Autor: Rafael Dutra
Não é desconhecido a este tipo de cerimónias, mas mesmo assim como é que se sente em receber este reconhecimento com a atribuição do título de Doutor Honoris Causa pela Universidade dos Açores?
Sinto-me evidentemente muito honrado. O próprio título é demonstrativo disso porque, no fundo, releva uma dimensão de honra que é reconhecida no homenageado e o que eu tenho de sentir e sinto profundamente é honra que me é atribuída pela Universidade dos Açores.
Depois, porque se trata
da Universidade dos Açores, sinto uma responsabilidade acrescida, pela
minha grande relação aos Açores, nomeadamente também pela minha relação
com a Universidade dos Açores, onde já tive ocasião de intervir várias
vezes ao longo da minha vida. Há aqui um lado afetivo também, que não me
deixa de tocar profundamente.
Sobretudo é isso e, evidentemente, o
orgulho que é o facto de sentir que me é atribuído algum mérito aquilo
que ao longo da vida tenho feito, sobretudo no domínio das Humanidades,
visto que é exatamente em Humanidades que vou ser doutorado em Honoris
Causa pela Universidade do Açores.
Digamos que é um conjunto de sentimentos que convergem todos para o mesmo ponto: da honra que sinto, do orgulho que sinto e da felicidade que me é transmitida por esta decisão da Universidade dos Açores.
Como referiu desloca-se frequentemente aos Açores, no âmbito académico para conferências e palestras, por exemplo, muitas delas dinamizadas pela academia açoriana. Como é que tem visto a evolução desta instituição de ensino superior ao longo dos anos?
Eu tenho acompanhado tanto quanto isso é possível, visto que agora estou bastante mais distanciado. Mas, tenho sentido que a Universidade dos Açores vai fazendo o seu caminho. Faz um caminho que não é fácil de fazer, porque, no fim de contas, está longe do centro de decisão. Mas, relativamente a esta matéria, em termos mais globais, no quadro geral do Ensino Superior e das universidades, (...) o caminho que é feito parece-me ser extremamente positivo.
Há um aspeto também que julgo que é muito importante, que é o reconhecimento que dentro da Região Autónoma é dado à Universidade dos Açores. A universidade é um grande elo de ligação e deve ser desenvolvido esse elo entre todas as ilhas. E, de certo modo, a universidade é um instrumento fundamental para a consolidação da ideia da Região e, nesse aspeto, também a Universidade dos Açores tem feito um caminho muito interessante, através da tripolaridade e, eventualmente, na perspetiva futura de uma multipolaridade em que possa estar instalada em mais espaços físicos do arquipélago. Quanto mais isso acontecer mais a Região encontra nela, na universidade, no conhecimento, na cultura, um espaço de ligação entre as várias ilhas.
Portanto, há muitos aspetos, relativamente aos quais nós podemos valorizar muito positivamente o que tem sido o percurso da Universidade dos Açores, com as dificuldades naturais que todos reconhecem porque elas são naturais, justamente por isso. Mas, mesmo assim, conseguindo ter ganho de causa que me parece ser particularmente significativo, que repousa muito na qualidade das pessoas que a servem, na forma como é dirigida, no conjunto de responsáveis pela sua gestão.
E, julgo também, e aqui não posso ir mais longe, visto como digo, estou afastado fisicamente, mas julgo que há um respeito e uma consideração por parte dos órgãos institucionais da Região Autónoma dos Açores, quanto à importância por um lado e ao valor por outro da Universidade dos Açores.
Perfil
ÁLVARO LABORINHO LÚCIO
Mestre em Ciências Jurídico-Civilísticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e magistrado de carreira, Álvaro Laborinho Lúcio é atualmente juiz-conselheiro jubilado do Supremo Tribunal de Justiça.
De janeiro de 1990 a abril de 1996, exerceu, sucessivamente, as funções de secretário de Estado da Administração Judiciária, ministro da Justiça e deputado à Assembleia da República.
Entre março de 2003 e março de 2006 ocupou o cargo de ministro da República para a Região Autónoma dos Açores, durante a presidência de Cavaco Silva. É ainda autor de livros como ‘O Julgamento - Uma Narrativa Crítica da Justiça’, ‘O Homem que Escrevia Azulejos’, o ‘O Beco da Liberdade’ e ‘O Chamador’.
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