo ímpeto. Segundo o chefe da diplomacia portuguesa, Luís Amado, disposição idêntica à de Portugal foi entretanto manifestada por Angola, Moçambique e Guiné-Bissau: os três comprometeram-se a ratificar "rapidamente" o Acordo e o Protocolo Modificativo. Falta agora converter "rapidamente" em medida de tempo...

    A pergunta tem sido e continuará a ser feita: quando todo o processo - legal e diplomático - estiver concluído, quantos mais anos serão necessários para que todos os países falantes de Português o escrevam da mesma maneira?

    Malaca Casteleiro, um linguista na primeira linha da defesa do Acordo, disse à Lusa que, entrando o documento em vigor, será necessário um período de adaptação "que não deve ser inferior a quatro anos, para permitir as alterações em dicionários, manuais escolares e para a aprendizagem das alterações ortográficas".

    Quatro anos em Portugal, o Brasil não deverá levar mais tempo a consegui-lo, mas quantos anos em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau,São Tomé e Príncipe ou em Timor-Leste, que não solicitou ainda a adesão ao Acordo?

    O futuro - o que é dizer também a real vontade política dos intervenientes - o dirá.

    Pretende-se com o Acordo "a unidade da Língua" - na escrita e só na escrita, naturalmente. Acreditam os especialistas, e não apenas eles, que, unificada, a Língua portuguesa terá outra força, ganhará em "poder de afirmação" nas instâncias internacionais.

    Para que a unidade se efective há cedências a fazer de um lado e do outro do Atlântico. Quem cede mais?

    Os especialistas deitaram-se ao estudo e fizeram balanços: as modificações propostas no Acordo devem alterar 1,6 por cento do vocabulário de Portugal.

    Os portugueses deixarão, por exemplo, de escrever "húmido" para usar a nova ortografia - "úmido".

    Desaparecem também da actual grafia em Portugal o "c" e o "p" nas palavras em que estas letras não são pronunciadas, como em "acção", "acto", "baptismo" e "óptimo".

    Diz Malaca Casteleiro que as alterações a introduzir, "importantes para unificar e dar força" à língua portuguesa, "não são dramáticas, não vão assustar as pessoas".

    No Brasil, a mudança será menor, porquanto apenas 0,45 por cento das palavras terão a escrita alterada.

    O trema utilizado pelos brasileiros desaparece completamente e ao hífen acontece o mesmo quando o segundo elemento da palavra comece com "s" ou "r", casos em que estas consoantes devem ser dobradas, como em "antirreligioso" e "contrarregra".

    Apenas quando os prefixos terminam em "r" se mantém o hífen. Exemplos: hiper-realista, super-resistente.

    O acento circunflexo sai também de cena nas paroxítonas (palavras com acento tónico na penúltima sílaba) terminadas em "o" duplo ("vôo" e "enjôo"), usado na ortografia do Brasil, mas não na de Portugal, e da terceira pessoa do presente do indicativo ou do conjuntivo de "crer", "ler", "dar", "ver" e os seus derivados. Passará a escrever-se: creem, leem, deem e veem.

    No Brasil, o acento agudo deixará de usar-se nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas como "assembleia" e "ideia".

    Com a incorporação do "k", "w" e "y", o alfabeto deixará de ter 23 letras para ter 26.

   
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